Desempregada há cerca de seis anos, a diarista Ana Paula de Oliveira, de 37 anos, sempre precisou se esforçar para pagar as contas e se manter — seu último trabalho formal foi como atendente de telemarketing, em 2013. A situação, porém, ficou mais aguda nos últimos tempos, quando ela, moradora de Belo Horizonte, em Minas Gerais, ficou três dias sem poder arcar com o custo das próprias refeições. A alternativa que enxergou, na ocasião, foi oferecer seus serviços como faxineira nas redes sociais em troca de comida.
A resposta foi quase instantânea entre os internautas e, “do nada”, ele se viu inserida em uma rede de solidariedade em que as pessoas se ofereceram para ajudar da forma que podiam.
— Fiz a postagem no (último) domingo de manhã, estava há uns três dias sem me alimentar. Muita gente me ofereceu alimentos, sem exigir que eu fizesse a faxina. Num primeiro momento, eu fiquei bastante surpresa (com a repercussão). Não apenas surpresa, mas muita gratidão e alegria — disse Ana Paula, que mora em uma república do bairro Esplanada.
Outras pessoas também se dispuseram a colaborar. Ana conta que uma designer “repaginou” o seu currículo e a dona de um bazar de roupas ofereceu alguns “looks” para que ela possa ir a eventuais entrevistas. Convites para faxinas também apareceram. Ela, inclusive, estava saindo de uma quando falou com a reportagem, no fim da tarde desta quinta-feira.
— Ainda não sei bem quantos convites de faxina eu recebi, chegaram muitas mensagens. Mas na próxima semana tenho faxina para fazer todos os dias. Uma funcionária de um hospital também levou meu currículo para uma vaga de atendente. Estou muito ansiosa — acrescentou ela, que já atuou em diversas áreas desde que ficou desempregada em 2013.
— O mercado é muito competitivo. Não tenho uma profissão, já fui operadora de telemarketing, mas é uma mão de obra não especializada. De lá para cá já fiz várias coisas, além de faxina, vendi produtos na rua…
Ela se esforça. Após estudar, Ana Paula disse que passou em dois concursos públicos em Minas Gerais. Ela aguarda “ser chamada” para as vagas. A diarista tem um filho de quatro anos, que vive com parentes. Ela sonha em chegar ao ensino superior e se estabilizar financeiramente, para, então, recuperar a guarda da criança.
— O que eu mais quero é me estabilizar, fazer uma faculdade. Ter um emprego formal para me manter e ter de volta a guarda do meu filho — afirmou ela.
A dona do bazar Cadê Teresa, no bairro Savassi, também se dispôs a ajudar. A dona do estabelecimento, Gracy Izau, disse que conheceu Ana Paula numa ocasião em que ela precisava ter currículos impressos. A diarista chegou a trabalhar algumas vezes com a lojista.
— A situação ficou muito difícil para a Ana. Aqui para mim também apertou. Ela já fez alguns serviços para mim. Não posso oferecer uma vaga fixa aqui para ela na loja. Mas nós fazemos o que é possível. Então nos oferecemos para reunir tudo o que as pessoas oferecerem e encaminhamos para ela — disse Gracy.
(Extra Online)