Dá para romper, sim. Em 1984, uma mulher chegou ao pronto-socorro do Royal Liverpool Hospital, no Reino Unido, após ter se empanturrado no jantar com 2 quilos de carne, meio quilo de queijo, dois ovos, 1 quilo de cenouras, dez pêssegos, quatro peras, duas maçãs, quatro bananas, 1 quilo de ameixas, um de uvas, dois copos de leite, entre outros acepipes. Foram quase 9 quilos de comida. E nosso estômago costuma aguentar, no máximo, 4 litros de alimentos, então o dela não suportou tanto exagero e se abriu. Ela faleceu (1).
Um caso semelhante dessa dilatação gástrica aguda, que chega à “explosão” do órgão, foi relatado num estudo turco de 2015. Uma paciente chegou ao hospital com dor abdominal súbita, vômitos e náuseas após comer uma quantidade excessiva de frutas. Uma cirurgia abdominal de emergência revelou que seu estômago tinha sido rompido e continha quase 5 litros de comida parcialmente digerida, principalmente uvas e romãs. Nesse caso, ufa!, os médicos conseguiram remover o excesso de comida e costurar o rasgo.
Mas, vale dizer, esses casos são raríssimos. Encher demais o estômago a ponto de estourar é uma façanha muito difícil devido a uma série de reflexos protetores. Quando o órgão incha além de um certo ponto – digamos que você tenha repetido a feijoada e lubrificado tudo isso com litros de cerveja –, os receptores de estiramento na parede do estômago mandam um sinal para o cérebro. Este, por sua vez, emite um comunicado de que você está cheio e é hora de parar. Essa sensação de saciedade é o melhor antídoto contra o exagero. Mas os alertas podem ser mais agressivos.
Se a pressão no estômago aumentar demais, o indivíduo sentirá náuseas e dor. Se ficar mais grave, 90% das pessoas acabam vomitando. Duas respostas do organismo que nos protegem da ruptura gástrica: a náusea limita o quanto você quer comer; o vômito descomprime o estômago. E há outro fator envolvido: é possível treinar seu estômago, gradualmente, para acomodar maiores volumes de comida em curtos períodos. É por isso que participantes de torneios de quem consegue comer mais cachorros-quentes em menos tempo (comuns nos EUA) enfiam goela abaixo uma quantidade inacreditável de pão e salsicha – sem que seu estômago, uma parte do corpo elástica por natureza, se rompa.
Quanto maior for a frequência com que você exagera na comida, mais aumenta a capacidade de o órgão se dilatar. Todos os comedores competitivos seguem um programa de condicionamento de modo a desafiar os limites do organismo com alguma segurança. Então, não, não tente fazer isso em casa.
Fontes: (1) Gulp: Adventures on the Alimentary Canal, livro da divulgadora científica Mary Roach; “Acute gastric dilatation due to binge eating may be fatal”, North Clin Istambul
Por Alexandre Carvalho / Superinteressante