CPI da Covid: Oposição investiga repasse de dinheiro federal para laboratórios produzirem hidroxicloroquina

Foto: Divulgação

Os senadores que fazem parte da CPI da Covid pretendem investigar se dois dos principais laboratórios do país usaram recursos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a produção de hidroxicloroquina, medicamento sem eficácia no tratamento contra a Covid-19 e defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A informação foi confirmada ao Metro1 por interlocutores da oposição. 

Segundo documentos que embasam a apuração, as fabricantes assinaram ao menos quatro pedidos de empréstimos, que totalizam R$ 283 milhões. Todos os contratos foram firmados em 2020, a maioria com a pandemia já em andamento. 

Uma das farmacêuticas, a Apsen buscou R$ 153 milhões em financiamentos do banco federal. A EMS, por sua vez, solicitou R$ 129 milhões. A fabricante tem em seu portfólio outras drogas sem efeito comprovado para o coronavírus, como o vermífugo ivermectina, que passou a compor o “kit covid” do chamado tratamento precoce.

Para obtenção do dinheiro público, as duas companhias afirmaram que destinariam os aportes para a ampliação e reforma de suas unidades industriais, incluindo a produção de medicamentos.

Procurada pelo Metro1, a Apsen negou, por meio de sua assessoria, ter usado os valores requeridos ao BNDES para fabricação de hidroxicloroquina. A empresa diz que os recursos foram destinados para expansão da área de pesquisa e desenvolvimento de novos produtos e da área industrial, “para preparar as áreas produtivas no suporte ao plano estratégico dos próximos anos”.

“A Apsen reforça que nenhuma parte dos empréstimos cedidos, seja pelo BNDES ou por qualquer instituição financeira, foi utilizada na produção, pesquisa ou qualquer ação relativa à hidroxicloroquina. A Apsen é uma empresa apartidária e não apoia ou financia nenhum partido ou figura política. Seus executivos não têm vínculos pessoais ou profissionais com o atual presidente da República ou qualquer outro político”, reiterou a farmacêutica. 

De acordo com a Apsen, dos pedidos de financiamentos firmados, o BNDES aprovou somente dois contratos de empréstimos. “Da solicitação feita em 27/06/2019 foram autorizados R$ 94,8 milhões, que tiveram os valores liberados de forma faseada. A empresa recebeu, até o momento, duas parcelas de R$ 20 milhões, liberadas nos dias 16/03/20 e 27/11/20. A segunda solicitação, feita em 30/08/19, teve contrato assinado em 16/06/20 no valor de R$ 58,9 milhões. Desse total, foram liberados, até o momento, R$ 12,35 milhões no dia 15/10/2020”, informou. 

O Metro1 enviou pedidos de esclarecimentos à farmacêutica EMS e ao BNDES, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Se enviados, os respectivos posicionamentos serão incluídos. (Metro1)

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