Há um mês sob medidas restritivas de circulação, o bairro de Beiru/Tancredo Neves, bem no miolo de Salvador, apresentou muitas revelações de casos de covid-19. Em 3 de junho, quando iniciaram os bloqueios na região, havia por lá 159 pessoas infectadas. Nesta última segunda-feira (6), já eram 660 casos no bairro, segundo dados do boletim epidemiológico da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), um aumento de mais de 315%. Devido a isto, a prefeitura decidiu renovar pela quinta semana o isolamento forçado no bairro.
O prefeito ACM Neto disse, em coletiva de imprensa nesta quarta-feira (8), que este é o recorde de permanência das ações da administração municipal em uma área da cidade. De acordo com o gestor, os testes rápidos feitos diariamente pela prefeitura revelaram que mais de 35% dos exames deram positivo para a doença. “É um índice altíssimo”, avaliou.
“Nenhum bairro ficou tanto tempo sob as medidas de apoio e proteção à vida. Eu faço um apelo aos moradores para que, por favor, tenham consciência porque a situação nessa comunidade continua séria”, continuou Neto.
Com exceção de mercados, farmácias e outros estabelecimentos considerados essenciais, todo o comércio do bairro, independente de tamanho, foi fechado, inclusive ambulantes e feirantes.
A prefeitura diz que só terá condições de flexibilizar essa e outras medidas quando a comunidade apresentar uma redução no número de casos positivos. Do total de infectados até agora, 315 casos já são considerados recuperados, o que aponta que mais da metade das pessoas ainda estão com o vírus ativo.
Moradora do bairro e presidenta da Associação de Mulheres Unidas do Beirú (Amunib), a técnica em enfermagem Nadjane Purificação faz uma retrospectiva deste mês de ações por lá. Para ela, o início foi bastante positivo para proteger a comunidade contra o vírus, mas as queixas de pequenos comerciantes logo começaram a aparecer.
Segundo ela, aqueles que tinham a partir de dois funcionários já não conseguem mais se manter ou estão em situação difícil. Ela também notou que muitos estabelecimentos já estão com placa de aluga-se porque não os microempresários não conseguiram continuar pagando o aluguel do espaço.
“Claro, existe o lado positivo de conseguir diminuir o índice de casos. Com as medidas, quem tem consciência do que é a doença, obedeceu, ficou em casa, mas por outro lado, ainda há muita gente na rua e tem essa dificuldade para os comerciantes”, diz.
O CORREIO percorreu algumas ruas do bairro nesta quarta-feira e pode observar que havia pouca gente na rua e raras pessoas estavam sem máscara. A feira livre estava desativada e havia maior número de pessoas apenas na fila da lotérica.
A presidenta da associação ainda observa que o prolongamento da quarentena em Salvador fez com que as pessoas descobrissem outras formas do lazer que costumavam desfrutar. Com a proibição das festas e o fechamento de bares, a galera passou a socializar ainda mais nas portas de casa, reunindo-se com duas a três pessoas, às vezes sem máscaras, para poder tomar cerveja.
“Estão buscando outros meios de diversão. Os lugares que não tinham bares agora viram uma oportunidade e há casas com caixas de vendas de bebidas. Ou seja, quem não pode ir para o bar, compra na esquina”, relata.
Para conter esses tipos de ocorrências, a Amunib tem feito conscientização local espalhando informações de prevenção pelo WhatsApp, pedindo para que o pessoal evite sair de casa e, se sair, que use máscara e álcool em gel ou água e sabão.
Secretário de saúde do município, Léo Prates relatou ao CORREIO que, com a testagem, descobriu-se um circulação viral alta em Beiru, o que preocupou a secretaria.
“Se a taxa de crescimento está alta é porque grande parte da população não está respeitando o isolamento social ou não tem condições de fazer, que é o que eu sempre chamei atenção. Às vezes, a residência tem 30 ou 40 metros e tem oito ou nove pessoas morando”, exemplifica.
A região de Beiru possui cerca de 50 mil habitantes e é um dos 163 bairros oficiais da capital baiana. Conforme o boletim de segunda-feira, a quantidade de casos por lá só fica atrás de outros nove locais: Plataforma (1.219), Brotas (1.195), Pernambués (973), Itapuã (844), Fazenda Grande do Retiro (840), Cabula (734), Liberdade (706), São Marcos (702) e Federação (690). (Correios)