No aniversário de 143 anos, de emancipação politica de Santo Antônio de Jesus, o doutor em história da UFBA (Universidade Federal da Bahia), Alex Costa, em entrevista a Marcus Augusto do Voz da Bahia, explicitou curiosidades da sua extensa pesquisa de fatos do passado do município.
Leia a entrevista completa sobre as curiosidades da história de Santo Antônio de Jesus:
Marcus Augusto: Quais os primeiros povos indígenas que habitavam a região de Santo Antônio de Jesus?
Alex Costa: O município não se forma do nada, ele se forma basicamente a partir das pessoas e para tratar dos povos indígenas é fundamental para termos essa noção de que esses povos, por volta do século XVII, quando esse território do recôncavo sul passa a ser ocupado por proprietários de terra que vão criando gado e plantando mandioca, sobretudo essa população indígena vai sendo apartada dessa região. Aqui no recôncavo sul, tínhamos basicamente dois grupos indígenas, o grupo de origem Quiriri também chamada de Cariri, e o grupo de etnia Paiaiá. Esses grupos estavam originariamente ocupando essas terras antes da chegada daqueles que vão colonizar, transformar as matas em fazendas em propriedades da produção de mandioca e de outros bens e que isso passa serem expulsos desse território. Isso não quer dizer que com isso a expulsão a força o genocídio, causadas por doenças transmitidas por outras pessoas tenham tirado a presença indígena da região. O que é hoje Santo Antônio de Jesus hoje? São grupos permanecendo e insistindo em viver e a continuar em resistir.
Marcus Augusto: Qual a importância do Padre Mateus para Santo Antônio de Jesus, quem era ele? Nossa Praça Padre Mateus é cantada em ‘versos e prosas’.
Alex Costa: Temos que entender o contexto do século XVIII, que é o que padre Mateus vai aparecer na história de Santo Antônio de Jesus, na verdade, o padre Mateus não era o único pároco a ocupar à terra e a ter propriedade de terras nessa região em Santo Antônio de Jesus, há pelo menos mais outros 8 padres que tinham domínios nessa localidade, o que era algo muito comum. Outra coisa que era da época do século XVIII, que essas propriedades tivessem o uso da mão de obra escrava, seja ela de origem da cana ou de origem indígena. Só que a mão de obra indígena por diversos motivos ela vai sendo restrita a pequenos espaços, principalmente nesses aldeamentos que falei anteriormente. O padre Mateus tinha, como qualquer outra pessoa livre da época, a vontade de usar mão de obra escrava, seja para trabalho doméstico, braçal na roça ou na própria cidade. O padre Mateus é um marco para a cidade como a representação de alguém que vai surgir e agregar pessoas no entorno pela função religiosa muito forte que era exercida.
Marcus: Como se deu a emancipação política da cidade de Santo Antônio de Jesus?
Alex: Duas categorias importantes existiam até o século XIX: a de Capela e a categoria de Freguesia. Essas duas categorias no Recife reportam apenas as de caráter religioso. Quando falamos Capela, não estamos falando somente do prédio religioso, estamos explicitando uma organização, uma forma administrativa, que existia até o século XIX que funcionava como uma espécie de Distrito onde a pessoa responsável pela Capela já exercia algumas alternativas, admitem-se também religiosas. Quando o Santo Antônio de Jesus se torna Freguesia ou Paróquia, ou seja, vai se desligar de Nazaré, da Nossa Senhora da Purificação de Nazaré, ela passa de querer essa autonomia. Acontece a nomeação do primeiro Vigário, a primeira pessoa que vai assumir a administração. Ele que vai dar primeiro tom de organização administrativa do local.
Marcus: Qual o contexto de Santo Antônio de Jesus ser conhecida também como ‘Terra das Palmeiras’ no município?
Alex: É importante destacar, que as palmeiras surgem nesse contexto modernizador, era a ideia de superar um passado que precisava ser esquecido para se fazer uma série de obras urbanas no final do século XIX, depois que a cidade foi fundada. É nesse momento que se faz em uma série de mudanças urbanas em Santo Antônio de Jesus, uma dessas foi o plantio dessas palmeiras para dar este tom de modernidade como havia apontado. Hoje praticamente estão deixando de existir, então, a Cidade das Palmeiras não está mais sendo desta planta.
Marcus: Como se deu essa rivalidade política entre os grupos Jacu e Beija-Flor no município?
Alex: A organização e forma de grupos políticos não, é algo muito novo na história política do Brasil, em todas as assistências políticas deste país, a organização se deu a partir de grupos que vão buscando afinidades e pontos em comum. No final do Império e nos primeiros anos da República, temos dois grupos políticos que tinham suas representações em Santo Antônio de Jesus: o grupo conservador e o liberal. Grupos que se alternaram no poder durante muito tempo durante o tempo em que a própria intendência (função pública de ordem administrativa) existiu, sendo substituído pelo cargo de prefeito já durante o governo de Getúlio Vargas. Pela necessidade de estar mais próximo do povo, as próprias denominações desses grupos mudaram, então existem hoje em dia esses dois grupos que há em Santo Antônio de Jesus. É importante ressaltar que em Santo Antônio de Jesus tem uma política marcada basicamente por dois grupos distintos: o grupo de médicos e o de profissionais liberais. Se formos pegar todos os prefeitos, tirando os intendentes, de Santo Antônio de Jesus desde 1930 até hoje, vamos ter muito visível, com muita clareza esses dois segmentos sociais ocupando o espaço, Jacu e Beija-Flor que nos dias atuais acredito que vem perdendo força.
Marcus: Curiosidade do nosso internauta do Voz da Bahia, porque há nomeações de lugares no município como: “Pau Preto”, “Espera Negro” e “Maria Preta”, no município?
Alex: O “Pau Preto” eu não tenho informação, mas o “Espera Negro” é uma região onde se chegavam a partir de tropas, os que faziam trânsito de mercadorias e lembrar que pessoas escravizadas eram tratadas como negócios. Essas mercadorias chegavam e justamente nessa região era onde fazia esta espécie. O entreposto comercial para receptação de escravizados e a partir daí a distribuição para seus compradores. Então, infelizmente é uma parte bastante triste da nossa história, mas que nós não podemos esquecer, é uma parte do nosso passado que nós não devemos apagar, precisamos lembrar cotidianamente do malefício que foi a escravidão, de como ela destruiu vidas e de como ela marca também a nossa história. Sobre a questão da Maria Preta, existem várias suposições, né? Quem fala muito da pessoa que seria a Maria Preta é o ex-vereador Faustino Cunha. Ele tem explicações para isso, mas eu, pessoalmente, não tenho informações de base da pesquisa histórica que possa explicar o nome da “Maria Preta”.
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Reportagem: Voz da Bahia