Alvo de denúncias e desconfiança quanto a aplicação de uma pesquisa e testagem para o novo coronavírus (Covid-19) junto à população de 133 cidades em todo o Brasil, a Universidade Federal de Pelotas (UFPel) afirmou que a repercussão negativa em torno do estudo “se deve, em grande parte, a falhas de comunicação”. Em Vitória da Conquista, no Sudoeste da Bahia, uma equipe contratada pela instituição chegou a ser detida (veja aqui) durante a primeira etapa, iniciada nesta quinta-feira (14).
A pesquisa, intitulada como Evolução da Prevalência de Infecção por Covid-19 no Brasil (Epicovid-19), é financiada pelo Ministério da Saúde (MS) e está sendo executada pelo Centro de Pesquisas Epidemiológicas da UFPel em parceria com o Ibope Inteligência. Esse é o maior estudo do instituto em 33 anos.
A pretensão é que, somente na Bahia, dez cidades sejam beneficiadas pela Epicovid-19 através de três rodadas de aplicação de questionários e testes sanguíneos – sendo feitos 250 testes em cada uma delas. O critério de escolha das cidades considera as “cidades sentinela”, as maiores urbes, de regiões demográficas definidas pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Estatística (IBGE).
No processo de testagem, caso a pessoa submetida seja diagnosticada com a presença de anticorpos que apontem a presença ou a ocorrência do vírus na corrente sanguínea, um material informativo será disponibilizado para o paciente, junto com o aconselhamento para que procure uma unidade de saúde e adote ao isolamento. Além disso, será feita a notificação para a Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, que informará aos estados e municípios.
O Bahia Notícias foi procurado por um denunciante que afirmou que os aplicadores não estariam preparados para a execução do serviço. De acordo com a informação dada por ele, as pessoas contratadas para o estudo não teriam qualificação e foram submetidos a treinamentos curtos, de apenas um dia.
Questionada pela reportagem, a UFPel negou as acusações. Conforme explicou uma das responsáveis pela aplicação, a professora Mariangela Freitas da Silveira, do Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da instituição gaúcha, “a pesquisa é idônea, foi aprovada pela CONEP [Comissão Nacional de Ética em Pesquisa] e apoiada pelo MS [Ministério da Saúde]”. Segundo ela, o treinamento ofertado para os entrevistadores é padrão e o erro que causou problemáticas foi a ocorrência de falhas de comunicação com as Secretarias de Saúde dos municípios.
Também procurado, o Ministério da Saúde justificou que enviou comunicados para os órgãos regionais relacionados à área da saúde assim como para os conselhos representativos de gestores. “As coordenações estaduais de Atenção Primária à Saúde receberam ofício do Ministério da Saúde sobre a realização da pesquisa. A notificação também foi enviada aos conselhos de secretários de saúde estaduais (Conass) e municipais (Conasems)”, afirmou, se detendo a ressaltar a idoneidade do estudo e relatar os detalhes do processo de aplicação.
A Secretaria de Saúde do Estado da Bahia (Sesab) alegou que nenhum comunicado oficial foi enviado para ela sobre esta pesquisa. O Conass e o Conassems também foram contactados por e-mail, mas nenhuma resposta foi obtida até o fechamento desta matéria.
Mesmo diante da ocorrência de problemas, a professora Mariangela Freitas afirmou que dará prosseguimento à iniciativa. “Vai continuar conforme está aprovado no projeto, mas com certeza com melhor estratégia de comunicação, diretamente com os municípios e com a imprensa e com correções de possíveis falhas da equipe”, concluiu.
MUNICÍPIOS BAIANOS
Segundo a assessoria do estudo, duas cidades baianas estão com a primeira rodada prejudicada: Paulo Afonso e Irecê. No primeiro município, devido a hostilidade para com os aplicadores, novas pessoas terão que ser recrutadas por conta da desistência de membros da primeira equipe. Em Irecê, o Epicovid-19 está em trâmite para que haja a liberação da pesquisa e da aplicação de testes. Já os entrevistadores detidos em Vitória da Conquista foram liberados no mesmo dia, disse a assessoria.
Na capital baiana, Salvador, a comunicação chegou através do Ibope e a implementação está sendo avaliada. Conforme disse a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal da Saúde (SMS) não há, no entanto, previsão de quando os trabalhos poderão ser iniciados.
Contrariando a regra, que se repete em municípios de todo o Brasil, em Barreiras a situação foi diferente. A prefeitura chegou a divulgar um informativo com detalhes sobre o estudo, que já foi iniciado em 25 localidades da cidade. O informativo, publicado nos canais oficiais da administração municipal destaca o apoio do município com a disponibilização de veículos e motoristas para facilitar a mobilização das equipes, a mobilização de profissionais de saúde para fazer as orientações necessárias, além de máscaras e outros insumos.
Além dos municípios citados aqui (Vitória da Conquista, Paulo Afonso, Irecê e Barreiras), integram a lista as cidades de Feira de Santana, Guanambi, Ilhéus, Itabuna, Juazeiro e Santo Antônio de Jesus (veja aqui).
por Ailma Teixeira / Bruno Leite – Bahia Notícias