O presidente Jair Bolsonaro realizou 116 ataques a jornalistas ou veículos de comunicação em 2019, de acordo com levantamento da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas). Foram 11 ataques a jornalistas, e 105 tentativas de descredibilização da imprensa – o número equivale a quase dez ataques por mês.
O monitoramento realizado pela Fenaj inclui apenas os pronunciamentos registrados por escrito nos meios oficiais do presidente, que são seu perfil oficial no Twitter e as entrevistas e discursos transcritos no site do Palácio do Planalto. Assim, o número real de ataques à imprensa é ainda maior que o estimado pela Fenaj.
No dia 20 de dezembro, por exemplo, Bolsonaro desferiu violentos ataques a jornalistas em entrevista realizada na portaria do Palácio da Alvorada, mas as agressões verbais não foram incluídas no levantamento por não terem sido transcritas no portal da Presidência da República.
“Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, declarou na ocasião, sendo aplaudido por apoiadores. Depois, ao ser questionado se havia guardado o comprovante de um empréstimo feito a Fabricio Queiroz, respondeu: “Pergunta para tua mãe o comprovante que ela deu pro teu pai, tá certo?”.
Naquele dia, a Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, em nota, condenaram os ataques e pediram que as redações reavaliassem a decisão de deslocar repórteres para a cobertura na entrada e na saída do Palácio da Alvorada, onde os jornalistas dividem espaço com apoiadores do presidente.
“A estrutura no local é precária e as ameaças de apoiadores do presidente aos profissionais de imprensa são constantes. Não existe segurança para os jornalistas no local”, dizia a nota.
No comunicado emitido na quinta (2), que trouxe a compilação dos dados referentes aos ataques de Bolsonaro à imprensa em 2019, Maria José Braga, presidente da Fenaj, afirma que “quando um chefe de Estado ataca sistematicamente profissionais e veículos de imprensa, incentiva que seus apoiadores façam o mesmo, inclusive com intimidação, ameaças e até agressões”.
Dentre os tentativas de descredibilização da imprensa, foram constantes os ataques à Folha de S.Paulo e aos veículos do Grupo Globo, classificando notícias negativas a ele e a seu governo como “fake news” – Bolsonaro chegou a afirmar que poderia não renovar a concessão da TV Globo.
Em diversas declarações, se disse “perseguido”, “massacrado”, “criticado” e “esculachado” pela mídia. Ele também chamou os profissionais de imprensa, repetidamente, de “militantes” e “esquerdistas”.
Houve, ainda, ataques diretos a jornalistas. No dia 16 de maio, em Dallas, nos Estados Unidos, ao ser interpelado a respeito do corte de verbas destinado às universidades federais, questionou uma jornalista. “Você é da Folha?”, perguntou. “Eu sou da Folha”, respondeu a profissional.
O presidente, então, atacou: “Primeiro, você é da Folha de São Paulo, tem que entrar de novo numa faculdade que presta e fazer um bom jornalista. É isso que a Folha tem que fazer. Não contratar qualquer uma ou qualquer um para ser jornalista, para ficar semeando a discórdia e perguntando besteira por aí e publicando coisa nojenta. Isso que vocês da Folha têm que fazer, não fica… Tá bom, tá bom, continua. Tenho todo respeito a você. Continua. Quer debater orçamento comigo?”
É possível conferir a linha do tempo dos ataques do presidente à imprensa, de janeiro a dezembro de 2019, bem como acessar a planilha com os hiperlinks de redirecionamento.
A Fenaj informou que o monitoramento dos ataques de Bolsonaro à imprensa constará no Relatório Anual da Violência contra Jornalistas e Liberdade de Imprensa no Brasil, que será divulgado no próximo dia 16, no Rio de Janeiro. (Bahia.Ba)