“Tem pouca gente aqui no posto […] Vamo vir aqui pro Posto 020, vamo unir que a guerra ainda não acabou. Tamo esperando o exército dar o laudo, pra confirmar que houve fraude, e assim tomar a atitude certa”. A convocação, feita por áudio no grupo “Bolsonaro por Luís Eduardo Magalhães”, no aplicativo de mensagens Whatsapp, é de um dos apoiadores do atual presidente da República, que se organiza em manifestações contra a vitória do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Luís Eduardo Magalhães, na região oeste, é uma das únicas duas cidades em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) venceu Lula na Bahia — segundo estado que mais rendeu votos ao petista. O conservador recebeu 58,61% dos votos válidos no município nomeado em homenagem ao filho do ex-governador Antônio Carlos Magalhães. Na cidade, em que 31.918 votaram em Bolsonaro, a manifestação contra a derrota acontece no Posto 020, no KM 206 da BR 020.
Um dos bolsonaristas do grupo tenta explicar a preferência dos eleitores do município pelo presidente conservador: “Luís Eduardo é uma cidade que quem comanda é a agricultura, a maioria do pessoal aqui é de direita, que não acredita nem em comunismo, nem em socialismo, e é contra essas práticas”, afirma, em anonimato. Na foto do perfil do aplicativo, o homem posa, de blusa quadriculada e boné, em meio a uma plantação de algodão.
Emancipado de Barreiras no ano 2000, o município de 87 mil habitantes é o maior exportador do estado na produção de soja, algodão e milho, e possui a sétima maior economia da Bahia, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Ainda de acordo com o apoiador do ex-presidente, “as reivindicações dos eleitores não é a perca (sic) do Bolsonaro, é não acreditar no processo eleitoral”. A ele se juntam milhares de apoiadores do presidente, que não aceitam a vitória democrática.
Na outra cidade em que o presidente venceu na Bahia, Buerarema, no sul do estado, os eleitores também não aceitam a derrota. “As urnas para mim não são confiáveis. O relatório [das Forças Armadas] não foi entregue até o momento”, diz um usuário do grupo “Bolsonaro por Buerarema”, que preferiu não se identificar. Apesar de não ter sido divulgado ainda o relatório das Forças Armadas sobre as urnas eletrônicas no primeiro turno, o Tribunal de Contas da União (TCU) fez uma auditoria e não encontrou divergências entre o voto do eleitor e o dado computado pela Justiça Eleitoral.
Ainda assim, o homem de 34 anos que conversou com o Jornal da Metropole sob anonimato afirma que acha “esquisito” o resultado das eleições, que foi apurado em cerca de duas horas. “Por exemplo, Israel agora também teve eleição e demorou muito tempo pra receber os resultados”, diz. O Brasil possui um dos mais avançados sistemas de votação utilizados no planeta, por meio da urna eletrônica. Desenvolvido pela Justiça Eleitoral brasileira, o sistema distingue o país como um dos poucos que anunciam os resultados das eleições poucas horas após o encerramento da votação. Mas essa não é a mensagem nos grupos bolsonaristas, que pedem o “voto impresso e auditável”.
Em Buerarema, os eleitores se mobilizam nas cidades vizinhas como Itabuna e Ilhéus contra o processo eleitoral. Na cidade de 18 mil habitantes, Bolsonaro recebeu 5.292 votos, o equivalente a 59,64% do total. Já Lula foi a escolha de 40,36% dos eleitores e recebeu 3.581 votos.
A preferência, de acordo com o bolsonarista, tem a ver com a tensão entre indígenas e fazendeiros. “Buerarema foi uma cidade muito prejudicada pelo PT, por causa das invasões que aconteceram nas fazendas aqui, pelos intitulados índios Tupinambás. Fizeram invasões, mataram gente, houve muitos crimes cometidos por eles, e nada foi feito na época de Dilma”, afirma.
O conflito gira em torno da criação da Terra Indígena Tupinambá, área de 45 mil hectares localizada entre os municípios de Ilhéus, Una e Buerarema. O processo de demarcação da área, onde vivem cerca de 8.000 indígenas, foi iniciado em 2004. A terra foi identificada e delimitada pela Fundação Nacional do Índio e houve parecer favorável da Advocacia-Geral da União pela demarcação, mas o processo está parado desde 2016. Em 2013, o acirramento da disputa de terras resultou no envio da Força Nacional, que ficou mais de um ano na região. “Teve relatos, não tenho como provar, mas tem relatos que se o Lula ganhasse as pessoas teriam que sair das suas fazendas, porque os indígenas iriam retornar”, afirma o bolsonarista. (Metro1)