Pai que perdeu filha em acidente na Bahia apela contra mudança em lei da cadeirinha

Foto: Arquivo pessoal

“Entristeceu o coração”. Assim o empresário baiano Rembrandt Cordeiro define o momento em que recebeu a notícia de que o fim da multa por quem não usa a cadeirinha para transportar crianças no carro estava entre as propostas do presidente Jair Bolsonaro para alterar o Código de Trânsito. Ele e a esposa, Sandra, perderam a filha caçula, Emilly Raquel, então com 3 anos de idade, em 2009, porque a menina estava fora da cadeirinha quando a família sofreu um acidente na rodovia BR 242, próximo a cidade de Ibotirama (BA).

Desde que ela morreu, eles iniciaram uma campanha para conscientizar outros pais e mães, comovendo muita gente. Eles instalaram painéis publicitários em vários pontos, com a foto da menina e a frase: “Ela não queria…. Eu aceitei e nós a perdemos. Use cadeirinha”. “As campanhas são um pedido de desculpa para nossa filha e para a sociedade. Nós erramos, assim como nosso presidente está errando em levar um projeto de lei dessa magnitude”, diz Rembrandt, que afirmou ter votado em Jair Bolsonaro e já publicou até vídeos nas redes sociais, com a esperança de sensibilizar o presidente, além da Câmara e do Senado, que também precisam aprovar as mudanças para que passem a valer.

“Aproveito esse momento para pedir ao nosso presidente que reveja essa situação. Em vez de abrandar um multa, que é tão pequena, por sinal, na minha concepção, deveríamos aumentar o valor e todo o dinheiro arrecadado deveria ser transformado em ações de conscientização nas escolas, na sociedade, para que realmente a gente possa proteger essas crianças indefesas. Esse é o nosso sentimento”, diz Rembrandt, em entrevista a CRESCER.

Embora 85% dos pais sejam contra o fim da multa, segundo enquete realizada em nosso Instagram nesta semana, a parcela da população que defende argumenta que a cadeirinha não será proibida e que cabe aos pais a responsabilidade de zelar pela segurança dos filhos, mesmo sem a multa. “O que eu tenho a dizer para essas pessoas que acham que os pais são os donos da razão é o seguinte: quando nós, pais, assumimos a responsabilidade de transportar nossos filhos sem a devida segurança da cadeirinha, quem paga a conta não somos nós. São nossos filhos, que pagam com a própria vida. Para nós, o que fica é o arrependimento; é aquele sentimento de culpa, de saber que você foi negligente em relação ao seu filho. O pai assume a culpa por ter cedido à vontade da menina de não usar a cadeirinha. “Minha filha tinha cadeirinha, mas não gostava de usar e faltou em nós mais determinação,  faltou impor que ela realmente estaria mais segura”. Não existe bem mais precioso do que o seu filho. Se, no dia em que aconteceu o acidente com a minha filha, minha esposa tivesse sido parada no posto da polícia e tivesse recebido uma multa no valor do carro ou se os policiais só a deixassem sair dali com a cadeirinha,talvez minha filha estaria hoje viva, em nosso meio, e não é a realidade”, afirma.

Os números confirmam que, desde o início da aplicação de multas para quem transporta crianças sem cadeirinha, em 2008, caiu a taxa de mortes na infância por esse motivo. Além disso, diversos testes já foram feitos para simular acidentes com e sem cadeirinha e comprovam a eficácia do dispositivo.

“Pais, eu que passei por esse momento de ter que enterrar minha filha, digo: não queiram passar vocês também. Vocês não sabem o tamanho da dor que é um pai ter de sepultar um filho. Hoje, essas campanhas que fazemos desde a partida dela, são tipo: ‘desculpa, filha’”. Rembrandt diz que espera que o presidente mantenha a multa e transforme o valor arrecadado em ações de conscientização. “Um povo consciente não precisará ser multado”, explica.

Desde a morte de Emilly, além das campanhas, Rembrandt e Sandra ficam de olho sempre que estão de carro. “Quando passamos por um carro e vemos uma criança ali, sem cadeirinha, fazemos questão de acompanhar aquele carro, pedir para parar e ir lá conversar. Muitas vezes, quando nos apresentamos e dizemos que somos os pais da Emilly, a pessoa toma aquele choque e assume um compromisso naquele momento, de que jamais transportará um filho sem cadeirinha”, conta.

Com a proposta de mudança no Código de Trânsito, a família já iniciou outra ação. Eles instalaram novos painéis pela cidade com a foto da menina, junto da frase: “A multa você paga, a vida do seu filho não tem preço”, além da frase marcante da campanha “Ela não queria”. ( Revista Crescer)

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