Uma jovem bonita, bem arrumada, entrou num salão de beleza na Pituba, especializado em extensão capilar. Até aí, nada demais. A então cliente fez um dos procedimentos mais caros, colocando 300 gramas de cabelos humanos, um serviço que custou R$ 7.200. Porém, com a mesma plenitude que chegou, ela saiu do local sem pagar nada, depois de alegar que iria somente ao banheiro. O furto aconteceu no último sábado (31).
A proprietária do salão, Josi Lima, aponta como a autora do furto uma jovem que aparece nas imagens das câmeras usando calça e bolsa pretas e uma blusa creme. “Isso nunca aconteceu comigo. Ela entrou super tranquila, não tinha perfil nenhum, nada, nada que me deixasse a mim e aos meus funcionários desconfiados. Foi realmente algo inesperado para nós”, declarou a empresária, que usou o perfil do Instagram do salão para denunciar o crime. Ela pretendia registrar ocorrência ainda na segunda-feira (2) na 16ª Delegacia (Pituba).
Nos últimos 12 meses, 100 casos de furtos e roubos comunicados à Associação Baiana de Salões de Beleza (Abasbe). As ocorrências estão relacionadas à subtração de insumos, produtos, cabelos humanos e pertencentes dos clientes e funcionários, como celulares. Por meio de nota enviada ao CORREIO, a Polícia Civil afirmou que para verificar o número de furtos e roubos, precisaria saber em quais unidades as ocorrências foram registradas e as datas delas, dados que a Abasbe não soube informar.
Furto
Além de Salvador, Josi tem uma unidade em São Paulo. A empresária disse que antes de ir ao seu estabelecimento, a acusada manteve conteve contato com ela pelo Instagram e pelo WhatsApp, alegando que chegou a fazer um orçamento em sua unidade de São Paulo. “Ela disse que era de São Paulo, que já tinha feito um orçamento lá, mas, como estava de férias aqui, tinha resolvido colocar o aplique lá no salão da Pituba”, conta Josi.
De acordo com a empresária, a acusada chegou ao salão às 15h do sábado e fez procedimentos relacionados à aplicação das 300 gramas de cabelo humano. Foram mais três horas de dedicação dos funcionários, que faziam o atendimento no andar superior do salão.
“Demorou um pouco e a gente só terminou no início da noite, quando já não tinha mais ninguém. A recepcionista já tinha ido embora. Só ficaram os profissionais para terminar o serviço dela. Aí, já no final do serviço, quando terminou de botar o cabelo, ela deixou a bolsa em cima da bancada e perguntou onde era o banheiro. Uma das minhas funcionárias disse que era lá embaixo, em frente ao lavatório e ela desceu”, contou Josi.
No entanto, os funcionários estranharam a demora, acreditando que a suspeita teria passado mal. “Quando abriram o banheiro, nada dela. Começaram a procurar e nada. Ela saiu do salão e deixou a porta da frente aberta. A bolsa dela só tinha uma carteira de cigarro”, contou a empresária.
Ilegal
Josi Lima disse trabalha somente com cabelos tratados e que nunca foram cortados, o que pode ter sido um chamariz para a acusada, pois existe um mercado paralelo que comercializada cabelos humanos, principalmente em sites de compra e venda. “O trabalho que faço aqui por R$ 7.200, na OLX é comercializado a preços de bagatela, tipo R$ 2 mil, R$ 3 mil. A mulher que aparece furtando em minha loja é um exemplo disso. Ela saiu assim que terminou fixar os 300 gramas. Não esperou o acabamento. Do jeito como ela levou, é só retirar e anunciar a venda”, declara ela.
Segundo a presidente da Abasbe, Sara Pires, os roubos e furtos de cabelos humanos abastecem o mercado informal alimentado inclusive por outros comerciantes do ramo. “Quem compra são outros donos de salão de beleza, a grande maioria em bairros populares. Ou seja, a fazem o roubo e furto para revender a salões de beleza que não emitem notas fiscais ou para pessoas que trabalham em suas casas fazendo o alongamento. Tem também quem vende nos sites de compra e venda. Os furtos e roubos acontecem tanto nos bairros de classe média quanto nas regiões populares”, disse Sara.
Roubo
Mas o roubo de cabelos não é algo de agora. Mulheres foram presas em flagrante roubando cabelo para megahair em agosto de 2018. As duas mulheres anunciaram o assalto e limparam as prateleiras de um salão na Rua Direta de São Marcos. No momento em que as assaltantes entraram no estabelecimento havia apenas uma funcionária e uma cliente. Elas estavam com uma bolsa e um saco de linhagem e fingiram estar interessadas em procedimentos estéticos, antes de anunciar o assalto. Roubaram cerca de R$ 30 mil em produtos e mais R$ 651, dinheiro que estava no caixa.
Na ocasião, uma equipe da 47ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/ Pau da Lima) foi acionada e cercou o salão. Depois de alguns minutos de negociação, as criminosas liberaram a funcionária e se entregaram. As duas foram identificadas como Thainá Souza Santos, 19 anos, e Juliana Luna Almeida Ferreira Lopes, 20, e levadas para a 10ª Delegacia (Pau da Lima).
Horas mais tarde, investigadores da 10ª Delegacia prenderam Anderson Santos do Nascimento, 31 anos, em um shopping de Salvador vendendo cabelos. Ele contou para os investigadores que levou Thainá e Juliana até o salão de Pau da Lima, mas que não sabia que elas cometeriam o assalto.
Segundo o titular da 10ª Delegacia (Pau da Lima), Antônio Fernando do Carmo, Anderson contou que, depois de deixar as duas no salão, elas pediram que ele as esperasse e que voltaram alguns minutos depois com uma sacola com vários cabelos.
por Bruno Wendel – Correio 24h