No fim de 2019, o Brasil registrou um número recorde de trabalhadores domésticos: mais de seis milhões – e a maioria sem carteira assinada.
Daniel pega pesado na limpeza – esfrega as paredes com força. Renata também se empenha e vai nos detalhes para completar a faxina. O casal limpa até seis casas por semana.
“Aquela pessoa que trabalha o dia inteiro não tem tempo de limpar a casa, manter, tem criança. Então, a gente vai lá e dá esse jeitinho lá para a pessoa. Limpa tudo, da faxina simples ao faxinão”, disse a faxineira Renata Nunes.
Essa foi a forma que Daniel e Renata encontraram de pagar as contas no fim do mês. Os dois já tiveram outras profissões. Ele era borracheiro e ficou desempregado, e ela tinha uma confeitaria, mas quebrou. Foi o mesmo que aconteceu com muitos outros brasileiros. E, nesse cenário de tanta dificuldade, o trabalho doméstico nunca foi uma opção tão procurada.
Assim como Renata e Daniel, mais de seis milhões de pessoas trabalhavam como empregados domésticos no trimestre encerrado em novembro, um recorde, segundo o IBGE. Desse total, 4,5 milhões estão sem carteira assinada. Ou seja, sete em cada dez trabalhadores desse ramo não têm carteira assinada. Além disso, a remuneração mensal de 2019 foi a menor desde 2015.
“O trabalhador doméstico no Brasil é um sobrevivente porque aceita a condição da informalidade porque tem obrigações. É um mercado em que 93% dos trabalhadores são mulheres, muitas delas são as únicas provedoras do lar”, disse Mário Avelino, presidente do Instituto Doméstica Legal.
Segundo o economista Manuel Thedin, os milhões de brasileiros que estão no mercado de trabalho doméstico são o reflexo da crise econômica que começou em 2015.
“As pessoas perderam o emprego formal, estavam com carteira assinada, perderam esse emprego e não podem se dar ao luxo de não fazer nada. Então, muita gente voltou para esse mercado de trabalho doméstico, que tinha diminuído bastante com a melhora da economia e com o aumento da oferta de emprego”, explicou.
Não era o que o casal planejava, mas já está dando para sonhar com dias melhores.
“A gente quer abrir a empresa. A gente vai longe. É o que eu creio. E vamos embora, vamos limpar porque a alma do negócio hoje é limpeza. Sempre tem uma casa suja. Se não tem uma casa, tem uma varanda e a gente está ali limpando”. (G1)