
Três dias após receber alta do hospital, o ajudante de cozinha Marcelo Macêdo, que foi agredido e levou quatro tiros após beijar a boca de outro rapaz em um bar da cidade de Camaçari, relembrou os momentos do ataque e contou que nunca tinha visto os agressores.
“Estavam eu, ele [o paquera] e uma menina, uma amiga da gente. A gente sentou [em uma mesa] e ela saiu, foi conversar com uma pessoa de outro bar. Depois que passou um tempinho, um cara levantou, veio na minha direção e perguntou se eu não tinha vergonha na cara, que tinham pais de família lá e daí já começaram as agressões. Não me lembro muita coisa, mas lembro que caí em cima dele [do agressor], quando levantei, o outro [homem] que estava com ele, levantou, puxou a arma e começou o disparo”, contou.
Ainda com dificuldade para respirar e com curativos pelo corpo, Marcelo pede Justiça. Ele destaca que o crime precisa ser punido para que outras pessoas não sofram com a violência por serem homossexuais.
“Que seja feita Justiça, que eles paguem pelo que fizeram, que não fique impune e não aconteça com outras pessoas”, contou.
Marcelo foi atingido por disparos no braço e no abdômen, no dia 20 de outubro, quando estava com um paquera. Os tiros atingiram o baço e perfuraram o pulmão.
“A gente não estava fazendo nada demais, estávamos tranquilos, conversando e na hora da agressão eu só estava conversando com ele [com o paquera] e o cara já chegou agredindo. Ele também estava lá com uma garota, se beijando, era a mesma coisa”, destacou Marcelo.
O caso está sendo investigado pela 18ª delegacia de Camaçari. As imagens das câmeras de segurança estão com a polícia, mas não foram divulgadas para não atrapalhar as investigações.
Os três homens investigados por participarem da tentativa de homicídio já prestaram depoimento. Um deles é policial militar. A delegada responsável pelo caso informou que só vai falar sobre a situação após a conclusão do inquérito.
Caso
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Antes do ataque começar, Marcelo foi questionado “se não tinha vergonha de fazer isso na frente de pais de família”. Ele levou um tiro no braço e três no abdômen.
Na última sexta-feira (25), o baiano comentou o caso nas redes sociais pela primeira vez. Em um texto com declarações fortes, ele reforçou o medo que havia relatado em entrevista ao G1 um dia antes e lamentou o fato de os três suspeitos do crime ainda estarem soltos e terem as identidades preservadas pela polícia durante as investigações.
“Não sei como será quando sair daqui. Temo pelos meus familiares. Estamos assustados em saber que quem atentou contra a minha vida está solto por aí, sua cara não está estampada em todos os jornais estando tão vulnerável como eu me encontro agora, botando a cabeça no travesseiro deitado na cama da sua casa e dormindo todos os dias tranquilamente”.
“Me chamar de ‘viado’ não é ofensa. Tomar 4 tiros sim. Uma dor irreparável, além de física, emocional e psicológica. Não sei como será de agora em diante, não sei se serei mais o mesmo. Esse medo que estou sentindo irei carregar até o fim dos meus dias. Só peço proteção para mim e toda a minha família. Orem por mim!”.
Na publicação, o baiano também fez um balanço do que viveu enquanto aguardava alta médica.
“Dormi e acordei em uma cama de hospital, e só sabia chorar, achei que tivesse morto e desfrutava do paraíso. Não lembrava de muita coisa. Ao abrir os olhos e me dar conta do que estava acontecendo, entrei em estado de choque, mas por incrível que pareça, o hospital é o meu lar agora, é o lugar onde me sinto seguro, protegido, em paz”.
“É difícil acreditar que as pessoas são agredidas tão cruelmente e de maneira tão covarde pelo simples fato de demonstrar afeto. É triste. Dói. Estou despedaçado. Eu amo a minha cidade, nasci e me criei aqui. Nem no meu pior pesadelo eu imaginei que um dia pudesse ser tão violentado. Ver a morte de perto é assustador. Nos paralisa”. (G1)
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