O presidente Jair Bolsonaro disse nesta terça-feira, 30, que não existem documentos que possam comprovar como ocorreu a morte do pai do presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Felipe Santa Cruz, durante a ditadura militar. Bolsonaro classificou os arquivos oficiais sobre mortos e desaparecidos durante o regime, produzidos pela Comissão Nacional da Verdade, como “balela”.
“Nós queremos desvendar crimes. A questão de 1964, não existem documentos se matou, não matou, isso aí é balela. (…) Você quer documento para isso, meu Deus do céu. Documento é quando você casa, você se divorcia. Eles têm documentos dizendo o contrário?”, disse Bolsonaro, após deixar uma reunião com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), no Palácio do Alvorada.
Na segunda-feira, 29, Bolsonaro afirmou que poderia “contar a verdade” sobre a morte do pai de Santa Cruz. Em seguida, o presidente apresentou uma versão sobre o desaparecimento que não tem respaldo em informações oficiais.
Bolsonaro afirmou inicialmente que tinha ciência de como Fernando Augusto de Santa Cruz Oliveira “desapareceu no período militar”. Depois, disse que ele foi morto por correligionários na década de 1970. A declaração contraria uma lei vigente e uma decisão judicial que reconhecem a responsabilidade da União no sequestro e desaparecimento do então estudante de direito em 1974.
Santa Cruz disse que irá ao Supremo Tribunal Federal (STF) pedir que Bolsonaro diga o que sabe sobre o desaparecimento do pai. O presidente tergiversou ao ser questionado se prestaria esclarecimentos à Corte. “O que eu sei é que não tem nada escrito de que foi isso ou foi aquilo. O meu sentimento é esse”, afirmou.
Também perguntado se a sua tese não contrariava informações levantadas pela Comissão Nacional da Verdade, Bolsonaro afirmou que o órgão tinha sete integrantes indicados pela ex-presidente Dilma Rousseff (PT). “Você acredita em Comissão da Verdade? Você acredita no PT?”, indagou.
Questionado se poderia contestar oficialmente os documentos da comissão, Bolsonaro disse que não pretende “mexer no passado”. O presidente ainda citou a morte do ex-prefeito de Santo André, Celso Daniel (PT), ocorrida em 2002. É comum ver Bolsonaro mencionando o assassinato do petista quando é indagado sobre questões referentes à ditadura militar.
Segundo Bolsonaro, a OAB não tem interesse em que se desvende quem seriam os supostos mandantes do ataque a faca que ele sofreu durante a campanha eleitoral. A Polícia Federal encerrou as investigações do caso, concluiu que o agressor, Adélio Bispo, agiu sozinho e o considerou inimputável por ter problemas mentais. (Veja)