Hospital Luiz Argolo emite nota e nega negligência médica em caso denunciado por morador e vereador de S. A. de Jesus

Em nota a Santa Casa de Misericórdia de Santo Antônio de Jesus, diz que, vem, a bem da verdade dos fatos, e, em defesa da honra de todos os interessados

Foto: Reprodução/Sesab

Durante a sessão da Câmara Municipal de Santo Antônio de Jesus, realizada na noite da última segunda-feira (14), o morador João Guilherme Bittencourt utilizou a tribuna livre para relatar uma suposta negligência médica envolvendo o Hospital Luiz Argolo, administrado pela Santa Casa de Misericórdia. [VEJA ABAIXO A NOTA ENVIADA PELA SANTA CASA DE MISERICÓRDIA AO VOZ DA BAHIA]

Segundo ele, sua esposa enfrentou sérias complicações após o parto do segundo filho, ocorrido no início de março deste ano. Embora o nascimento tenha ocorrido de forma aparentemente tranquila, ele relatou que os dias seguintes foram marcados por falta de acompanhamento médico e sinais evidentes de sobrecarga de trabalho entre os profissionais da unidade.

“Não tivemos acompanhamento médico nenhum no segundo e no terceiro dia. Percebi o cansaço dos funcionários, técnicos dizendo que não tinham tempo nem para escovar os dentes ou comer. Trabalhando 24 horas direto. Isso não tem como resultar em um bom atendimento”, declarou.

O morador também afirmou que a esposa precisou ser submetida a duas cirurgias adicionais após o parto, em razão de complicações que não foram inicialmente identificadas durante a internação. Emocionado, ele relembrou o momento em que sua companheira, temendo pela própria vida, se despediu da família.

“Ela me disse que não ia tomar mais a medicação porque não aguentava mais e pediu que eu cuidasse dos nossos filhos. Chegou a desistir da vida dela. Graças a Deus conseguimos transferi-la para o Hospital Regional, onde foi feito um novo procedimento, e depois mais um.”

Além do relato pessoal, João chamou a atenção para outros casos semelhantes, que, segundo ele, também ocorreram enquanto permaneceu na unidade hospitalar.

“O que passamos não foi pontual. Outras famílias estavam enfrentando situações tão graves ou até piores”, acrescentou.

As denúncias reforçaram a preocupação expressa anteriormente pelo vereador Jorge Bomfim Fróes, popular Jorge de Dema (PDT), que informou a ocorrência de 14 óbitos fetais e neonatais registrados na Santa Casa nos últimos seis meses, número que estaria acima da média nacional. Durante a sessão, o vereador Uberdan Cardoso (PT) também questionou se há indícios concretos de negligência médica e defendeu que o caso seja apurado.

Diante da gravidade dos relatos, o presidente da Câmara, Caique Barbosa (PSDB), encaminhou o caso para análise da Comissão de Saúde do Legislativo, que deverá solicitar esclarecimentos formais à direção da Santa Casa.

Também foi sugerido que as unidades envolvidas emitissem notas oficiais detalhando os procedimentos adotados e os desdobramentos clínicos relacionados ao atendimento.

A Santa Casa de Misericórdia de Santo Antônio de Jesus vem a público, por meio desta nota, prestar os devidos esclarecimentos sobre as últimas informações veiculadas na imprensa. Reafirmamos nosso compromisso com a transparência, a ética e, sobretudo, com o cuidado e respeito à nossa comunidade.

Acompanhe a nota completa abaixo:

A Santa Casa de Misericórdia de Santo Antônio de Jesus, vem, a bem da verdade dos fatos, e, em defesa da honra de todos os interessados, se pronunciar sobre os fatos expostos envolvendo esta instituição, em resposta ao Sr. João Guilherme Bitencourt, esposo da paciente S.S.B durante a Plenária da Câmara Municipal de Santo Antônio de Jesus na data de 14/04/2025, esclarecemos:

1- A paciente desde a sua entrada, 08/03/2025, até sua transferência, foi devidamente acolhida, não só pela equipe médica e assistencial, mas também por pela diretoria administrativa. A paciente optou pela realização de parto cesáreo, sendo o procedimento transcorrido em perfeita ordem. Após 24 horas da realização do procedimento a paciente apresentou sintomas sugestivos de Íleo Paralítico, sendo atendida por diversos médicos da unidade, onde podemos afirmar veementemente que a paciente foi devidamente assistida. Outra inverdade proferida por Sr João, foi a pontuação da reclamação de outras pacientes,
visto que a acomodação da paciente S.S.B. foi em quarto individualizado, não tendo contato com outras pacientes das enfermarias.

2- Em momento algum foi deixado de comunicar ao acompanhante (Sr João) sobre condutas e o quadro da paciente, onde o mesmo demonstra gratidão (em áudio enviado a direção, como também foi expressado gratidão pela paciente). A comunicação foi efetuada tanto pela equipe médica quanto pela Direção administrativa, não apenas para o acompanhante, mas também a paciente. Sendo realizado diversos exames de alta complexidade como: ressonância magnética, tomografia computadorizada, ultrassonografias, dentre outros, para que pudéssemos chegar ao diagnóstico de forma segura. Por conduta do nosso profissional (cirurgião geral) o mesmo indicou realizar uma laparotomia exploradora no Hospital Regional de Santo Antônio de Jesus, que por intermédio da superintendência, foi solicitado a transferência ao Diretor Médico.

