A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado Federal aprovou, nesta terça-feira (24/8), por 21 votos a 6, o procurador-geral da República, Augusto Aras, para o próximo biênio. Indicação segue ainda nesta terça para análise no plenário do Senado, onde necessita obter, ao menos, 41 votos favoráveis dos 81 senadores.
Durante cerca de 6 horas, o procurador-geral da República respondeu a perguntas sobre a CPI da Covid-19, possíveis omissões quanto aos atos do presidente Jair Bolsonaro,Operação Lava Jato,as prisões dos bolsonaristas Daniel Silveira e Roberto Jefferson,entre outros assuntos.Após a sabatina, o procurador-geral e senadores governistas se reuniram com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), no gabinete da Presidência.
“Ameaças reais”
O procurador-geral da República reconheceu que houve “ameaças reais” a ministros do STF e, portanto, foram justificáveis as prisões dos bolsonaristas Daniel Silveira e Roberto Jefferson.
“No momento posterior da prisão, tanto de Daniel Silveira, quanto do Roberto Jefferson, houve ameaças reais aos ministros do Supremo. De maneira que, se, no primeiro momento, a liberdade de expressão era o bem jurídico constitucional tutelado mais poderoso que existe dentro da Constituição, no segundo momento, abandonou-se a ideia da liberdade de expressão para configurar uma grave ameaça”, acrescentou
Operação Lava Jato
Aras também fez questão de destacar que o PGR “não é censor de qualquer outra autoridade”. Entretanto, “é fiscal das condutas que exorbitem a legalidade”.
“O modelo das forças-tarefas, com pessoalização, culminou em uma série de irregularidades, tais como os episódios revelados na Vaza Jato, a frustrada gestão de vultosas quantias arrecadadas em acordo de colaboração e acordos de leniência, por meio de fundos não previstos em lei”, declarou.
“Política para políticos”
Buscando descolar a imagem de alinhamento com o presidente Jair Bolsonaro, Aras afirmou que age dentro da técnica jurídica e destacou que “a política é para os políticos”.
“Importante não apenas preservar a ideia que o PGR deve se ater ao discurso jurídico, com base na lei e na Constituição, sem imiscuir no dia a dia político. A política é para os políticos e, afora as intervenções ilegais da política que aceba ao PGR, a Constituição diz que quem resolve os problemas políticas são esta Casa, quando julga os crimes de responsabilidade que tecnicamente são meras infrações políticas”, declarou.
“O Ministério Público não é de governo, nem é de oposição. O MP é constitucional. E essa importância constitucional faz com que não se meça a posição, a eficiência, o trabalho do PGR por alinhamento ou desalinhamento com posições ideológicas ou políticas de quem quer que seja”, disse.
CPI da Covid-19
O PGR disse que cumprirá a lei no que tange a CPI da Covid-19 e que há um acompanhamento diário aos trabalhos da comissão.
“Eu renovo e ratifico meu compromisso com essa Casa e assim o farei quando receber o relatório da CPI da Covid. Posso dizer que o Giac [Gabinete Integrado de Acompanhamento] tem fornecido todos os elementos que dispõe a CPI da Covid, exatamente para a CPI tenha as informações já coletadas pelo Ministério Público. Muito há por se fazer”, afirmou.
“O procurador tem a equipe do Giac que acompanha diariamente os debates da CPI, coleta dados e analisa cada sessão da CPI, os depoimento coligidos”, agregou.
Omissão
“Acredito que a eficiência na atuação do PGR não deve ser mensurada por proselitismo ideológico, operações policiais espetaculosas ou embates na arena política”, apontou o PGR.
Aras foi indicado pelo presidente Jair Bolsonaro fora da lista tríplice da Associação Nacional de Procuradores da República (ANPR) para ser reconduzido ao cargo de procurador-geral da República, com mandato para o biênio 2021-2023. Ele ocupa o posto desde setembro de 2019.
Perfil
Nascido em Salvador, na Bahia, Antônio Augusto Brandão de Aras, de 62 anos, é doutor em direito constitucional pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, mestre em direito econômico pela Universidade Federal da Bahia e bacharel em direito pela Universidade Católica de Salvador. Ele ingressou no Ministério Público em 1987. (Metropoles)