O período em que estamos exige alguns cuidados — tanto com nós mesmos, quanto com os que são mais vulneráveis. Com os casos de coronavírus aumentando a cada dia, muitas empresas decretaram que seus funcionários devem fazer home office até que a situação esteja mais controlada. Uma medida sensata, mas que pode ser um problema para pessoas que têm dificuldade em manter a produtividade em casa. Como fazer isso?
Segundo a psicóloga Daniela Faertes, especialista em terapia cognitiva e mudança de comportamentos prejudiciais, tudo é uma questão de adaptar os hábitos. “Nosso cérebro se organiza mentalmente para economizar energia. Então, ele geralmente faz uma série de associações para que a gente possa ‘setorizar’ como manejamos a vida (‘em casa, eu descanso e fico com a família; no supermercado, faço compras; e no escritório, trabalho’)”, ela diz.
Contudo, quando precisamos realizar algo em um local diferente do que estamos acostumados, é preciso um esforço maior da nossa mente, pois não é possível ligar o modo “automático” das tarefas. Por isso pode ser tão difícil trabalhar em casa. “É preciso ter em mente que, nesses primeiros dias ou semanas, o home office pode ser mais complicado devido a essas questões de habituação. Mas, com o tempo, isso vai ficar fácil, até chegar ao ponto onde o desgaste maior de energia já não é necessário para associar o espaço à atividade”, Daniela complementa.
Enquanto isso, que tal adotar alguns hábitos que irão ajudar você a se acostumar com a nova rotina? A psicóloga dá 6 dicas:
1 – Mude sua perspectiva
Antes de falarmos de mudanças mais práticas, a especialista ressalta que é importante tentar alterar a sua perspectiva. “Muitas pessoas ainda têm pensamentos do tipo ‘é muito chato’ ou ‘eu não consigo produzir bem’. Não acho que a gente controle nossos pensamentos, mas podemos tentar conversar com eles, criando saídas para começar a lidar com essa ideia por uma nova perspectiva”, explica.
Então, que tal trocar o ‘eu não consigo trabalhar de home office’ por ‘eu acho mais difícil trabalhar de home office, mas vou me adaptar’?
2 – Separe um espaço para o trabalho
Desde o começo da evolução humana, somos seres organizacionais. E isso ajuda bastante na hora de fazermos adaptações, sabia? Por isso, arrume um espaço na casa e deixe-o com cara de escritório: escolha uma mesa e uma cadeira confortável (vale até posicioná-las de maneira diferente) e decore com algum vasinho de plantas, porta-lápis ou calendário.
“Sem dúvida, organizar um espaço para trabalhar em casa é melhor do que trabalhar deitado na cama por conta da economia cerebral. Temos que entender que, se o meu automatismo de estar deitado é para dormir ou assistir série, fica muito mais difícil eu conseguir render trabalhando nessa posição”, afirma a especialista.
2 – Tire o pijama!
Nossos hábitos ficam registrados no cérebro, que faz associações. Pijama para dormir, roupa social para o trabalho. Afinal, fica estranho, por exemplo, tirar uma soneca com a roupa de trabalho. Então por que seria normal trabalharmos de pijama?
3 – Mantenha horários
Em home office, as pessoas tendem a trabalhar de uma forma desorganizada, o que acaba estendendo o tempo que elas passam na frente do computador — e encurtando os momentos com a família. Ficar trabalhando “picadinho”, sem horários específicos, confunde nosso cérebro e pode fazer com que nossa produtividade caia.
“O grande desafio, até para não ter que trabalhar a mais nesse momento, é a distração. No cenário atual, é normal ficar mais desconcentrado pelas notícias e a mudança repentina da rotina. Mas, aos poucos, vamos criando mecanismos mais adaptáveis para driblar essa distração”, diz Daniela. Definir o horário que você vai começar e o horário que você vai parar é um deles.
4 – Faça pausas
Outra questão interessante é que, no trabalho normal, geralmente fazemos pequenas pausas para um café, um lanchinho ou até para bater papo. Isso faz parte e é saudável para a mente.
Então, mesmo em home office, vale se programar para ter essas pequenas “saídas” no horário de trabalho. Se você se programou para trabalhar das 9h às 18h, por exemplo, determine um horário para o almoço (13h). Mas, além disso, insira pequenos intervalos de 15 minutos (como às 11h e 15h). “Tem que haver um planejamento realista. Uma coisa a se colocar também é estipular horário para o celular, até que horas você vai utilizá-lo.”
5 – Utilize a tecnologia para se conectar com quem você ama (e fazer o que gosta!)
Abuse das conferências com amigos, aulas e serviços online — com professor de línguas, terapia ou tudo que possa ter interação personalizada –, e grupos de leitura. A internet pode nos ajudar muito nesse período. E diminuir a ansiedade no dia a dia, melhorando a concentração e o foco no trabalho.
6 – Explique para a sua família que você precisa trabalhar
“Com relação à família, eu sugiro que seja feita uma espécie de reunião, onde a pessoa explicite algumas regras sobre interrupção, principalmente em um momento onde muitas empresas estão cobrando boas performances”, indica a psicóloga. Nessa reunião, vai ser possível ajustar tudo isso para que não haja brigas.
Se for um casal trabalhando em casa, por exemplo, dá até para fazer um acerto de horários do tipo: ‘quem vai dar o almoço das crianças hoje?’. “O que eu recomendo para um casal/família é fazer um teste balanceando o horário de ambos para os cuidados com a casa e os filhos. E ir ajustando aos poucos”, afirma Daniela. (Boa Forma)