A travesti baiana Keila Simpson, presidenta da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra) e diretora da Associação Brasileira Organizações Não Governamentais (Abong), foi impedida de desembarcar em um aeroporto do México, enquanto viajava para participar de um evento social.
Keila participaria do Fórum de Movimentos Sociais, apresentando dados de violência contra pessoas trans e travestis. Ela saiu de Salvador no dia 30 de abril, para a Cidade do México. O voo teve escala na cidade de São Paulo.
“Eu não tenho nome retificado ainda, e no aeroporto brasileiro o atendimento foi ótimo, a atendente me perguntou por qual nome eu preferia ser chamada, foi tudo certo. Cheguei no México por volta das 6h, fui para a fila da imigração, com todos os documentos, passaporte, visto e ficha de imigração”.
“O senhor que me atendeu viu que nome [masculino, de registro] não condizia com minha imagem [feminina]. Então ele perguntou sobre o bilhete de volta e voucher de hospedagem, eu apresentei todos os documentos e mesmo assim fui barrada”.
Keila conta que explicou toda a questão relacionada à sua identidade de gênero ao atendente, e detalhou que fazia parte de uma delegação, que estava indo participar do evento.
“Eu mostrei tudo a eles, até o convite do evento, do Fórum de Movimentos Sociais. O mais contraditório é que eu ia falar de violência contra pessoas trans, apresentar dados do Brasil, e acabei experimentando a violência no México”.
Depois de prestar todas as informações, Keila foi levada para uma sala do aeroporto, onde teve que apresentar novamente os documentos.
“Pediram todas as coisas que eu já tinha apresentado e eu apresentei tudo de novo. Eles também retiveram meu celular e meu RG, no aeroporto. Eu consegui pegar o número de uma pessoa que estava no Brasil para ligar e pedir apoio. Quando o pessoal da delegação, que já estava no México ficou sabendo, começou uma movimentação para tentar me liberar, mas eles [imigração] já tinham decretado meu retorno ao Brasil”.
“Eu fiquei completamente desassistida. Eu estava em viagem para fazer meu trabalho. Me impediram de fazer o meu trabalho, e eu não tenho a menor dúvida de que aconteceu exatamente por eu ser travesti”.
A delegação que estava com Keila tentou acionar a embaixada brasileira, mas não teve sucesso porque a imigração já tinha determinado a volta dela. Nesta segunda-feira (2), Keila segue em São Paulo e deverá retornar à Bahia ainda durante esta semana.
“Fizemos contatos com o parlamento mexicano, para reverberar a notícia por lá, e pedir reparação por esse dano moral”. (G1)