O uso de bebês reborn – bonecos hiper-realistas que imitam recém-nascidos – voltou ao centro de um debate acalorado dentro e fora das redes sociais. Criados nos anos 2000, os bonecos viraram febre entre colecionadores e também entre adultos que simulam a maternidade com eles. No entanto, a prática tem provocado reações no meio político, culminando em propostas de lei que visam restringir ou regulamentar seu uso, especialmente em serviços públicos.
Proibição de atendimento em serviços públicos
Em Salvador, a vereadora Débora Santana (PDT) apresentou um projeto de lei que proíbe o atendimento de bonecos reborn nos departamentos públicos da cidade, como hospitais e unidades de saúde. A parlamentar argumenta que, por se tratarem de objetos inanimados, os reborns não devem ocupar recursos que deveriam ser destinados a pessoas reais.
“Fato é que os ‘bebês reborn’ não são seres vivos, não passam de bonecas, e tem pais dessas bonecas exigindo atendimento médico no serviço de emergência dos hospitais brasileiros, especialmente pelo SUS”, diz um trecho da proposta.
A vereadora ainda classifica a prática como “prejudicial e financeiramente irresponsável”, podendo representar riscos à vida de pessoas que realmente necessitam de atendimento emergencial. Ela define a exigência por parte de cuidadores desses bonecos como um “sério desperdício dos impostos em razão de um pseudo aparato lúdico”.
Projeto foca também na saúde mental das ‘mães reborn’
Além da proibição nos serviços de saúde, Débora Santana também protocolou um segundo projeto, voltado para a saúde mental de pessoas que se consideram pais e mães dos bonecos reborn. A proposta prevê a criação de um programa de atendimento psicológico no âmbito do SUS, inspirado em medida semelhante apresentada pela deputada federal Rosângela Moro (União Brasil-SP).
O texto sugere três frentes de atuação:
- Acolhimento e orientação sobre os perigos de criar vínculos afetivos com objetos inanimados, tratando os reborns como substitutos da realidade.
- Prevenção e acompanhamento de transtornos psíquicos, como depressão ou tendências suicidas entre os cuidadores desses bonecos.
- Estratégias de enfrentamento social e familiar, para promover a reintegração saudável dessas pessoas à vida em comunidade.
Febre nas redes e mercado aquecido
Apesar das críticas, os bebês reborn têm ganhado cada vez mais adeptos no Brasil, especialmente nas redes sociais. Vídeos de mulheres adultas alimentando, vestindo e cuidando dos bonecos como se fossem filhos reais se tornaram virais.
O mercado também reflete essa crescente demanda. Os preços dos reborns variam de R$ 550 a R$ 8.500, dependendo do grau de realismo e dos acessórios inclusos, que muitas vezes incluem certidão de nascimento, chupeta e certificado de autenticidade.
Reconhecimento e homenagens em outras cidades
Em contraste com a proposta de Salvador, outras regiões do país têm adotado posturas mais acolhedoras. No Rio de Janeiro, a Câmara Municipal aprovou no último dia 7 de maio o Projeto de Lei nº 1892/2023, que institui o Dia da Cegonha Reborn no calendário oficial da cidade.
A proposta, de autoria do vereador Vitor Hugo (MDB), é uma homenagem às artesãs que produzem os bonecos e às mulheres que vivem a chamada “maternidade simbólica” com os reborns. O projeto aguarda agora sanção ou veto do prefeito Eduardo Paes (PSD).