A presença de um cabo eleitoral como o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve alterar substancialmente o tabuleiro político das eleições municipais nas principais cidades do Brasil, incluindo Salvador.
As primeiras sinalizações sobre a capital baiana apareceram logo após a saída de Lula da prisão e devem seguir como especulação até que finalmente o governador Rui Costa resolva participar da construção da chapa soteropolitana.
Lula fora do cárcere deve impulsionar uma candidatura própria petista, mesmo que o objetivo final seja apenas demarcar território. E os postulantes já ficam alvoroçados com essa possibilidade.
Setores expressivos do Partido dos Trabalhadores já defendiam uma candidatura própria ao Palácio Thomé de Souza antes de qualquer movimentação em torno do ex-presidente.
Agora, esse grupo tende a ganhar mais força, caso o partido abra mão de participar de pleitos como o do Rio de Janeiro, onde existe a possibilidade de a esquerda caminhar com Marcelo Freixo (PSOL).
Salvador nunca foi governada pelo PT e a legenda pretende preparar terreno para as eleições de 2022, portanto estar representada na corrida pelo Executivo em um colégio eleitoral importante e com uma chapa competitiva à Câmara de Vereadores são fatores relevantes no debate para definir a estratégia para o próximo ano.
Em 2012, última eleição em que o PT esteve representado como cabeça de chapa, as presenças de Lula e da então presidente Dilma Rousseff foram extremamente importantes para que o nome de Nelson Pelegrino se consolidasse como adversário de ACM Neto (DEM), que acabou, ao longo do pleito, se consolidando como principal nome na disputa.
À época, a onda vermelha tinha ascendência forte sobre a população e, ainda assim, o petista não logrou êxito nas urnas. Contudo, o partido obteve uma numerosa bancada de vereadores, o que não aconteceu quatro anos depois, quando o PCdoB de Alice Portugal encabeçou a chapa.
Nesse xadrez político soma-se ainda a perda de forças de uma candidatura de “terceira via”, até agora especulada com o nome do presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, que se filiaria ao PSB e teria o apoio de Rui.
No entanto, com a fase menos otimista do clube e a indecisão de Bellintani, é provável que a força de fora do circuito tradicional do embate PT e DEM fique com a candidatura de Sargento Isidório, que disputou a prefeitura em 2016 e apresentou curva de crescimento eleitoral na capital baiana nas eleições recentes. Por isso, a menor chance de ter o “Doido” como alguém competitivo também deve “forçar” uma candidatura mais equilibrada da centro-esquerda. Até porque ninguém quer ser, eventualmente e isoladamente, responsável pelo Palácio Thomé de Souza ficar entre o candidato do DEM e Isidório em um segundo turno.
Ao participar do primeiro turno, o PT pode argumentar que até tentou viabilizar um outro cenário, menos parecido com a escolha de Sofia.
Os reflexos efetivos de Lula fora da prisão só poderão ser medidos no médio e longo prazo. O ex-presidente tem força para aglutinar as oposições ao governo de Jair Bolsonaro, ao tempo em que articula a expansão do projeto de poder que lidera. Salvador é apenas uma das cidades que pode se tornar decisiva para esse novo momento petista.
É como se o vento, agora, passasse a soprar mais a favor de um petista em Salvador, ainda que seja com um ofegante Lula.
(Bahia Noticias)