Uma análise do banco BTG Pactual divulgada nesta semana mostrou que empresas de planos de saúde reajustaram em quase 26% seus preços em 2023. No caso da SulAmérica, o aumento foi de 25,8%. No Bradesco, ficou em 22,6% e na Amil, em 21,6%. Na média, os convênios médicos ficaram 15% mais caros. Isso para uma inflação medida pelo IPCA de estimados 4,72% para o ano. A pergunta a ser feita e óbvia: o que justifica tamanha diferença?
O fato é que índices gerais de preços como o IPCA, que mede a inflação oficial do Brasil, têm pouca aplicação nos diversos segmentos desse setor. Os reajustes dos planos de saúde individuais e familiares, por exemplo, são fixados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Para 2023, esse aumento foi limitado a 9,63%.
Os aumentos de até 26%, por sua vez, foram aplicados a planos por adesão e corporativos, nos quais as negociações são feitas diretamente entre as operadoras e as empresas contratantes. Houve, contudo, casos de elevações menores, como na Unimed Nacional, de 13,5%.
A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) afirma que os reajustes refletem a variação das despesas com assistência, afetada pela inflação da saúde, que não segue o mesmo ritmo dos demais setores. Além disso, alega a FenaSaúde, também pesam sobre os preços do segmento itens como a “obrigatoriedade da oferta de tratamentos cada vez mais caros, com doses, em alguns casos, a cifras milionárias, a ocorrência de fraudes e a judicialização do setor” (quando os usuários recorrem à Justiça para garantir o tratamento de uma doença).
Efeitos da pandemia
Para Leonardo Giusti, responsável pelo setor de Infraestrutura, Governo e Saúde da consultoria KPMG no Brasil, os reajustes dos preços dos planos ainda refletem efeitos da pandemia, quando os exames e os tratamentos médicos foram cancelados e ficaram represados. “Depois disso, eles foram liberados e provocaram um crescimento do consumo de saúde”, diz. “Em alguns casos, os custos para os planos aumentaram porque o quadro de muitos pacientes piorou.”
Embora Giusti considere que as despesas dos planos sejam elevadas, ele afirma que há espaço para a adoção de medidas que levem a cortes de gastos das empresas do setor – e a uma eventual redução do nível de reajustes de preços dos planos. Essas mudanças passam por uma gestão mais eficaz de custos, um acompanhamento permanente da evolução do quadro dos pacientes e pelo aumento da base de clientes, o que pode ocorrer por meio de uma consolidação do setor.
Consolidação do setor
O médico Carlos Lobbé, professor dos MBAs de gestão de saúde da Fundação Getulio Vargas (FGV), no Rio, também acredita que a consolidação dos planos de saúde é inevitável no Brasil. “Os 50 milhões de usuários do sistema suplementar não podem ficar distribuídos em 600 operadoras como ocorre hoje. Isso não é sustentável, porque não permite a diluição dos gastos dos pacientes de alto custo”, diz. “Ao menos 80% desses beneficiários deveriam estar em 10 ou no máximo 15 empresas.”
A necessidade de consolidação, nota Lobbé, vale para grandes companhias do segmento, como a SulAmerica, o Bradesco e a Amil, as três operadoras que promoveram os reajustes mais polpudos em 2023.
(Metrópole)