Masturbação: o prazer libertador em tempos de coronavírus

Imagem: Caio Borges/Arte

A Prefeitura de Nova York recomendou que as pessoas se masturbem para evitar a propagação do coronavírus na cidade. “A masturbação não irá propagar o coronavírus, especialmente se você lavar as mãos com água e sabão antes e depois”, diz o texto.

Não se sabe por que, mas o documento foi excluído do site oficial da cidade. Será preconceito? Já houve época em que se acreditou que a masturbação causava loucura, ataques epiléticos, reumatismo, acne, asma, idiotice, impotência, cegueira e, por mais incrível que pareça, crescimento de pelos na palma das mãos.  Qualquer atividade sexual que não levasse à procriação era considerada crime ou pecado.

Na Inquisição o acusado de masturbação era tido como herege e condenado a morrer na fogueira. Sempre se falou mais da masturbação masculina, embora existam relatos de extirpação do clitóris, para impedir que a mulher se masturbasse.

Existem peças terríveis de museu, que ilustram bem a obsessão contra o que chamavam de “vício solitário”. Uma delas é um anel de metal com quatro pregos voltados para dentro, que tinham a função de impedir a ereção. Era ajustado ao pênis do jovem à noite e garantia um sono sem ereções.

Mas a dor… Menos doloroso e mais sofisticado era um detector de ereção ligado a um fio que ficava ao lado do quarto dos pais do jovem. À mais leve ereção, uma espécie de sino tocava, alertando os pais para a ereção do filho.

Entretanto, a masturbação faz parte da sexualidade normal. Meninos e meninas começam a praticá-la na infância e fazem isso até a velhice. Independente da idade, representa valiosa contribuição para melhor conhecimento do próprio corpo e das emoções, e o mais importante, proporciona prazer.

Geralmente se relaciona masturbação a um ato adolescente, mas isso não passa de mais uma tentativa de controlar a liberdade sexual das pessoas.  Dessa forma, há adultos se sentem inadequados por se masturbar, principalmente se têm parceiros fixos. Preocupante e anormal é quando traz sentimentos de culpa, comprometendo seriamente a vida sexual.

Mas, felizmente, as mentalidades estão mudando. Numa província da Espanha, a Secretaria de Educação criou o curso “O prazer está em suas mãos” para ensinar masturbação nas escolas a jovens de 14 a 17 anos e  derrubar mitos negativos sobre o tema.

Os conteúdos vão de anatomia e fisiologia sexual até técnicas de masturbação e uso de objetos eróticos. É claro que os conservadores protestaram e ameaçaram entrar na Justiça. Mas para a Secretária de Educação o novo curso “não devia escandalizar ninguém, principalmente, porque todos nós fomos adolescentes e todos nós temos sexualidade”.

Por conta dos preconceitos encontramos pessoas culpadas e amedrontadas com seus próprios desejos e com a forma de realizá-los. Isso impede que a masturbação se torne a experiência libertadora e satisfatória que pode ser.

Escrito por Regina Navarro Lins: é psicanalista e escritora, autora de 12 livros sobre relacionamento amoroso e sexual, entre eles o best seller “A Cama na Varanda”, “O Livro do Amor” e “Novas Formas de Amar”. Atende em consultório particular há 45 anos e realiza palestras por todo o Brasil. É consultora e participante do programa “Amor & Sexo”, da TV Globo, e apresenta o quadro semanal Sexo em Pauta, no programa Em Pauta, da Globonews. Nasceu e vive no Rio de Janeiro.

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