Uma vendedora temporária da loja da Track & Field, no Salvador Shopping, relatou ter sido vítima de racismo praticado pela gerente da unidade. O relato da vítima, que teve a identidade preservada, foi feito para o jornal Correio, e a agressão verbal teria ocorrido durante um treinamento de outras profissionais.
“Ela falou: ‘Gente, quando o cliente entrar procurando macaquinho ou macacão, vocês não vão encontrar no estoque dessa forma. Vocês vão encontrar como jump longo ou curto. Até porque macaquinho é um bicho pequenininho e parece ela’, apontando para mim”, relembra. “Eu nunca imaginei que seria chamada de macaquinha”, declarou.
De acordo com a publicação, o caso aconteceu no dia 4 de fevereiro, e na ocasião, a vendedora disse que chegou a confrontar a gerente da loja, sendo tudo gravado em seu celular. “Na hora, eu fiquei sem entender nada, porque o racismo faz isso: paralisa a gente. Eu só consegui falar ‘não entendi'”, lembrou. “Ela falou: ‘Se você quer levar por esse lado, tudo bem, mas não é o que você está pensando, não foi racismo'”, diz a vendedora. “‘Eu te chamei de macaquinha por conta do seu tamanho, porque você é pequenininha'”, teria acrescentado a agressora.
Talita (nome fictício da vendedora) registrou o caso Delegacia Especializada de Combate ao Racismo e à Intolerância Religiosa (Decrin) e um inquérito foi aberto pela Polícia Civi para apurar a denúncia. As investigações estão a cargo do Departamento de Proteção à Mulher, Cidadania e Pessoas Vulneráveis (DPMCV).
Em nota, enviada ao jornal, a Track & Field repudiou o ocorrido e informou ter aberto uma sindicância interna para apurar o caso.
“Como uma marca que busca promover o bem-estar das pessoas, a Track&Field é veementemente contra qualquer tipo de discriminação e informa que abriu uma sindicância interna para apurar o caso tão logo tomou conhecimento.
Todas as medidas cabíveis foram tomadas, incluindo a oferta de apoio psicológico aos envolvidos.
Reforçamos ainda que existe um canal interno anônimo para recebermos denúncias, reclamações e sugestões a fim de manter um ambiente seguro e saudável para todos que frequentam nossas lojas e realizamos treinamentos contínuos para nossos funcionários sobre diversidade, inclusão e prevenção de assédio e violências no trabalho.”
Em contato com a publicação, a vítima contou que chegou a receber atendimento psicológico da empresa, mas que a aconselhou fazer um acordo. “Percebi que uma psicóloga que foi paga pela empresa para me acolher, não fez o seu papel, tentou me manipular”, disse.
Ela ainda contou como foram os últimos dias no trabalho em que foi contratada por 45 dias e tinha tido o contrato renovado poucos dias antes do ocorrido. “Até o último dia lá foi muito sofrido continuar nessa empresa, lidando com isso, vendo que pessoas negras tinham um tratamento diferente”, lamentou.
Além da Polícia Civil, o caso está sendo acompanhado Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi), que encaminhou o caso para a Defensoria Pública e Ministério Público para ingressar com a ação criminal.