Boulos ignora empate com Nunes e distorce pesquisa Datafolha em rede social

A equipe do prefeito considerou os números positivos.

Foto: Bruno Spada/Câmara dos Deputados/Arquivo

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) distorceu em suas redes sociais o resultado da primeira pesquisa Datafolha de 2024 para a Prefeitura de São Paulo ao ignorar o empate técnico na liderança com o o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB).

Nos três cenários possíveis, há um empate técnico, considerando a margem de erro de três pontos para mais ou para menos. Boulos e Nunes aparecem na liderança, isolados dos demais candidatos, com, respectivamente, 30% a 29%, ou 29% a 30% ou ambos com 33%.

Os dados da pesquisa desta segunda-feira (11) mostram que Nunes ganhou terreno —ele aparecia em segundo lugar na pesquisa anterior, de agosto de 2023, com 24%, embora os dois levantamentos não sejam diretamente comparáveis por terem pré-candidatos distintos.

Em seu Instagram, Boulos ignorou o empate com Nunes e divulgou que, segundo o Datafolha, é o primeiro em intenções de votos, o que não condiz com os dados do levantamento. Ele foi imediatamente criticado por aliados de Nunes e por bolsonaristas.

“Bom dia! Começamos a semana com mais uma pesquisa que aponta nossa chapa como a preferida da população de São Paulo. Muito obrigado pelo apoio e confiança!⁣”, afirmou o deputado federal.⁣

Fabio Wajngarten, braço direito de Bolsonaro, chamou Boulos de mentiroso. “Invasor de terras continua mentindo. Não se deixe enganar”, escreveu no X.

“Até o resultado da pesquisa você distorce. Na verdade vcs estão em empate técnico. Ele ainda é desconhecido por metade da população. Se prepara para perder!”, escreveu o deputado estadual bolsonarista Tomé Abduch (Republicanos), vice-líder do governo Tarcísio de Freitas (Republicanos).

O resultado da pesquisa foi comemorado pelo prefeito e atribuído pela equipe do deputado psolista à máquina de propaganda da gestão.

A equipe do prefeito considerou os números positivos. Aliados do emedebista apontam que o aumento na intenção de votos se deve a entregas da prefeitura —afinal, a avaliação da gestão Nunes também melhorou, com 29% de aprovação ante 23% em agosto.

Outro fator apontado por interlocutores de Nunes é o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se consolidou em janeiro. Na opinião deles, o prefeito pode ter somado os seus eleitores e os de Ricardo Salles (PL), que seria o candidato bolsonarista, mas não teve como lançar seu nome depois de Bolsonaro optar pela aliança com Nunes.

Aliados do prefeito observam, no entanto, que 18% dos que se declaram petistas preferem Nunes, o que o impede de caminhar para uma bolsonarização total. Nunes tem feito questão de ressaltar que, durante a pandemia, São Paulo foi a capital da vacina e que não faltaram leitos ou insumos, num contraponto claro ao negacionismo do ex-presidente.

Nas equipes de Boulos e de Tabata Amaral (PSB), que marca 8% no cenário com todos os pré-candidatos, o bom resultado de Nunes foi minimizado e tido como esperado considerando o gasto da administração com obras e com publicidade. Nunes tem um recorde de R$ 16 bilhões para investimentos no Orçamento de 2024.

Na avaliação dos estrategistas do PSOL, é preciso divulgar as suspeitas que pesam contra a gestão Nunes em relação a essas despesas e obras emergenciais.

“A pesquisa reflete bem o uso da máquina e dos gastos em propaganda. O que o eleitor ainda não sabe é que a atual gestão é como o ditado popular: ‘por fora bela viola, por dentro pão bolorento’. É indispensável que a a imprensa mostre os escândalos de corrupção e superfaturamento desta gestão”, afirma Lula Guimarães, marqueteiro responsável pela pré-campanha de Boulos.

Eduardo Scolese/Folhapress

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