Especialistas argumentam que muito ainda precisa ser feito no enfrentamento da violência contra as mulheres
Ao menos seis mulheres da Bahia foram vítimas de feminicídio por mês neste ano. De 1º de janeiro a 31 de julho, 46 mulheres foram mortas devido à violência de gênero, de acordo com a Secretaria de Segurança Pública. Nem a Lei Maria da Penha, uma das mais completas sobre enfrentamento à violência contra a mulher no mundo, ou as delegacias especiais conseguem conter o número de assassinatos. O Brasil continua como quinto país com o maior número de feminicídios.
Segundo especialistas, muito ainda precisa ser feito por parte dos serviços públicos no enfrentamento da violência contra as mulheres. As dificuldades enfrentadas por mulheres que são violentadas por homens, sejam eles maridos, familiares ou desconhecidos, não acabam após a prática violenta em si. As agressões, ameaças de morte, constantes assédios sexuais e morais, e até estupro, são o início de um longo percurso na busca pela justiça.
São apenas cerca de 400 delegacias especializadas no atendimento de mulheres vítimas de violência em um universo de 5,5 mil municípios brasileiros. Destas, nem todas funcionam 24 horas por dia ou durante o final de semana, como fazem as delegacias comuns. De acordo com a presidente da ONG Tamo Juntas, Letícia Ferreira, esses serviços ainda são majoritariamente concentrados na capital e na região metropolitana — das 15 na DEAM em toda a Bahia, pouco mais da metade fica no interior. Onde não tem especializada, as mulheres devem procurar a Polícia Civil.
Se o percurso para a justiça fosse um jogo, a mulher já começaria perdendo. Antes mesmo de chegar a uma Delegacia para a denúncia, as barreiras são enormes. “Quando uma mulher vítima de violência doméstica procura a Tamo Juntas para pedir ajuda, ela já está no seu limite de exaustão. Muitas já passaram por humilhações e buscaram forças para tentar sair daquela situação.”, diz a advogada voluntária da ONG, Luciana Schaun.
O tratamento recebido na Justiça não é diferente. O júri popular do caso da fisioterapeuta Isabela Oliveira Conde, de 36 anos, que levou 68 facadas numa tentativa de feminicídio acontecerá na próxima segunda-feira, 8, após três anos da agressão. A tentativa de assassinato aconteceu em fevereiro de 2019, quando, para sobreviver, a mulher precisou se fingir de morta. “Eu terminei o relacionamento, então ele [o ex-namorado] programou minha morte”, contou em entrevista à Rádio Metropole.
Após sobreviver a 68 facadas, se fingir de morta, e ser jogada em uma estrada, Isabela relatou ainda que a própria delegacia especializada a revitimizou. “Disse que eu fui permissível. Ouvi frases que me magoaram muito e isso me fez fortalecer na minha luta. Hoje eu tenho um projeto que se chama Amparo à Mulher porque senti essa situação na pele”, conta. ( Metro1)