Após aumento de 30% no desmatamento, Salles anuncia intenção de reduzir desmate ilegal na Amazônia

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (4º da esquerda para a direita), em meio a governadores dos estados da Amazônia durante anúncio de ações contra o desmatamento. — Foto: Letícia Carvalho/G1
Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles (4º da esquerda para a direita), em meio a governadores dos estados da Amazônia durante anúncio de ações contra o desmatamento. — Foto: Letícia Carvalho/G1

O ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, anunciou nesta quarta-feira (20) a intenção de reduzir o desmate ilegal e o desmatamento total até 2020. Não foram divulgadas metas para a diminuição progressiva, nem um prazo final para a queda dos crimes ambientais.

O anúncio ocorre dois dias depois da divulgação da taxa oficial de desmate relativa ao período de agosto de 2018 a julho de 2019, quando a devastação da floresta teve um crescimento de 29,5% em relação ao período anterior. Foram 9.762 km² desmatados na Amazônia no período que se encerra em 2019, contra 7.536 km² no período anterior.

Desmatamento na Amazônia - dados do Prodes — Foto: Rodrigo Sanches/G1
Desmatamento na Amazônia – dados do Prodes — Foto: Rodrigo Sanches/G1

Em Brasília, Ricardo Salles falou em “ambientalismo de resultados” e apresentou diretrizes que devem guiar as ações do governo federal. “Mais importante do que estabelecer metas é estabelecer estratégias”, disse o ministro.

Os principais eixos da proposta do ministro para reduzir o desmatamento são:

  • Regularização fundiária
  • Monetização da preservação
  • Zoneamento econômico e ecológico
  • Fundo Petrobrás

Antes do evento, o ministro se reuniu com governadores dos estados da Amazônia Legal, compostos por Amazonas, Acre, Amapá, Rondônia, Roraima, Pará, Mato Grosso, Tocantins e parte do Maranhão. Segundo Salles, todos estão de acordo com as diretrizes apresentadas.

A divulgação dos números preliminares sobre o desmatamento foi alvo de críticas do governo Jair Bolsonaro ao Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), órgão vinculado ao Ministério da Ciência responsável pelo monitoramento. Bolsonaro chegou a declarar que o então presidente do instituto, Ricardo Galvão, deveria estar “a serviço de alguma ONG”, episódio que levou a sua exoneração.

Regularização fundiária

O ministro do Meio Ambiente citou a “regularização fundiária” como forma de diminuir os conflitos ambientais da Amazônia. Resolver o problema é uma demanda histórica: entender de quem é a terra para conseguir cobrar medidas de proteção à floresta para os devidos responsáveis. Algumas propriedades da Amazônia não foram destinadas, outras foram ocupadas de forma irregular há décadas.

“Há consenso entre todos os governadores de que é fundamental a regularização fundiária na Amazônia. Isso precisa se tornar realidade. Cooperação foi estabelecida hoje entre estados com o governo federal”, afirmou durante entrevista coletiva para jornalistas.

Salles destacou ainda que há uma Medida Provisória sobre o tema em análise na Secretaria de Assuntos Jurídicos (SAJ) do Palácio do Planalto. Independente de mudanças no processo, já existe um projeto em andamento para melhorar o controle das terras no Brasil: o Cadastro Ambiental Rural (CAR).

O CAR foi criado há 7 anos, e regulamentado há 5 anos. Trata-se de um registro público eletrônico, inspirado no sistema da Receita Federal, em que os donos de terra precisam declarar a propriedade e ceder as informações ambientais sobre ela. Isso gera uma base de controle, que pretende ajudar, entre outras metas, no controle ao desmatamento. Uma das fontes de implemetação é o Fundo Amazônia, paralisado desde o início do ano.

O presidente Jair Bolsonaro falou sobre o tema nesta manhã durante entrevista na saída do Palácio da Alvorada. Segundo ele, o governo pretende dar a titularidade de áreas para os proprietários, a fim de identificar os responsáveis pelos crimes.

Em setembro, o Incra havia anunciado a criação de um comitê para agilizar este processo. Alguns estados já estão revisando as legislações, como foi o caso de Roraima, que alterou a lei de regularização fundiária do estado, conhecida como Lei das Terras.

Governo prepara MP para regularizar terras com base na autodeclaração
Governo prepara MP para regularizar terras com base na autodeclaração

ONGs falam de planos vagos

Durante a coletiva, o ministro do meio ambiente não detalhou os projetos para “monetizar a preservação” e fazer “zoneamento econômico e ecológico”. A WWF-Brasil e o Greenpeace se posicionaram logo após as declarações.

“Seguimos sem um plano concreto para conter o desmatamento na Amazônia. O ministro Ricardo Salles apresentou um conjunto de ideias que não serão suficientes para conter o atual ritmo de destruição da Amazônia”, afirma Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil. “Não existe ambientalismo de resultados sem metas, prazos, atribuições e recursos. Sem isso, nenhum plano é efetivo”, completa.

Márcio Astrini, coordenador de políticas públicas do Greenpeace, disse que o ministro fez um “discurso vazio”:

“Não foram apresentadas metas, prazos, custos e nem mecanismos de implementação. Pelo contrário, propostas como a de regularização fundiária poderão premiar a grilagem de terras e incrementar ainda mais a destruição florestal. De acordo com o que foi dito hoje, fica claro que temos um governo incapaz em lidar com a atual crise do aumento do desmatamento, uma situação que ele mesmo criou”.

Fundo Petrobrás

Durante a reunião, os gestores discutiram ainda a partilha do Fundo Petrobrás destinado ao combate às queimadas e ao desmatamento.

Parte desses recursos, de acordo com o ministro do Meio Ambiente, será investida no restabelecimento do TerraClass para os anos de 2016, 2018 e 2020, programa do Inpe que amplia análise da perda de floresta e relaciona com outroas fatores, como o uso das terras da região. O Prodes faz o mapeamento das áreas, mas é o TerraClass que investiga os motivos e aponta as possíveis causas da derrubada de árvores.

Um igarapé no meio da Amazônia, na Floresta Nacional do Tapajós — Foto: Marcelo Brandt/G1
Um igarapé no meio da Amazônia, na Floresta Nacional do Tapajós — Foto: Marcelo Brandt/G1
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