Daniel Cravinhos escreve carta aberta para Andreas von Richthofen e pede perdão; leia

Ex-namorado de Suzane ainda contou que mora perto do ex-cunhado e pensa em tentar uma aproximação

Foto: Reprodução

Passados quase 22 anos do assassinato do casal Manfred e Marísia, o caso von Richthofen continua estampando os noticiários. Dessa vez, Daniel Cravinhos decidiu vir à público mandar um recado para Andreas, o irmão de Suzane que, na época, tinha apenas 15 anos. Em uma carta divulgada pelo jornal O Globo, ele pede perdão e confessa vontade de se reaproximar do rapaz.

Recentemente, o assassinato do casal von Richthofen a mando da própria filha foi reascendido na mídia depois do sucesso da trilogia A Menina que Matou meus Pais, da Prime Video. Os longa-metragens estrelados por Carla Diaz e Leonardo Bittencourt contam a história por meio das versões dos personagens principais envolvidos no crime.

Longe da ficção, o caso real que chocou o Brasil deixou marcas ainda mais profundas em quem não tinha culpa e nem participação no crime, mas foi atingido diretamente pelo duplo assassinato. Desde que os pais foram mortos pelos irmãos Cravinhos a mando da irmã, Andreas vive uma vida difícil e escolheu ficar recluso, distante da mídia. 

É justamente a ele que Daniel pede perdão pelo crime em carta aberta. Condenado a 39 anos de prisão pelo homicídio de Manfred von Richthofen, ele admitiu o desejo de se reaproximar do ex-cunhado, hoje com 36 anos.

Os dois são vizinhos

Ao O Globo, o ex-namorado de Suzane von Richthofen contou que tinha uma relação de amizade com Andreas antes do ocorrido e que, por isso, sempre ensaia uma aproximação com o rapaz. Ele ainda revelou que os dois vivem muito perto um do outro. 

“Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação”, escreveu Daniel na carta. Hoje, Andreas vive em um sítio a 450 quilômetros de São Paulo.

O medo do assassino de Manfred é que o filho da vítima se sinta ameaçado com a sua presença. Segundo ele, Andreas chegou a registrar um boletim de ocorrência quando Suzane tentou encontrá-lo. Caso o irmão dela o denunciasse, Daniel poderia ser forçado a voltar para a cadeia. Desde 2017, ele cumpre a pena em regime aberto. O irmão dele, Cristian Cravinhos só deve se livrar da condenação em 2041.

Difícil tentativa de reaproximação

Apesar do receio, Daniel admite que já tentou falar com Andreas. Um amigo em comum intermediou uma primeira conversa, que acabou não se desenvolvendo. Isso porque o irmão de Suzane teria ficado abalado só de ouvir a voz do assassino de seu pai no telefone. 

“Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos, mas compreenderei se preferires não olhar na minha cara”, afirma Daniel na carta. Mais uma vez, ele pede no desabafo: “Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.” 

Antes das tentativas de contato por parte de Daniel, o próprio Andreas já tinha procurado a irmã para conversar. Em 2017, ele marcou um jantar com Suzane através de mensagens. No entanto, o reencontro não chegou a acontecer. No caminho para a casa dela, em Angatuba, São Paulo, o caçula dos von Richthofen decidiu voltar para casa.

Nessa mesma semana, Andreas foi visto desorientado pelas ruas do bairro Chácara Monte Alegre, na Zona Sul de São Paulo. Ele foi levado para uma clínica de tratamento contra a dependência química após pular o muro de uma casa e ser pego por policiais. 

Na carta destinada a ele, Daniel conta que tem tido uma vida difícil após o crime e destaca as consequências que suas ações geraram na vida de Andreas. “É com toda a sinceridade e humildade que peço tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o dano que lhe causei”, argumenta.

Leia a carta na íntegra

“Querido Andreas,

Após sete anos de reflexão, finalmente encontro coragem para escrever a você. Sinto-me apreensivo com a sua possível reação ao ler essa carta. Recentemente, tomei conhecimento de notícias suas por meio de amigos em comum e pela imprensa, o que me levou a tomar a decisão de pôr para fora o que estou sentindo.

Minha mente está em turbilhão, pois meu desejo mais profundo é ter o seu perdão. As palavras mal conseguem expressar a intensidade de minha angústia e remorso. Minhas mãos tremem enquanto escrevo, e cada linha é uma batalha contra os fantasmas do passado.

Há duas décadas, desde aquele fatídico dia, carrego o peso do arrependimento e da culpa, ciente de que minhas ações trouxeram tamanha tragédia para nossas vidas. Desde sempre penso em você, a maior vítima de tudo o que aconteceu. Hoje, ao praticar motovelocidade, a imagem do seu rosto vem à minha mente. Como seria bom ter você ao meu lado, correndo em uma moto. Lembra do mobilete que construímos juntos?

Somos vizinhos em São Roque. Meu sítio fica a três quilômetros do seu. Sinto vontade de tocar a sua campainha, mas temo sua reação. Morro de medo que você se sinta ameaçado com a minha presença. Além disso, sei que a sociedade me vê unicamente como o assassino de seu pai. E você? Como você me enxerga além disso?

Saí da prisão em 2017 após perder 17 anos de minha liberdade. Mas você perdeu muito mais do que eu. Desejo compreender seu luto e fazer parte dele. Lembro do dia da reprodução simulada feita na sua casa duas semanas após o crime, quando você abraçou o Cristian e me olhou emocionado. Quando íamos nos abraçar, os policiais não deixaram. Entendi o seu gesto de carinho como um perdão. Contudo, você era apenas um adolescente. Hoje, você é um homem adulto. Gostaria de conversar contigo e expressar meus sentimentos.

Desde que saí da prisão, reconstruí minha vida, assim como Suzane, sua irmã. Aos trancos e barrancos, o Cristian também está tentando recomeçar. No entanto, a culpa continua a me perturbar. Parte de minha família me rejeita, e sinto que um dedo acusador aponta para mim constantemente, me lembrando do que fiz. Essa culpa não desaparecerá com a sentença que me condenou a 39 anos. Seguirá comigo até o fim dos meus dias.

Espero, do fundo de minha alma, que você encontre no coração a compaixão para me perdoar. Sei que minhas palavras podem parecer insuficientes diante da magnitude do que aconteceu, mas é com toda a sinceridade e humildade que peço por tua misericórdia. Estou disposto a enfrentar as consequências de meus atos e a fazer tudo o que estiver ao meu alcance para tentar reparar o enorme dano que lhe causei. Se você permitir, gostaria de ter a oportunidade de falar pessoalmente, olhos nos olhos, e abrir meu coração.”

Fonte: Portal terra

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