O gerente de políticas públicas e eleições globais do WhatsApp, Ben Supple, confirmou em palestra na Colômbia, na última sexta-feira (4), que o aplicativo sabe que, nas eleições do ano passado no Brasil, empresas enviaram mensagens em grandes quantidades a grupos, buscando violar as regras do serviço para chegar a públicos maiores.
Segundo Supple, que falou durante evento sobre jornalismo da Fundação Gabo, em Medellín, o WhatsApp está ciente dessas ameaças.
Supple ainda afirmou que o WhatsApp está investigando grupos grandes, que podem ser acessados por links públicos. O executivo disse que a empresa recebeu muitas informações de grupos da sociedade civil e de investigadores brasileiros de que esses grupos públicos eram usados para disseminar conteúdo e mensagens no WhatsApp.
Procurado pelo G1, o serviço de mensagens enviou nota, afirmando que “antes do segundo turno da eleição do ano passado, o WhatsApp anunciou que já tinha banido centenas de milhares de contas por tentativa de envio em massa ou automatizado de conteúdo durante o período eleitoral”.
Entre os números bloqueados estavam contas usadas pelas agências Quickmobile, Yacows, Croc services e SMS Market. Estas quatro agências foram citadas em reportagem do jornal “Folha de S.Paulo”, que afirmou que elas foram contratadas por apoiadores de Jair Bolsonaro (PSL) para supostamente disparar pacotes de mensagens contra o PT.
O WhatsApp não informou, na época, o número exato de contas bloqueadas, mas disse que tomaria medidas legais imediatas para impedir empresas de enviar mensagens em massa.
Lei eleitoral
A prática de envio em massa de mensagens eleitorais, em tese, pode ser ilegal, caso seja considerada pela Justiça doação de campanha feita por empresas. Desde 2015, empresas estão proibidas de fazer doação eleitoral.
O uso de bases de terceiros também pode ser considerado ilegal, já que a lei permite apenas o uso de listas de apoiadores do próprio candidato (nos casos de números cedidos de forma voluntária).
Violação dos termos do aplicativo
Supple afirmou que é permitido o uso do aplicativo em campanhas políticas, contanto que seja de maneira responsável, dentro dos termos de uso da plataforma.
Ele afirmou que as regras da plataforma proíbem explicitamente o envio automatizado de mensagens e que algumas pessoas e grupos contratam terceiros e softwares para alcançar mais pessoas e aumentar a disseminação de conteúdo.
“Nós também notificamos empresas que diziam oferecer serviços de envio em massa de mensagens, uma violação dos nossos termos de serviço. Estamos sempre trabalhando para aperfeiçoar nossos sistemas para prevenir abusos no WhatsApp”, concluiu a empresa na nota divulgada nesta terça-feira (8).
Executivo pede que usuários denunciem
Ben Supple fez as declarações ao responder sobre as diferenças no uso do aplicativo em países da América do Sul.
Segundo ele, no mundo todo, no geral, 90% das mensagens de WhatsApp são de pessoa para pessoa, e as mensagens de grupo são menos de 10%. Mas afirmou que, no Brasil, existe a prevalência de grupos grandes.
Supple pediu ainda que pessoas que estejam em grupos muito grandes, com mais de 200 pessoas, “onde existe conteúdo ruim”, saiam do grupo e o denunciem, e também bloqueiem outros usuários.
De acordo com ele, se um só usuário está sendo bloqueado muitas vezes em algum momento ele acaba sendo bloqueado da plataforma.
Os termos de serviço do WhatsApp preveem banimento em dois casos:
- enviar comunicações ilícitas ou não permitidas, mensagens em massa, mensagens automáticas, ligações automáticas e afins.
- e de comunicações envolvendo declarações falsas, incorretas ou enganosas. (G1)