O dólar teve leve alta nesta sexta-feira (23) apoiado por sinais ainda duros de bancos centrais globais no combate a inflação, com investidores considerando a possibilidade de novas altas de juros nos Estados Unidos neste ano. A moeda americana subiu 0,12% e terminou o dia cotada a R$ 4,777.
Apesar da alta, o dólar voltou a fechar a semana com desvalorização, caindo 0,9% desde a última sexta (16).
Já a Bolsa brasileira começou o dia em queda, mas fechou praticamente estável nesta sexta, a 118.977 pontos. Na semana, o Ibovespa acumula ganho de 0,78%.
Nesta semana, o presidente do Fed (Federal Reserve, o banco central americano), Jerome Powell, indicou em depoimento no Congresso americano que ainda há espaço para aumentos adicionais nos juros dos EUA neste ano.
Além disso, o Banco da Inglaterra aumentou as taxas de juros do país em 0,50 ponto percentual na quinta (22), numa alta maior do que o mercado previa, uma semana depois de o BCE (Banco Central Europeu) também ter promovido um aperto monetário.
Num cenário de aversão ao risco, o dólar registrou alta em relação a outras moedas fortes no exterior. O índice DXY, que mede o desempenho da moeda americana ante essas divisas, subiu 0,48%.
No Brasil, porém, a alta do dólar foi leve. A moeda segue cotada em seus menores patamares em mais de um ano e ainda tem espaço para quedas, apontam analistas. O Goldman Sachs, por exemplo, prevê que o dólar estará a R$ 4,40 no fim de 2023, ante R$ 4,85 em sua projeção anterior.
Isso porque mesmo com uma provável queda da Selic no segundo semestre, que teria efeito negativo para a moeda brasileira, os juros reais do Brasil ainda permaneceriam em níveis atrativos por conta das perspectivas de redução da inflação.
Além disso, a redução de juros pode impulsionar empresas da Bolsa brasileira e aumentar a atratividade da renda variável do país, trazendo recursos estrangeiros que também apoiariam o real.
Ajudam o ambiente econômico brasileiro, ainda, o avanço do arcabouço fiscal no Congresso e a perspectiva sobre a reforma tributária neste ano.
Vale lembrar que o Copom (Comitê de Política Monetária) manteve a Selic (taxa básica de juros) em 13,75% ao ano na quarta (21) e não deu sinalizações de corte para sua próxima reunião, marcada para agosto, o que auxilia a performance do real no curto prazo ao manter o diferencial de juros favorável ao Brasil.
No exterior, a aversão ao risco derrubou os índices de ações americanos. O Dow Jones, o S&P 500 e o Nasdaq caíram 0,65%, 0,77% e 1,01%, respectivamente.
Já a Bolsa brasileira permaneceu estável, pressionada por quedas das ações da Petrobras (4,10%), afetada pelo declínio do petróleo, e da Vale (1,01%), em meio às preocupações com o cenário externo.
Quedas de Yduqs (7,99%), que teve a maior perda do dia após sofrer corte de recomendação de compra pelo JPMorgan, Via (4,42%) e Minerva (4,41%) também puxaram o Ibovespa para baixo.
As ações do Assaí foram as mais negociadas da sessão e subiram 7,04% após uma operação de block trade (leilão em bloco de um grande volume de ações) de seus papéis que marcou a saída da rede francesa Casino de seu quadro de acionistas, realizada no início do pregão desta sexta.
A maior alta do dia ficou com a IRB Brasil (7,29%), que divulgou na quinta que reverteu seu prejuízo e registrou lucro líquido de R$ 6,1 milhões em abril.
Altas do setor de energia também apoiaram o índice, com a CPFL, a Energisa e a Equatorial subindo 6,24%, 5,99% e 5,40%, respectivamente. O Ministério de Minas e Energia autorizou na quinta a abertura de consulta púbica para o processo de prorrogação de concessões vincendas de distribuição de energia elétrica, que deve contemplar 20 distribuidoras com vencimentos entre 2025 e 2031.
O economista Alexsandro Nishimura, sócio da Nomos, destaca, ainda, que a Bolsa foi favorecida pela mudança na leitura do futuro da taxa de juros, com as curvas futuras caindo e indicando expectativas de corte da Selic em agosto.
Os mercados futuros tiveram queda significativa nesta sexta. Os contratos vencimento em janeiro de 2024 foram de 13,07% para 13,00%, enquanto os para 2025 saíram de 11,13% para 11,00%.
“Apesar do comunicado duro pós-reunião do Copom, há expectativa, inclusive, de que a ata da reunião possa amenizar os ânimos e trazer um aceno mais explícito à queda dos juros”, diz Nishimura. (BNews)