Brasil registrou aumento das queimadas em todos os seis biomas em 2019

Foto: Victor Moriyama/Getty Images

As imagens da floresta Amazônica em chamas correram o mundo no ano passado e provocaram imensa comoção – e até uma crise diplomática entre o Brasil e países ricos –, mas a região não foi a única a sofrer com os incêndios no país.

Em 2019, todos os seis biomas brasileiros registraram aumento do número de queimadas na comparação com 2018. A última vez que isso ocorreu foi em 2002. Individualmente, as altas chegaram perto dos 500% e bateram recordes que perduravam há 14 anos, segundo dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais).

O maior aumento percentual, de 492,8%, foi registrado no Pantanal. No Pampa, o número de incêndios quase dobrou (91,3%). Na Mata Atlântica e no Serrado, a alta ficou na ordem de 60%, e na Caatinga e Amazônia, em 30%. Mais extenso dos biomas, a Amazônia teve o maior número absoluto de focos de incêndios: 89,1 mil, ou 20,8 mil a mais do que em 2018.

No auge destas queimadas, em agosto, o tema chegou à cúpula do G7 (grupo de países ricos), que ofereceu US$ 20 milhões para auxiliar nas ações de combate.

O governo brasileiro, que interpretou a oferta como uma ameaça a sua soberania, rejeitou a ajuda – enquanto o presidente Jair Bolsonaro e o presidente da França, Emmanuel Macron, trocavam declarações com críticas e ofensas mútuas.

Ainda na esteira da crise, a Alemanha e a Noruega anunciaram cortes nos repasses para o bilionário fundo Amazônia – criado para a conservação da floresta. Questionado pelo Metro Jornal há duas semanas, por e-mail e telefone, o Ministério do Meio Ambiente não respondeu sobre quais fatores contribuíram para o aumento.

Mapa de Calor - incêndio biomas brasileiros em 2019

Focos caíram após decreto e uso do Exército

O governo federal reagiu no final de agosto ao aumento dos focos de incêndio, mas com foco na Amazônia. Decreto publicado no dia 29 daquele mês proibiu por 60 dias as queimadas legais no país, como as utilizadas em práticas agrícolas. Dois dias depois, o governo restringiu a medida apenas para estados da Amazônia Legal. Também no fim de agosto, o governo enviou para a região amazônica integrantes das Forças Armadas.

As medidas tiveram resultado na Amazônia. Depois de 30 mil focos em agosto, os casos caíram para 19 mil em setembro e 7 mil em outubro, menor número para o mês desde 1998. Já nos outros biomas, que ficaram de fora das ações, a tendência de alta permaneceu. Na Caatinga e Pantanal, por exemplo, os últimos quatro meses tiveram o maior número de incêndios.

Incêndios não são comuns na Amazônia e Mata Atlântica

Coordenador de monitoramento da The Nature Conservancy Brasil, Mário Barroso explica que a vegetação em cada bioma influencia na incidência dos incêndios. “Para se ter queima, são necessários combustível, no caso as plantas, condições climáticas favoráveis e um ativador do fogo. Em uma região com vegetação verde e úmida, as chances são menores.” É por isso que o aumento de casos na Amazônia chamou a atenção, assim como na Mata Atlântica, que possui as mesmas características, diz o especialista.

“Para a Amazônia queimar, algo está acontecendo. A região passou a ter mais combustível por conta das áreas degradadas. Onde tem pastos, a vegetação tem mais potencial de combustível. O período de seca na Amazônia também aumentou. Aí ainda vem o terceiro fator, que é a pessoa que coloca fogo.”

O biólogo conta que a recuperação no Cerrado e no Pantanal também é mais rápida, mas não menos problemática. “Sempre que há distúrbio, existem consequências para a natureza. Cerrado e Pantanal estão adaptados a ocorrências com fogo. A regeneração pode demorar entre 7 e 10 anos. Mas essas áreas perdem diversidade. Na Mata Atlântica e Amazônia, a recuperação é mais lenta. Pode demorar décadas para se retomar os nutrientes.”

Greenpeace diz que política ambiental contribuiu

Para o Greenpeace, organização ambiental que atua em todo o mundo, o crescimento dos incêndios no Brasil está associado às ações do governo do presidente Jair Bolsonaro.

Integrante da campanha de Amazônia do Greenpeace, Rômulo Batista contou que, historicamente, os anos com aumento das queimadas coincidem com fenômenos climáticos que provocam períodos de seca, como o El Niño. “Mas não tivemos isso no ano passado. O que tivemos foi um governo que não tem política ambiental estruturada, diria mais, tem uma política antiambiental.”

Batista afirmou que o governo tem reduzido o poder do “Ibama, da Funai e do ICMBio, os três órgãos que mais atuam para conter o desmatamento e os incêndios”, e tem “discurso que leva ao menosprezo das mudanças climáticas e da importâncias da manutenção da biodiversidade”.

“Em 2019, o governo primeiro negou a existência dos incêndios e, depois, tentou culpar outras pessoas ou instituições. Só quando pressão internacional ficou grande e começou a ameaçar a economia, é que deu uma resposta, que foi tímida.” Para Batista, “provavelmente, teremos muitas queimadas em 2020 por conta do aumento do desmatamento em 2019. Há muita matéria secando e que servirá de combustível.” (metrojornal)

google news