Há oito dias, em 24 de fevereiro de 2022, o mundo assistia aos primeiros movimentos da invasão da Ucrânia pela Rússia. Durante a semana, ataque de mísseis, tanques cercando cidades, explosões, destruição de espaços públicos e privados se sucederam. Seja quem vive o confronto de perto ou quem acompanha pelo noticiário, boa parte do planeta pode estar se perguntando: quando a guerra vai acabar?
Especialistas ouvidos pelo g1 e pela GloboNews são unânimes: não há resposta exata, e todos os cenários envolvem incertezas. Ainda assim, há um certo consenso: tudo passa pelas negociações entre Ucrânia e Rússia. Uma primeira reunião entre as duas partes já aconteceu, mas nenhum acordo foi feito. Um segundo encontro deve ser realizado nos próximos dias.
Antonio Ramalho, professor de Relações Internacionais da UnB:
“Vai depender das negociações que estão em curso entre as partes, mas é muito claro que não existe uma saída diplomática fácil.”
Na avaliação do professor Ramalho, Vladimir Putin, presidente da Rússia, talvez tivesse imaginado que o confronto seria mais rápido e fácil para o seu lado — mas acabou esbarando na resistência da Ucrânia e no apoio de grandes forças do Ocidente.
“Se a Ucrânia não tivesse resistido como vem resistindo, teria dado certo para Putin. Mas talvez ele tenha subestimado Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia.”
“É um período muito turvo, de muita névoa. Não só a névoa própria da guerra, mas do ponto de vista da política internacional. E há muitas surpresas: o discurso do chanceler alemão [Olaf Scholz] ao parlamento foi impressionante. Isso é uma mudança de posição da Alemanha no que diz respeito a sua política de defesa desde a 2ª Guerra. E é uma mudança profunda, que cala fundo na alma alemã. A gente não está falando de fanfarrões, de bufões, a gente está falando de lideranças muito comedidas, muito sólidas, muito firmes. É um nível de união observada entre as potências europeias surpreendente até para os europeus.”
Tanguy Baghdadi, professor de relações internacionais:
Em entrevista à Globonews, Baghdadi disse que é preciso levar em consideração o tempo, que quanto mais se prolonga, mais favorece a Ucrânia e prejudica os russos.
“O Putin estava contando o tempo todo com uma guerra muito rápida, então se ele conseguir tomar rapidamente tomar Kiev, ele vai ter uma enorme vantagem nas negociações pós-guerra. Mas uma guerra que se alongue, uma guerra que se estenda vai acabar isolando e expondo o Putin, e aí a situação pode ficar muito difícil para a Rússia”.
Carlos Gustavo Poggio, doutor em relações internacionais:
“Estamos entrando em um período bem difícil porque a gente sabe como as guerras começam, mas não como terminam. É bem especulativo.”
Assim como Ramalho, Poggio destaca a resistência ucraniana como elemento surpresa para Putin, o que coloca em perspectiva o fato de a guerra durar por mais tempo do que os russos previam:
“Eu não descartaria a possibilidade de uma guerra longa, uma tentativa de ocupação russa e uma resistência dos ucranianos. Aí pode ser que a guerra não termine nem daqui a um dia ou daqui a um ano e talvez só daqui a dez anos. Do meu ponto de vista, essa é a pior possibilidade para o Putin.”
O especialista não descarta a possibilidade do presidente russo tomar Kiev, a capital da Ucrânia, e “colocar algum tipo de fantoche dele” no poder.
Para ele, a probabilidade de Putin desistir é muito baixa. A hipótese, ainda que remota, seria de o presidente russo perceber que a guerra está se estendendo muito e isso ser muito custoso. E, então, arrumaria alguma desculpa qualquer para recuar.
Mas, afinal, existe alguma saída diplomática para a invasão? Segundo Poggio, ainda não está claro. “Negociação diplomática no meio da guerra tem a ver com como está no campo de batalha, aquele que está indo melhor está indo melhor tem mais possibilidade de fazer valer a sua vontade”.
“Há um cenário de que alguém ofereça mediação. Não sei se vão aceitar, por exemplo, os chineses fazerem algum tipo de mediação ainda mais agora que eles se aproximaram do Putin”.
Vitelio Brustolin, professor do INEST/UFF e pesquisador de Harvard:
“A Rússia poderia acabar com essa guerra, sim, se quisesse, sem nem usar armas nucleares; ela poderia bombardear a Ucrânia, as principais cidades, e acabar com a guerra, mas ela não pode fazer isso”.
Brustolin diz que, se Putin avançasse com força contra a Ucrânia, haveria uma reação forte e imediata do Ocidente para conter a Rússia. O que levaria, também, a morte de milhões de civis – a população da Ucrânia é de 44 milhões.