Acuado por acusações de corrupção e destituído pelo fim do governo Michel Temer (MDB), o núcleo de políticos próximos ao ex-presidente viu o cerco se fechar com a operação desta quinta-feira (21).
Temer e seu ex-ministro Moreira Franco, que tiveram a prisão preventiva decretada pelo juiz federal Marcelo Bretas, do Rio de Janeiro, eram exceção num grupo que chegou a comandar o Planalto e a Câmara ao mesmo tempo e acabou atrás das grades.
O chamado “quadrilhão” do MDB estava na mira da Procuradoria-Geral da República há mais de um ano. Agora sem prerrogativa de foro, o ex-presidente voltou a ser apontado como líder de organização criminosa na decisão que determinou sua prisão por tempo indeterminado.
Em setembro de 2017, Temer e emedebistas centrais em seu governo foram denunciados sob suspeita de formar uma organização criminosa e de obstruir a Justiça.
Foram alvos Moreira Franco, então ministro da Secretaria-Geral da Presidência; Geddel Vieira Lima, ex-ministro da Secretaria de Governo da Presidência; Henrique Eduardo Alves, ex-ministro do Turismo, Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara; e Eliseu Padilha, então ministro da Casa Civil -agora o único que nunca teve um mandado de prisão expedido.
Demais membros do “quadrilhão” estiveram presos por acusações variadas e acabaram perdendo seus postos no governo Temer.
Carlos Marun (MDB), aliado de Temer e seu último ministro da Secretaria de Governo, diz que o partido vai avançar, apesar da queda desses líderes. “As coisas avançam, não digo que o fim esteja decretado por essa prisão. Diria o contrário, essa prisão até sacode o brio da gente, porque o MDB é um partido que tem no DNA a questão do Estado de Direito e da democracia.”
Marun considera a prisão de Temer ilegal, injusta e arbitrária. O ex-presidente o indicou no último dia de mandato ao cargo de conselheiro de Itaipu Binacional, decisão que Jair Bolsonaro (PSL) manteve.
Fora do governo, Padilha voltou a se dedicar à advocacia em Porto Alegre e também a cursos de formação política na Fundação Ulysses Guimarães (FUG), da qual é vice-presidente. O ex-ministro é ainda 2º vice-presidente do MDB.
Moreira é o presidente da fundação, enquanto Romero Jucá (MDB), outro ex-ministro de Temer alvo de acusações de corrupção, é o 1º vice-presidente do MDB. As atividades partidárias mantinham os três em contato.
Embora não tenha sido preso, Padilha apareceu na delação da Odebrecht, tornada pública em dezembro de 2016. Ele teria participado com Temer de um jantar em que o ex-presidente pediu repasses a Marcelo Odebrecht para a campanha de 2014. Depois, ficou responsável por receber R$ 4 milhões dos R$ 10 milhões acertados.
Segundo a delação de Cláudio Melo Filho, Padilha ou Moreira eram os canais entre Temer e a Odebrecht.
Jucá, que chegou a ter um pedido de prisão feito pela Procuradoria, mas não atendido pela Justiça, fala reservadamente que é preciso renovar o partido e estuda uma modernização do estatuto e das regras do conselho de ética.
Em maio de 2016, ele deixou o cargo de ministro do Planejamento do governo Temer após a revelação dos diálogos em que fala em “estancar a sangria” da Lava Jato com ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Jucá tentou a reeleição para o Senado no ano passado, mas não foi reeleito.
Do grupo aliado a Temer, Cunha e Geddel continua presos atualmente. O ex-presidente da Câmara, peça-chave na articulação do impeachment, teve o mandato cassado em setembro de 2016 e foi preso no mês seguinte por desvios na Petrobras. Por esse caso, já foi condenado em segunda instância a 14 anos e seis meses de prisão.
Geddel, que está preso na Papuda, em Brasília, desde setembro de 2017, não durou muito no governo Temer. Deixou a Secretaria de Governo em novembro de 2016 após ser acusado pelo ex-ministro da Cultura de pressioná-lo a permitir um empreendimento imobiliário em uma região tombada de Salvador.
Em julho do ano seguinte, passou dez dias preso após operação deflagrada a partir da delação do doleiro Lúcio Funaro. Geddel voltou a ser preso quando a Polícia Federal apreendeu mais de R$ 51 milhões de reais desviados em malas e caixas em um apartamento que ele mantinha. Neste ano, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu 80 anos de prisão ao ex-ministro por esse caso.
Já Henrique Alves, preso em junho de 2017 por corrupção na Arena das Dunas, teve a prisão revogada em julho passado, mas não tem contato próximo com os demais ex-ministros do “quadrilhão”.
Assim como Geddel, ele já havia saído do governo Temer quando foi preso. Henrique Alves deixou o cargo de ministro do Turismo em junho de 2016, um mês após Temer assumir a Presidência. Ao lado de Jucá, ele foi alvo da delação de Sérgio Machado.
Além dos ex-ministros, Temer teve ainda outros dois auxiliares presos e afastados da vida pública. Um deles é Rodrigo da Rocha Loures, ex-assessor conhecido como homem da mala, que foi preso em junho de 2017 e solto no mês seguinte. Acusado de ter recebido uma mala com R$ 500 mil da JBS, ele foi denunciado três vezes ao lado do ex-presidente em casos de corrupção.
O segundo, José Yunes, mais que assessor, é amigo de Temer desde os tempos de estudante na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. Ele ficou preso por três dias, em maio do ano passado, e, ainda em 2016, pediu demissão do governo ao ser citado na delação da Odebrecht. Em depoimento ao Ministério Público, disse ter sido usado por Padilha como mula, para receber repasses da empreiteira.