Com membros suspeitos de atentado, Bamor já tentou eleger vereador e mantém relações políticas

Reprodução/Instagram/@deputadoniltinho

Torcida organizada cujo presidente e ao menos outros dois associados são suspeitos de envolvimento no atentado a bomba ao ônibus do Bahia, a Bamor mantém relações com políticos baianos.

Nas redes sociais da uniformizada, de membros da agremiação e dos próprios quadros políticos, é possível ver diversos registros da afinidade. O apoio ocorre nas três esferas: municipal, estadual e federal.

Nas eleições de 2020, a Bamor apoiou a campanha do candidato a vereador Fabrício Araújo (PMN), em Salvador, que, com 2623 votos (0,22%), foi o 108º mais votado e não se elegeu.

Apesar da derrota eleitoral, o laço foi mantido. Nas redes sociais, Araújo faz diversas postagens com integrantes da organizada – algumas delas, com o presidente Half Silva. O dirigente teve o nome relacionado ao atentado à delegação do Bahia após a revelação de que um dos carros utilizados na ação criminosa é de sua propriedade.

Nas postagens, Fabrício costuma fazer menção a outros dois apoiadores da Bamor na política: os deputados estadual Niltinho e federal Mário Negromonte Jr., ambos do PP.

Em publicação no Instagram em novembro do ano passado, Niltinho aparece ao lado de Half e outro integrante da uniformizada, além de Fabrício Araújo.

“Obrigado presidente Haf, diretoria e todos que fazem a festa acontecer dentro dos estádios e nas inúmeras ações sociais que vocês realizam. Parabéns e continuem contando com o apoio do meu mandato na Assembleia Legislativa da Bahia”, escreveu o parlamentar na legenda.

Em agosto, Niltinho usou sua conta no Instagram para saudar a organizada e seu presidente. “Quero dizer a você, meu amigo Half, presidente atuante, que estamos juntos. Quero dizer a você, Half, e a toda a diretoria e a torcida, que esse é o caminho […] Não posso deixar também de mandar um abraço especial ao meu amigo Fabrício Araújo, ele que vem, junto com Half, fazendo um belo trabalho, levando cada vez mais o nome da Bamor pra todos os cantos”, declarou.

Em outubro, Mário Negromonte Jr. manifestou nas suas redes estar “fechado com a Bamor”. “Tmj meu Presidente Half Silva e nosso amigo Fabrício Araújo”, escreveu.

À reportagem, Negromonte afirmou desconhecer o fato de que o dirigente da uniformizada teve o nome ligado ao atentado. Negromonte diz que sua relação com a Bamor está restrita às ações sociais promovidas pela torcida.

“Qualquer um que seja, seja ele quem for, principalmente quem está na diretoria da organizada, precisa ser exemplo aos demais. Não pode cometer erro, muito menos um crime. Se houve ou não participação do presidente [da Bamor], quem vai dizer é a polícia e a Justiça […] Não apoio de hipótese alguma qualquer manifestação violenta, de que nível for, do menor ao maior”, declarou o deputado federal.

Em contato com o BNews, também, Niltinho foi na mesma linha. Segundo o parlamentar estadual, sua relação com a Bamor está atrelada às ações sociais promovidas. O deputado diz ainda que, em mais de um ano e meio de parceria, os líderes da organizada “sempre foram muito corretos”.

“O presidente Half, desde que eu o conheci como presidente da torcida, ele nos procurou com esse objetivo, das ações sociais, que a gente contribuísse. Ele nunca me pareceu agir de forma violenta ou truculenta, pelo menos no trato com a gente, enquanto parlamentar”, afirma.

“Vi essa indicação dele como possível parte desse atentado […] Se houver algo que prove que ele tem envolvimento, que seja penalizado de acordo com a lei”, defende Niltinho.

Fabrício Araújo também intermediou recentemente uma reunião entre o presidente da Bamor e outra figura relacionada à política: Mauro Cardim, candidato à prefeitura de Lauro de Freitas em 2020, pelo PTB. De acordo com o postulante a vereador em 2020, o encontro foi solicitado por Cardim.

Em nota divulgada à imprensa, após a reunião, Mauro criticou a postura do presidente do Bahia, Guilherme Bellintani, ao registrar queixa na polícia contra a organizada por invadir o centro de treinamentos do clube e ameaçar jogadores.

“Um verdadeiro absurdo a ameaça de abrir processo contra a Bamor. Guilherme Bellintani tem que entender que a Bamor é um patrimônio do Bahia”, defendeu o empresário.

Membro da Bamor, Araújo afirma que, além do fato de ser torcedor do Bahia, se aproximou da torcida também pelo apelo social. Ele diz que recebeu com surpresa a notícia do possível envolvimento de Half Silva na ação criminosa que deixou dois jogadores do Bahia feridos e defende a punição tanto internamente quanto judicialmente dos autores comprovados do ataque.

Fabrício lamentou, por outro lado, que a ação de “uma ou duas pessoas” acabe por manchar a imagem da torcida. “Na torcida, tem médico, tem gente que tem dinheiro, tem gente que é pobre. Todo mundo foi contra isso”, afirma.

Já Mauro Cardim, diz que sua relação com a Bamor é “institucional, onde procurei os gestores para abrir diálogo sobre a atual situação do bahia e falar sobre a manifestação em frente à residência do atual presidente do clube e sobre o futuro do clube e também me apresentar como representante do grupo português que fez uma proposta para parceria com clube e saber a opinião deles”.

“Fui muito bem recebido e temos um diálogo feito à base de respeito mútuo […] O que esses caras (diretoria do Bahia) estão fazendo com o clube é vergonhoso e não podemos mais aceitar os rumos que o clube tem tomado com a falta de respeito com as torcidas organizadas, com os jogadores e com nós torcedores”, acrescenta o empresário.

Após a matéria ser publicada, Fabrício Araújo enviou nota ao BNews e afirmou que repudia manifestação violenta contra atletas e demais profissionais e que os agressores devem “responder pelos seus atos perante a Justiça e nos termos da Lei”. Explicou que sua ligação com a Bamor é apenas de parceria em ações sociais em favor da comunidade carente de Salvador

Leia a nota na íntegra:


Em referência a reportagem publicada pelo BNews hoje, dia 01/03/2022, eu, Fabricio Araujo, primeiramente venho a público manifestar meu posicionamento de total repúdio a toda forma de manifestação violenta contra atletas e demais profissionais atrelados ao Futebol Nacional. Inclusive, estes agressores, que não podem ser chamados de torcedores, devem responder pelos seus atos perante a Justiça e nos termos da Lei.

No tocante a menção efetuada na supracitada reportagem, destaco que minha ligação com a torcida organizada BAMOR consiste numa colaboração e parceria estritamente relacionada a ações sociais em favor da comunidade carente de Salvador.

Reitero que o objetivo principal de minhas ações é contribuir para uma sociedade mais justa e, sob este prisma, estabeleço diversas parcerias com pessoas e instituições que tenham este mesmo objetivo comum. Neste sentido, a parceria com a BAMOR surgiu justamente deste senso de responsabilidade social que compartilhamos e culminou em diversas ações concretas em prol da população menos favorecida.

(BNews)

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