O governo da Ucrânia convidou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a visitar Kiev para que “compreenda” a realidade da agressão russa, um dia após o petista receber o chanceler russo, Sergei Lavrov. A recepção em Brasília veio dias depois de uma série de declarações controversas do chefe de Estado brasileiro, que foram percebidas como pró-Moscou pelas potências ocidentais.
O porta-voz da diplomacia ucraniana, Oleg Nikolenko, fez uma postagem em seu Facebook afirmando que “observa com interesse os esforços do presidente do Brasil de encontrar uma solução para pôr fim à guerra”. Critica, contudo, “a abordagem de dar o mesmo pessoa à vítima e ao agressor” e o fato de “países que ajudam a Ucrânia a se defender da mortal agressão russa serem acusados de encorajar a guerra”:
“A Ucrânia não precisa ser convencida de nada”, diz o texto. “Confirmamos o convite ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva para que ele entenda as causas reais, a essência da agressão russa e suas consequências para a segurança global.”
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Durante sua visita à China na semana passada, Lula responsabilizou defendeu que os Estados Unidos precisam parar de incentivar a guerra para que possa haver uma solução para crise. No sábado, durante uma breve escala nos Emirados Árabes Unidos, voltou a dizer que Ucrânia também é responsável pela invasão russa em seu território.
Em resposta, a Casa Branca acusou o presidente brasileiro de “repetir a propaganda da Rússia sem olhar para os fatos”, enquanto a UE disse que as declarações do presidente ‘não são verdade”. O chanceler Mauro Vieira rebateu Washington, negando que o Brasil propague o discurso russo sobre guerra.
A Rússia, sob sanções dos países ocidentais, iniciou uma ofensiva diplomática para convencer as potências emergentes de que está apenas se defendendo contra a hegemonia dos Estados Unidos. A mensagem será repetida durante a semana pelo chanceler russo em vários países da América Latina — o chanceler russo visitará Cuba, Venezuela e Nicarágua antes de voltar a Moscou.
No início do mês, o presidente da Rússia, Vladimir Putin, chamou Lula para visitar o país, e o Kremlin confirmou o convite por meio de seu porta-voz, Dmitry Peskov. O convite foi feito durante a passagem inicialmente mantida sob sigilo do assessor especial internacional da Presidência da República, Celso Amorim, por Moscou para discutir a proposta brasileira de criar um clube de países que negociem uma saída diplomática para a guerra.
No início do mês passado, Lula conversou por vídeo com Zelensky, onde reafirmou a disposição do Brasil de conversar com os outros países e participar de qualquer iniciativa pela paz. A conversa com tradutores, que durou quase 30 minutos, ocorreu depois de semanas de gestões entre os dois governos.
A ligação ocorreu quase uma semana depois de Zelensky declarar, durante uma coletiva que marcou o aniversário de um ano da guerra na Ucrânia, em 24 de fevereiro, que gostaria de se encontrar com Lula e que precisava de sua ajuda para que seu país “seja mais bem compreendido na América Latina”. (Oglobo)