Em um ano, 3.612 lojas de varejo fecharam as portas na Bahia e 1.868 postos de trabalho foram perdidos nesse segmento. Os dados são da Pesquisa Anual de Comércio (PAC) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE), entre 2021 e 2022, e divulgada nesta quinta-feira (25). Empresários afirmam que a carga tributária, a concorrência com as vendas on-line e a violência estão por trás dessas quedas. Já o setor de Atacado teve crescimento de 26,5% com 2 mil novas lojas.
Em números absolutos a quantidade de estabelecimentos varejistas recuou de 72.385 para 68.773 (-5%). A promotora de vendas Joseane de Jesus, 31 anos, trabalhava há três anos em uma loja em Cajazeiras quando a empresa dispensou parte dos funcionários. Na época, a principal reclamação dos donos era a concorrência com o e-commerce, já que desde a pandemia os consumidores passaram a comprar mais pela internet.
“A loja só tinha mais movimento aos fins de semana, mas a dona reclamava muito das despesas. Depois que eu saí, mais ou menos, um ano depois a loja fechou. Para mim também era ruim ter pouco movimento, porque não recebia comissão, e depois que saí de lá levei quase sete meses para conseguir outro emprego”, conta.
Os motivos que levam um empresário a desistir do sonho do próprio negócio são diversos, mas o presidente do Sindicato dos Lojistas da Bahia (Sindilojas), Paulo Mota, apontou alguns fatores. A carga tributária é uma das principais reclamações do setor e que dificulta a geração de emprego, acompanhada de juros agressivos que desestimula as vendas a crédito e a instabilidade fiscal, além do e-commerce.
“Essa pesquisa retrata as dificuldades que o comércio varejista vem atravessando há alguns anos. Nossa carga tributária é pesada, o que dificulta a geração de emprego. A inflação está confortável, mas os juros agressivos desestimulam as vendas a crédito, e o e-commerce vem crescendo de uma maneira muito forte e com uma concorrência agressiva para as lojas físicas e para o comércio de rua”, explicou.
Outro fator apontado é o crescimento na violência que obriga lojistas a interromperem as atividades e afugentam os consumidores. Em abril, por exemplo, após quase uma semana de tiroteios em Mirantes de Periperi, no Subúrbio Ferroviário de Salvador, traficantes impuseram um toque de recolher e o fechamento do comércio. A situação deixou a população assustada e as lojas não abriram.
Apesar das reduções, a receita bruta do varejo teve alta de 12%, entre 2021 e 2022, passando de R$ 116,8 bilhões para R$ 131,1 bilhões, e o setor ainda é a maior fatia do comércio baiano representando 80,5% dos estabelecimentos comerciais no estado. O número de trabalhadores caiu de 365.929 para 364.061 (-0,5%). O diretor presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), Alberto Nunes, lembrou que o contexto influenciou nesses resultados.
“Os anos de 2020 e de 2021 foram péssimos para o varejo. Muitas lojas fecharam. Em 2022 a situação começou a melhorar, mas ainda com os efeitos da pandemia. Houve perda de empregos e as empresas passaram a contratar menos por conta do home office. O aumento da violência é outro fator predominante para as pessoas não abrirem mais lojas em determinais locais”, afirmou.
Ele explicou que o cenário melhorou em 2023 e que 2024 segue a mesma tendência. Os números do auge do período antes da pandemia ainda não foram alcançados, mas no último ano os resultados superaram os registrados em 2020, 2021 e 2022.
O presidente do Sindicato dos Comerciários de Salvador, Renato Ezequiel, informou que novas empresas chegaram a Salvador gerando novos postos de trabalho. Atualmente, a categoria reivindica melhores condições para desempenhar o serviço, redução do expediente e o pagamento pelos domingos trabalhados.
“Precisamos da redução da jornada de trabalho, porque apesar de a convenção determinar 44h semanais, muitas vezes, extrapola, tem trabalhadores atuando 10h a 12h por dia. Estamos com um contingente muito grande de comerciários doentes devido a assédio moral, perseguições no ambiente de trabalho, e as cobranças por metas e vendas. É uma demanda que está aumentando e que não tinha antes”, afirmou.
Estudo
A supervisora do IBGE, Mariana Viveiros, explicou que o mercado de 2022 ainda estava sentindo os efeitos da pandemia, e que o setor de varejo foi mais impactado pela covid-19 que o setor de atacado, por exemplo.
“Os dois fatores que determinam as venda do varejo não estavam favoráveis. A renda ainda estava em recuperação, o mercado de trabalho estava melhorando, mas a renda a gente só percebeu uma melhora no final de 2023. Além disso, a gente tinha também uma inflação mais alta como efeito do que ocorreu na pandemia”, explica Viveiros.
Além do setor varejista, a pesquisa avalia outros dois segmentos do comércio. No setor de veículos, peças e motocicletas 101 lojas fecharam as portas e restaram 6.672 em funcionamento (-1,5%). Eles também tiveram crescimento na receita entre 2021 e 2022 (12,1%), de R$ 21,3 bilhões para R$ 23,9 bilhões.
Já o comércio de Atacado foi na contramão e apresentou crescimento em todas as áreas. Em um ano foram abertos 2.087 estabelecimentos, o que representou 26,5% de crescimento, e gerados 3.861 postos de trabalho. A receita bruta de revenda pulou de R$ 98,6 bilhões para R$ 125,6 bilhões (27,4%).
Fonte: Correio