A médica dermatologista, Drª. Cinara Ramos, procurou na manhã desta sexta-feira (08) a reportagem do Voz da Bahia para mais uma vez falar a respeito da quantidade pequena dos números de testes para o Covid-19 em Santo Antônio de Jesus. Recentemente, a médica teria enviado um áudio questionando a falta de exames para detectar a doença (relembre aqui). Novamente, a profissional volta a reforçar que não faz política e sobre o assunto detalha: “apenas 39 testes para uma cidade com 100 mil habitantes é muito pouco”.
Inicialmente, Dr. Cinara pontua que não tem lado político e não tem filiação partidária e que sua preocupação é como cidadã do município, “eu não fiz esse questionamento jamais por uma razão política, eu não tenho nenhum envolvimento político em Santo Antônio de Jesus. Em primeiro lugar, eu não sou oposição, eu não sou situação, eu não tenho interesse político partidário, eu me coloquei como cidadã, como médica, por estar preocupada com as nossas vidas, porque estamos todos no mesmo barco, eu, você, o secretário de saúde Dr. Leandro Lobo, o prefeito Rogério Andrade (PSD), o auxiliar de limpeza do HRSAJ (Hospital Regional), médico plantonista que muitas vezes vem de outras cidades, o vendedor da loja, estamos no mesmo barco, é algo sério que está acontecendo. Então, o meu posicionamento foi por preocupação, não porque está torcendo contra, ou a favor, eu torço por Santo Antônio”, pontuou.
A médica enfatiza que é preciso que todos estejam bem informados sobre a situação no qual estamos passando, “o inimigo no momento não é o adversário político do prefeito, do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), do Governador Rui Costa (PT), no momento é um vírus e eu acho que: imagine você lutando contra um inimigo com uma faca dentro de um quarto escuro? Você não sabe como é o inimigo, contra o qual você está lutando, nem como você se defende dele, aí quando você liga a luz, você tem noção do inimigo, e os testes tem essa função. Eu tenho estudado muito, eu tenho pesquisado, eu tenho buscado me manter informada, porque eu acho que todos os cidadãos precisam ter conhecimento e eu como médica porque minha profissão pede. Eu sei que é consenso científico que para gente sair dessa precisamos realizar testes em massa. Os cientistas do mundo todo dizem isso, não sou eu, sei também que o Brasil é um dos países que menos fazem teste no mundo e isso está trazendo um preço muito alto para gente, eu sei que está sendo muito difícil trazer esses testes, eu sei que os gestores estão passando por situações difíceis quanto a busca por testes, eu não estou criticando o governo, o secretário de saúde, o prefeito, eu estou expressando a minha necessidade e dá população de saber, porque informação real salva“, desabafou.
Com relação aos boletins diários transmitidos pela secretaria de saúde do município, Drª. Cinara explica que é preocupante a interpretação que cada um pode vir a ter desses relatórios, “por que existe uma leitura diferente de cada pessoa, eu como médica, pego o boletim da nossa cidade, e decifro: 39 pacientes testados, apenas um caso, a minha interpretação é que foram testadas poucas pessoas para uma população de 100 mil habitantes, eu sei que existe uma chance grande de haverem casos que não foram diagnosticados, não foram notificados. Um leitor que pega esse mesmo Boletim, ele vai dizer: Oba! Graças a Deus, Santo Antônio só tem um caso, nossa cidade é abençoada, eu posso ir para o rua, eu posso ir para o Baba, eu posso circular na rua a vontade, e não é assim? Então a importância da informação, de conversarmos sobre testes, uma, duas, dez mil vezes, é conscientizar. A informação de uma pessoa para outra muda muito, quanto mais a gente fala disso, mais as pessoas ficam informadas, quanto mais as pessoas se informam mais as pessoas se cuidam”, elucida.
Com relação a fala do secretário, onde o mesmo desmente de que não há casos escondidos em Santo Antônio de Jesus (reveja aqui), Cinara acredita que a secretaria não esconde casos, contudo, há uma baixa testagem, ainda segunda ela, fazem com que os casos passem despercebidos, “eu tenho certeza que não há casos escondidos. A Secretaria de Saúde não faria isso, o que eu acho é que a baixa testagem dificulta confirmar os casos e notificar esses casos confirmados, aumenta o risco de a gente ter casos na cidade que não foram confirmados, não foram diagnosticados, por exemplo: a gente sabe que em Feira de Santana o primeiro caso foi de uma pessoa que tinha viajado e quando ela voltou ela tava doente, a funcionária doméstica dela acabou pegando, o marido da funcionária acabou pegando, a mãe da funcionária, porque existe uma cadeia de transmissão, e aí a gente se pergunta: nós temos um caso aqui em Santo Antônio de Jesus, a família nesse caso está sendo monitorada? Eu acho maravilhoso que esteja sim, mas dentro dos familiares existem uma chance alta de que alguém tenha um vírus, se essas pessoas não foram testadas, jamais saberemos“, expôs.
A dermatologista reforça ao Voz da Bahia, que tem conhecimento da dificuldade dos municípios adquirirem os testes, “eu sei que muitas outras cidades do tamanho de Santo Antônio de Jesus estão fazendo o mesmo número de testes, ou até menos, mas a gente não pode se espalhar nesse exemplo que não é boa ideia, a gente pode fazer diferente, eu estava em Salvador e o prefeito adquiriu 100 mil testes rápidos para realizar, na capital foram realizadas blitz de teste rápido, porque a gente não busca construir algo desse tipo? Porque não adquirimos testes rápidos para fazer em vias movimentadas? Tem uma chance maior de diagnosticar. O teste rápido tem suas dificuldades, não é 100% garantido, já que pelos primeiros 7 dias de doença não vai ser detectado, mas tem a sua utilidade, então eu acho que nesse momento tão difícil não é o momento de conflito, não podemos politizar, a gente precisa ao invés de entrar em conflito, vir buscar uma solução, porque está muito acima de uma mera questão política”, relata.
Com relação aos seus questionamentos a médica reafirma que não está questionando à gestão e sim cada um de nós, “eu acho que cada um de nós tem que fazer sua parte, eu estou falando, vou fazer minha parte que é conscientizar cada vez mais as pessoas, você está me entrevistando, está fazendo sua parte, eu acho que cada um individualmente tem que fazer isso. Quando uma pessoa pensa em ir a rua, eu acho que ela deve antes se questionar: é mesmo necessário que eu vá? Eu preciso ir? Será que eu não posso deixar para fazer isso depois? Em outro momento? Então, hoje em dia as pessoas estão muito da necessidade de usar máscara, realmente eu acho isso maravilhoso, mesmo antes do Ministério de Saúde indicar, eu me perguntava, porque que não se pedia para as pessoas usarem antes? Mas não gosto da falsa sensação de que a pessoa tem que ao estar de máscara está protegida, porque não é assim”, explicou.
Para finalizar, Cinara reforça que é preciso circular as informações de forma real, “é necessário essas críticas construtivas e os testes estão incluídos neste mesmo assunto. É preciso melhorar o confrontamento com a pandemia, pois ela é o nosso principal inimigo”, concluiu.
Reportagem: Voz da Bahia