Ordem secular virou assunto nas redes sociais nesta terça-feira, 4; Terra ouviu mestres maçons para entender os aspectos desse grupo
Assunto desta terça-feira, 4, nas redes sociais, a maçonaria deixou de ser secreta há muito tempo. Hoje existem livros, séries e até vídeos no YouTube que detalham muitos aspectos dessa ordem secular. Mas mesmo muito mais pop do que era quando foi criada na Inglaterra, em 1717, a ordem ainda desperta a curiosidade e a imaginação de muita gente.
Apesar de esse ano simbolizar o início da maçonaria como é conhecida hoje, a organização surgiu na Idade Média, época em que as grandes construções eram feitas de pedra. O nome vem do francês maçon, que quer dizer “pedreiro”.
Os homens que sabiam o ofício se organizavam em pequenos grupos, a fim de ensinar os aprendizes como aparar as arestas de uma pedra bruta e criar edificações monumentais, como castelos e catedrais. Depois disso, outros tipos de trabalhadores foram entrando e se adequando aos ideais de fraternidade e de liberdade cultivados pela ordem.
Foram esses ideais, inclusive, que influenciaram o curso da história em diversos países, como o Brasil. A estimativa é que hoje existam cerca de 6 milhões de maçons pelo mundo.
A reportagem do Terra foi atrás de mestres da maçonaria para entender o que são mitos e verdades nessa ordem. Por exemplo, o que há de tão secreto na maçonaria? Confira!
A maçonaria é uma sociedade secreta? – Mito
Esse é o primeiro ponto que um dos mestres, que nessa reportagem vamos chamar de Filipe, faz questão de esclarecer. “É uma sociedade discreta, não secreta. Hoje você pode ver muito conteúdo sobre a maçonaria na internet e está tudo bem. O que precisa ser preservado, está preservado”, diz.
Segundo Filipe, o que é secreto são as maneiras de descobrir se um homem é ou não maçom.
“Toques, palavras e sinais secretos que ajudam a identificar se uma pessoa é um irmão [como se chamam os membros] e, assim, a gente pode se ajudar”, acrescenta.
O mestre exemplifica com uma situação cotidiana. Imagine que um maçom tem um problema com carro. Apenas o jeito de ele se posicionar para fora do veículo já é um indício que existe, ali, um maçom precisando de ajuda.
“Eu não conheço uma associação a nível mundial que tenha esse tipo de apoio”, acrescenta.
A maçonaria é uma religião? – Mito
O mestre Filipe é categórico ao afirmar que não, a maçonaria não é uma religião. Loja Maçônica é o lugar físico onde os maçons se reúnem para fazer seus rituais e reuniões, e na Loja que Filipe frequenta se reúnem várias denominações religiosas.
“Eu convivo com católicos, espíritas, umbandistas, pastores, judeus…”, elenca.
Não ser uma religião, ou uma seita, não significa que a fé em si não seja importante. Pelo contrário, um dos requisitos básicos para ser maçom é acreditar em uma força superior, que na maçonaria ganha o nome de “Grande Arquiteto do Universo”, justamente para agregar os diferentes nomes que Deus tem diferentes religiões.
Outro mestre maçônico ouvido pelo Terra, que vamos chamar de André, explica que a Bíblia é um livro comumente usado nas Lojas, mas todas as religiões são respeitadas igualmente.
Apesar disso, o catolicismo não é nada amigo da ordem. O Código de Direito Cônico da Igreja Católica é explicito no Cânone 2333: “Os que dão seu próprio nome à seita maçônica ou a outras associações do mesmo gênero, que maquinam contra a Igreja ou contra os legítimos poderes civis, incorrem ipso facto na excomunhão simpliciter reservata à Sé Apostólica”. Além disso existe uma encíclica de 1884, escrita pelo Papa Leão XIII, que adverte os fieis contra a maçonaria.
A maçonaria influencia na política? – Verdade, mas não mais
A maçonaria é capaz de influenciar e ditar tendências por reunir homens com certa influência na sociedade. O general Hamilton Mourão, por exemplo, vice-presidente da República e senador eleito para o mandato a partir de 2023, é maçom e se enveredou na política, lembra o mestre Filipe.
Mas ao longo da história outras situações evidenciam essa relação: a Revolução Francesa tornou seu o lema maçônico “liberdade, igualdade e fraternidade”; no Brasil, Dom Pedro I chegou a ser grão-mestre na ordem, um posto elevado dentro da maçonaria; Joaquim Gonçalves Ledo e José Bonifácio de Andrada e Silva também foram maçons influentes e lutaram pela independência do Brasil.
Apesar disso, o mestre Filipe afirma que, atualmente, o assunto política é deixado para fora dos muros.
“Nós temos irmãos de direita e de esquerda, mas não se discute mais politica na Loja. O irmão pode ter suas preferências políticas extra-muro”, afirma.
Para André, existe uma diferença: a política é discutida, mas não o partidarismo.
“A gente precisa discutir política pública, o nosso papel para uma sociedade melhor. Não podemos ficar presos em ideologia partidária”, diz o mestre maçon, que vê a sociedade como um “edifício a ser construído por todos”.
Não há espaço para mulheres na maçonaria? – Verdade
A maçonaria tradicional não abre espaço para as mulheres. Apesar de existirem grupos “para-maçônicos” que aceitam mulheres, ainda hoje é mantida a essência da ordem.
“Na época medieval não era aceito que homem e mulher convivessem juntos se não fossem casados. A maçonaria foi fundada por homens e mantemos essa tradição”, explica Filipe. “As grandes construções eram feitas por homens, por isso ficou restrito a homens”, acrescenta André.
Fora do Brasil existem ordens para mulheres e mistas, onde frequentam os dois gêneros.
Qualquer homem pode fazer parte da maçonaria? – Mito
Além de acreditar em um “Grande Arquiteto do Universo”, o ser homem adulto é também um pré-requisito para fazer parte da maçonaria. Mas não é qualquer homem que pode entrar na ordem, que não aceita, por exemplo, pessoas com deficiência.
“Existem algumas posições [corporais] que uma pessoa com deficiência não consegue ficar. Uma pessoa que não tem as pernas não consegue ficar uma hora em pé, e isso faz parte da ritualistica”, exemplifica Filipe.
Também é preciso que o homem seja indicado por um membro ativo da ordem e passe por um inquérito que detalha toda a sua vida. Esposas, parentes próximos e colegas de trabalho também são entrevistados para confirmar a boa índole do candidato.
Filipe lembra que não existe uma regra que impeça o ingresso de uma pessoa que homossexual ou que esteja em uma relação homoafetiva. Por outro lado, André não sabe afirmar como seria acolhida a candidatura de um homem trans. “Isso ainda não aconteceu”, diz.
A maçonaria torna alguém rico? – Mito, mas…
Os mestres ouvidos pelo Terra afirmam que a maçonaria por si só não enriquece ninguém. No entanto, o convívio pode facilitar as conexões entre os irmãos maçons, o que acaba funcionando como networking, embora não seja essa a finalidade da ordem.
“As pessoas estão alí para se ajudar, quem dera todos [fora da maçonaria] tivessem a mesma intenção”, defende André.
Por outro lado, embora não deixe ninguém rico, os mestres admitem que é preciso que haja uma situação financeira estável. Esse, inclusive, é o terceiro requisito para um homem ser maçom. Isso porque há gastos e pagamentos que são feitos para a ordem.
Fonte: Terra