Não foi a primeira vez e nem será a última que circulam rumores de que o governador Rui Costa e o padrinho político dele, senador Jaques Wagner, estariam com relações estremecidas. Nesta segunda-feira (30), inclusive, foi necessário apagar traços de incêndio com a defesa de que ambos são “unha e carne”. O efeito dessa declaração é dúbio e pode ser interpretado de forma diferente da intenção. Se há a demanda por negar qualquer tensão no relacionamento entre Rui e Wagner, é sinal de que nem tudo são flores entre criador e criatura. O que não quer dizer que exista chance de os petistas estarem em caminhos distintos no futuro.
A situação é bem típica do PT. O partido é uma salada de opiniões divergentes, que se entendem quando é necessário aparecer publicamente. Principalmente quando se trata de grupos políticos tão próximos na estrutura interna da legenda. No entanto, a entrevista de Rui Costa, quando o governador falou que era necessário não colocar “Lula livre” como pauta prioritária nas conversas com outras siglas, ainda segue rendendo discussões dentro e fora do PT. Talvez aí tenham nascido rumores de desgaste do atual chefe do Executivo baiano.
Ainda assim, Wagner não endossou qualquer crítica pública ao afilhado político. Chegou até a rebater a postura do PT nacional, que emitiu uma nota de “reprimenda” às declarações de Rui. O Galego sabe que é preciso contornar a eventual tensão criada em torno da entrevista do governador e, com o pragmatismo que lhe é típico, é certo que atua como uma espécie de bombeiro, para evitar que Rui seja “fritado” pelos cardeais nacionais do partido.
O ex-governador talvez seja uma das figuras mais aglutinadoras da cena política nacional e estadual. Vide a construção das alianças na Bahia, enquanto morou no Palácio de Ondina, e mesmo depois de deixar o posto. Quando Dilma Rousseff ainda estava no Planalto, foi Wagner que tentou dar uma sobrevida a um governo trôpego. Entretanto, chegou tarde à articulação política e não evitou a derrocada de Dilma. Depois disso, retornou à Bahia e seguiu auxiliando o pupilo no processo de construção política para a reeleição dele.
Já Rui é considerado menos palatável politicamente do que Wagner – ainda que tenha mostrado evoluções contínuas desde a chegada ao poder. Se o senador já seria considerado pragmático nas relações, o governador ampliou essa lógica ao, em algumas situações, subjugar aliados para submetê-los ao perfil eminentemente administrativo. Até agora, tem dado certo e não existe uma perspectiva de mudança de médio e longo prazo, mesmo que, para isso, custe um voo mais alto em direção a Brasília.
Com todo esse contexto, é possível entender que sobram razões para adversários promoverem essa possibilidade de discórdia. Assim como também o tradicional “fogo amigo”, historicamente comum em processos eleitorais. Sabemos, contudo, que dificilmente Rui e Wagner estarão em lados opostos em 2020 e 2022. Criador e criatura podem não concordar em tudo. Mas estão longe de se tornarem adversários.
(Bahia Noticias)