A decisão sobre direito ao aborto em uma gravidez divide opiniões entre os brasileiros, com maior apoio dos mais jovens e maior rejeição entre evangélicos e fatias mais pobres da população, segundo pesquisa Datafolha divulgada neste sábado (1º/7).
Perguntados sobre se o aborto deve ser “um direito da mulher”, 44% dos brasileiros concordaram total ou parcialmente; na outra ponta, 52% discordam total ou parcialmente. Os demais foram indiferentes ou não souberam responder.
Na divisão por grupos, não há diferença entre a visão de homens e mulheres (45% e 44% são favoráveis, respectivamente).
No entanto, o apoio fica acima da média entre os mais jovens, entre 16 e 24 anos. Nesse grupo, 61% afirmam que o aborto deve ser um direito da mulher
O apoio também é mais alto entre grupos mais escolarizados (59%) e ligeiramente acima da média entre eleitores do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (54% apoiam).
A fatia é menor entre os que votaram no ex-presidente Jair Bolsonaro (35% apoiam o direito ao aborto), evangélicos (30%) e os mais pobres (39%).
Acesso a armas
Ao lado do acesso a armas (50% são a favor e 48% contra), o tema da legislação sobre aborto é um dos que mais tiveram divisões nas respostas da pesquisa, que sondou brasileiros sobre temas políticos e culturais.
No Brasil, a interrupção da gravidez só é autorizada em casos de estupro, risco de morte da mãe e, por decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), casos de má-formação do feto.
Países em todo o mundo vêm discutindo ou rediscutindo o tema nos últimos anos.
Vizinhos latino-americanos, como Argentina e Colômbia, autorizaram recentemente a interrupção da gravidez por decisão da mulher, cumpridas certas condições, como período máximo de gestação já transcorrida.
Nos EUA, na outra ponta, a Suprema Corte reverteu jurisprudência que obrigava estados a autorizarem o aborto desde os anos 1970.
Mulheres na liderança
A pesquisa Datafolha foi feita com 2.010 entrevistados em 112 cidades brasileiras, entre os dias 12 e 14 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Enquanto armas e aborto geraram divisão entre os respondentes, o tema com maior concordância entre os brasileiros foi o apoio a mulheres em cargos de liderança. Cerca de 94% dos brasileiros afirmaram ser favoráveis à questão. Outro tema de consenso foi a existência do aquecimento global, admitido por 90% dos entrevistados.
Outros temas de comportamento, como aceitação de orientação homossexual, teve apoio de 75%. Por outro lado, 72% se disseram contrários ao casamento entre pessoas do mesmo sexo, afirmando que a ideia de família é constituída pela relação entre homem e mulher.
Outros destaques da pesquisa foram a opinião de que vacinar os filhos é uma decisão pessoal (78% de concordância total ou parcial) e que leis ambientais têm de ser mais flexíveis para permitir o avanço do agronegócio (72%).(Metropoles)