No dia 24 de agosto, a tragédia que matou 19 pessoas a bordo da lancha Cavalo Marinho I completa exatos cinco anos. São cinco anos de uma dor que se mantém viva, tanto pela gravidade do fato em si, quanto pela demora em indenizar familiares e sobreviventes daquele fatídico dia.
A funcionária pública Jucimeire Santana, de 51 anos, usa palavras fortes para exprimir o que sente sempre que o tema é mencionado. “Eu não perdoo eles”, diz. Ela era uma das 116 pessoas que estava a bordo da lancha que virou, cerca de 10 minutos depois de deixar o Terminal de Mar Grande, na Ilha de Itaparica.
Para ela, a última informação foi uma oferta de acordo em que receberia entre R$ 5 a 7 mil reais, além de um aparelho celular (o dela foi perdido no mar) para encerrar o processo de indenização. “O valor maior era para as famílias que perderam alguém. Quando o juiz perguntou se não havia outra proposta, o advogado da empresa respondeu que era pegar aquilo ou não receber nada”, conta Jucimeire. Ela não aceitou a proposta e segue movendo ação na Justiça.
“Parece que ninguém está nem aí para nada. Que só o que importa é o dinheiro”, acrescenta Alexandra Bonfim que perdeu a irmã, Alessandra Santos, na tragédia. Alessandra tinha 35 anos e deixou um filho, à época de um ano e seis meses.
Em agosto de 2020, o caso foi julgado pelo Tribunal Marítimo da Marinha do Brasil, que condenou o engenheiro (Henrique José Caribé Ribeiro), e o dono (Lívio Garcia Galvão Júnior) como responsáveis pela tragédia da Cavalo Marinho I. Houve o entendimento que a situação foi causada por problemas construtivos que não tinham sido detectados porque a embarcação não foi submetida à prova de inclinação e estudo de estabilidade depois de reformada. A má distribuição dos passageiros, entre a parte de cima da lancha e a parte de baixo, também contribuiu para o naufrágio. A decisão foi enviada para o Ministério Público da Bahia. O Tribunal de Justiça da Bahia ainda não marcou data para o julgamento do caso.
NOVA CONCESSÃO
Daqui a um mês, a concessão com a empresas que operam o serviço Salvador- -Itaparica vai terminar e o futuro da travessia está rodeado de incertezas. A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) confirmou ao Jornal da Metropole a existência de um novo certame. É possível, que as mesmas empresas hoje responsáveis pelos serviços participem novamente do processo para conseguir uma nova concessão.
A única exceção diz respeito à CL Transportes Marítimos, dona da lancha que naufragou. Durante as investigações sobre o acidente, a empresa perdeu, em 2021, o registro de armador e não pode mais operar transporte marítimo. O MP investiga se o dono da CL não transferiu a operação para outras empresas para concorrer novamente à licitação. (Metro1)