Viúva diz que dinheiro levado de cofre foi entregue à mãe de dono de pousada

Foto: Divulgação

Com prisão temporária decretada, a ex-detenta e viúva do dono da pousada Paraíso Perdido, Shirley da Silva Figueredo, disse que entregou à sogra o dinheiro, joias e documentos que ela mandou retirar do cofre do empreendimento, situado em Jaguaripe, no Recôncavo baiano. Isso aconteceu dias após o corpo de Leandro Troesch ter sido encontrado, no último dia 25 (reveja aqui), em dos quartos do estabelecimento de luxo. 

A situação aumentou ainda mais a desconfiança da polícia no envolvimento de Shirley na morte do marido. O delegado Rafael Magalhães disse que três pessoas a mando dela invadiram uma área de perícia quando entraram no quarto onde o corpo de Leandro foi encontrado. No entanto, um dos advogados da procurada contesta.

“Tudo que foi retirado de lá foi devidamente registrado em cartório. O dinheiro, as joias, tudo foi entregue pra mãe de Léo [Leandro]. Temos provas disso, filmagens”, disse Kleber Nunes. Segundo ele, a abertura do cofre foi realizada através de uma ata notarial (que objetiva comprovar fatos, coisas, pessoas ou situações de sua existência ou de seu estado, na presença de um tabelião).

Nesta segunda-feira (14), Shirley e a amiga, também ex-presidiária Maqueila Bastos, tiveram as prisões temporárias decretadas pela Vara Criminal, Júri, Execuções Penais e Infância e Juventude da Comarca de Nazaré para fins de prestarem esclarecimentos no inquérito que apura a morte de Leandro. Segundo o titular da Delegacia de Jaguaripe, delegado Rafael Magalhães, ainda não há uma definição se foi um crime ou se foi suicídio.

“Aguardo a prisão delas, para então serem ouvidas, e os laudos periciais”, declarou Magalhães. Mas Shirley já era procurada pela polícia, após descumprir as condições de ordem judicial, que garantia a ela responder por um crime em liberdade – ela e o marido foram presos no ano passado por sequestro e extorsão cometidos contra uma mulher em Salvador, em 2001.  

“Mas ela não fugiu. Logo após o encontro do corpo de Leandro, ela foi ouvida pelo delegado de Santo Antônio de Jesus. Nesse dia, ela entregou por conta própria o celular para a investigação. O que aconteceu é que no dia seguinte, quando o outro delegado (Rafael Magalhães) foi à pousada, Shirley não estava. No dia seguinte, o antigo advogado dela optou por deixar o caso. Ela, desassistida, ficou desorientada e nos procurou. Então passamos a tranquilizá-la e nos preparávamos para apresentá-la. Foi quando soubemos que havia mandado de prisão contra ela e já recorremos”, declarou Kleber. Apesar de o delegado Magalhães ter dito que a viúva não estava mais na Bahia, o advogado preferiu não dar pistas sobre a localização dela.

A polícia acredita que há uma relação entre as mortes de Leandro e do funcionário da pousada e ex-presidiário Marcel Silva, o Bili, assassinado um dia antes de prestar depoimento sobre a morte do patrão. Perguntado sobre a necessidade de a polícia ouvir sua cliente também na execução de Bili, o advogado respondeu: “Ela não tem nada a ver com isso. O delegado está apurando e já deve ter chegado na autoria dos suspeitos. A morte de Léo [Leandro] foi suicídio e Marcel foi homicídio”.  

Em relação ao suposto romance relatado por moradores de Jaguaripe entre sua cliente e Maqueila, ele disse que “é um particular dela”. “Eu não tenho como te afirmar nem negar isso. Entendeu?” Ele disse que outro advogado, que não é ligado a ele, faz a defesa de Maqueila e que as duas não estão no mesmo lugar. 

Kleber disse ainda que, no dia da morte de Leandro, testemunhas relataram em depoimento que viram Shirley debruçada sobre o corpo dizendo: “Por que você fez isso comigo? Por que você me abandonou?”. Ainda segundo o relato das testemunhas, a viúva pediu para acionar a polícia e ao lado do corpo estava a arma. No entanto, a polícia informou que testemunhas ouviram uma discussão momentos antes do disparo, mas o conteúdo da briga não foi revelado. “Discutir todo mundo discute, né”, declarou Kleber.   

Procurado para comentar as declarações do advogado Kleber Nunes, o delegado Rafael Magalhães disse que está convicto do trabalho que vem fazendo e que não pode falar sobre os fundamentos da investigação. 

Relembre o crime do casal
O Correio teve acesso às informações do processo que apura as acusações contra Leandro e Shirley. Outras três pessoas contam como réus. São elas: Joel Costa Duarte, Carlos Alberto Gomes de Andrade e Júlio da Silva Santos. De acordo com a Justiça, Joel abordou a vítima no dia 10 de maio de 2001, quando ela estacionava o carro na porta de casa, no bairro de Itapuã, por volta das 18h30. Eles tomaram o veículo da vítima e a mantiveram no carro enquanto eram efetuados saques de dinheiro em caixas eletrônicos. 

Ao verificar o saldo bancário da vítima, Joel arquitetou a extorsão mediante sequestro, ficando a cargo de Júlio mantê-la em cárcere privado, primeiro no Motel Le Point, em Itapuã, depois numa casa situada na Praia de Ipitanga, em Lauro de Freitas, Região Metropolitana de Salvador (RMS), alugada ao próprio Joel e a dois comparsas, neste caso, Leandro e Shirley.

Enquanto mantida em cárcere privado, a vítima foi alvo de reiteradas ameaças de morte feitas por Júlio, somente sendo liberada após o pagamento do resgate de R$ 35 mil. No processo consta que Leandro que conduziu o veículo da vítima e fez os saques. Já Shirley, foi a responsável por buscar o pagamento do resgate.

As armas utilizadas na prática dos crimes pertenciam aos dois Joel e Júlio, que conseguiram fugir na ocasião. No entanto, Leandro, Shirley e Carlos Alberto foram presos em flagrante. Posteriormente o casal passou a responder pelos crimes em liberdade, até a justiça ter voltado atrás em 2018.

Bruno Wendel / Correio da Bahia

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