3- Quanto a fala do vereador Jorge de Dema gostaríamos de esclarecer o tão grande equívoco proferido, visto que os óbitos ocorridos na Santa Casa no segundo semestre de 2024 foram 21 óbitos fetais e nos três primeiros desse ano foram 12 óbitos fetais, ou seja, óbitos fetais são gestantes que chegaram com seus bebês na Santa Casa sem batimentos cardio fetais. Salientamos portanto que não é responsabilidade da nossa Unidade esse óbitos, e sim são resultados da falha na assistência ao pré-natal, o qual poderia ser evitado com o fortalecimento da atenção básica e dos cuidados pré-natais, fato que influencia diretamente nestes desfechos negativos. O Pré-natal, se ocorrido devidamente na atenção primária, pode identificar doenças já presentes no organismo, mas que podem evoluir de forma silenciosa, como hipertensão arterial, diabetes, problemas no coração, anemia e sífilis. O diagnóstico dessas doenças permite que o médico indique um tratamento adequado e assim evite maiores prejuízos à mulher e ao bebê. Além disso, durante os exames e consultas, o profissional de saúde irá identificar se o feto apresenta malformações cromossômicas ou outras questões que exijam atenção, como também possibilita identificar a existência precoce de pré-eclâmpsia, condição que se caracteriza pela elevação da pressão arterial, comprometendo a função renal e cerebral, ocasionando convulsões e comas. Essa problemática envolvendo a atenção básica no pré-natal não é apenas do município sede, mas também dos 23 municípios pactuados e os não pactuados que recebem recursos para realizar a assistência ao parto e não realizam. Quanto ao óbito materno citado, o diagnóstico foi de Eclampsia e Doença Hipertensiva Especifica da Gestação (DHEG), tendo como consequência Choque hipovolêmico, sendo estas as principais causas de óbitos maternos no Brasil. As Síndromes Hipertensivas são responsáveis por quase um quarto das mortes maternas no Brasil, o que, conforme o Ministério da Saúde, indica problemas na qualidade da assistência ao pré natal ofertada à gestante.

4- Segundo o conceito dos óbitos citados pelo vereador Jorge, pontuamos que no Manual de Preenchimento de Declaração de Óbito do Ministério da Saúde, tratando-se do termo Óbito neonatal, temos que “o período neonatal começa no nascimento (dia 0, ou inferior a 1 dia) e termina no 27º dia completo depois do nascimento” e “Óbito fetal: é a morte de um produto da concepção, antes da expulsão ou da extração completa do corpo da mãe, independentemente da duração da gravidez”. Isso significa dizer que, considerando a realidade da instituição, os registros comprovam que a grande maioria das gestantes são admitidas na instituição com ausência de registro de batimento Cardio Fetal. 5- No que tange ao serviço de UTI neonatal, também é um anseio desta instituição, que por diversas promessas não cumpridas, inclusive de campanha, só nos trouxe angustia e frustrações. Contudo o Rotary Club se solidarizou e firmou uma parceria, cuja reforma e ampliação foi realizada pela Santa Casa (através de emendas) e os equipamentos de suporte a vida foram doados pelo Rotary e emendas parlamentares. Apesar de não possuirmos leito de UTI Neonatal, nossa equipe médica altamente preparada, vem salvando vidas de vários Recém Nascidos, não se abstendo de buscar vagas, quando não há suporte adequado na unidade, através da regulação do estado.

6- Salientamos que a tripartite na saúde refere-se a gestão compartilhada no SUS, entre os governos federal, estadual e municipal, cabendo a vossas excelências representantes do povo e tendo como papel fundamental a cobrança aos entes. Reforçamos a qualidade da assistência obstétrica e neonatal da Santa Casa de Misericórdia de Santo Antônio de Jesus que, apesar do contexto de gravidade das pacientes assistidas e da ausência de UTI Neonatal, a instituição vem se empenhando ao máximo para que vidas não sejam perdidas. No contexto de gravidade das pacientes assistidas, o universo de óbitos para os nascidos vivos, demonstram a efetividade dos serviços prestados, porém traz uma preocupação com relação ao pré-natal realizado pela atenção básica, a qual representa papel fundamental na prevenção e/ou detecção precoce de patologias tanto maternas como fetais, permitindo um desenvolvimento saudável do bebê e reduzindo os riscos da gestante, o que não vem ocorrendo na sua maioria dos casos atendidos. Com base nos nossos atendimentos nos últimos 6 meses (julho a dezembro) do ano de 2024, apresentamos os seguintes dados:

Número de internamentos obstétricos
(clinico, curetagens, obstétrico e partos) Nº ÓBITOS MATERNO
PERCENTUAL
2217 00 0,00%
Número de Nascidos Vivos Nº DE ÓBITOS
NEONATAL
PERCENTUAL
1334 05 0,37%
Número de Partos Nº DE ÓBITOS FETAL PERCENTUAL
1451 16 1,20%
Diante do exposto a Santa Casa de Misericórdia de Santo Antônio de Jesus solicita o direito de resposta na tribuna da Câmara de Vereadores deste município, onde apresentaremos dados fidedignos extraídos do Ministério da saúde.

Reforçamos o nosso compromisso institucional para garantia da qualidade e segurança do paciente, bem como registramos a nossa solidariedade as pacientes e suas famílias.

Assinado: Dra Jussara Argolo – Diretora Técnica; Marcos de Andrade – Coordenador Médico da Obstetrícia; Elenildes Bastos – Diretora Administrativa.

google news