Com a Índia decretando quarentena geral para seus cidadãos por 21 dias, cerca de 2,6 bilhões de pessoas – um terço da população mundial – estão sob algum tipo de restrição de movimento devido à pandemia de Covid-19, de acordo com levantamento feito pela AFP. O número é maior do que toda a população existente durante a Segunda Guerra – havia só 2,3 bilhões de pessoas em 1940, das quais 3% morreram por causa da guerra.
Além da Índia, que corresponde à metade do total, o número é puxado para cima principalmente pela Europa, onde a maioria dos países estabeleceu algum tipo de norma de isolamento social desde que o continente virou o novo epicentro da pandemia. Países como Espanha (46 milhões de habitantes), França (66 milhões), Itália (60 milhões) e Reino Unido (66 milhões) já decretaram medidas severas de restrição para suas populações – basicamente, só sai de casa quem tem realmente precisa.
A Alemanha, maior população do continente, está conseguindo resultados positivos sem ter decretado uma quarentena geral, apenas medidas parciais, como o cancelamento de aulas e de eventos de multidão. Mas alguns estados do país, como Bavaria e Sarre, foram mais radicais e fecharam tudo que não seja essencial.
Na China, onde o novo coronavírus surgiu, uma quarentena em nível nacional nunca chegou a ser decretada – as medidas foram tomadas apenas em âmbito regional. Mesmo assim, mais da metade de população chegou a ficar sob algum tipo de restrição de movimento. Agora, com a doença perdendo força no território, o país vem aliviando as proibições, principalmente na província de Hubei, com 50 milhões de habitantes. Mas Wuhan, capital da província que tem 11 milhões de habitantes, continuará em quarentena até 8 de abril.
Os Estados Unidos, que vêem seus números crescer exponencialmente e devem se tornar o novo epicentro da crise, também não decretaram quarentena generalizada em âmbito federal, mas muitos estados vêm tomando essa medida por contra própria. Neste grupo, entram alguns lugares importantes para a economia do país, como a Califórnia, o Estado mais populoso e mais rico estado da federação; Nova York, cuja capital é a mais populosa cidade do país; e o Estado de Washington, que concentrou o primeiro foco da doença na região de Seattle.
Por aqui, na América do Sul, nossa vizinha Argentina está sob quarentena generalizada, bem como Peru, Colômbia, Bolívia, Venezuela e Equador. Outros países da região também vem colocando em prática medidas de contenção e restrição de movimento. O Brasil é um caso a parte: não só o país não decretou quarentena como o presidente Jair Bolsonaro já se manifestou contrário a ideia e defendeu que só pessoas do grupo de risco devem se isolar e o resto deve seguir a vida normalmente – o chamado “isolamento vertical”. Já mostramos aqui na SUPER que isso não é uma boa ideia. Alguns estados e cidades vem decretando medidas mais severas por conta própria – é o caso de São Paulo e Rio de Janeiro.
Até agora, o SARS-CoV-2 já infectou mais de 520 mil pessoas pelo mundo e causou quase 24 mil vítimas fatais. Não há precedentes na história para quarentenas tão grandes e generalizadas – afinal, nunca houve tanta gente no mundo assim. A Gripe Espanhola, por exemplo, ocorreu em 1919 e infectou pelo menos um terço da população mundial – ou seja, cerca de 500 milhões de pessoas. Dessas, mais ou menos 50 milhões morreram, segundo estimativas. Naquela época a quarentena também foi utilizada, mas de uma forma muito menos organizada como acontece hoje, e talvez menos eficiente.
Exatamente por ser inédita, ainda não dá para saber os impactos que uma quarentena tão grande terá no mundo, especialmente na economia. Muitos economistas já alertam para uma recessão mundial inevitável, e governos de todo o mundo estão aprovando pacotes de investimento sem precedentes para tentar evitar o pior. Recentemente, por exemplo, os Estados Unidos aprovaram o maior pacote de estímulo de sua história, que soma 2 trilhões de dólares. Alemanha, Espanha, China e muitos outros países seguem pelo mesmo caminho. (Isto é)