Economia brasileira só retoma tendência pré-pandemia a partir de 2025, calcula FGV

A verdadeira “recuperação em V” da economia brasileira só deve estar completa, em um cenário otimista, no final de 2025 / Foto: Ilustração

A verdadeira “recuperação em V” da economia brasileira só deve estar completa, em um cenário otimista, no final de 2025. Para que isso ocorra, no entanto, o país precisará praticamente dobrar a taxa de crescimento do período 2021-2022 a partir de 2023.

De acordo com cálculos realizados pela coordenadora do Boletim Macro do FGV Ibre, Silvia Matos, o último trimestre de 2025 é aquele em que a economia poderá voltar ao patamar em que estaria caso a tendência de crescimento verificada de 2017 a 2019 não tivesse sido interrompida pela pandemia do coronavírus.

Exercício semelhante feito pela OCDE, em seu relatório mais recente, mostrou que as economias dos países do G20 alcançarão o patamar que seria a tendência pré-pandemia no último trimestre de 2022. Para o conjunto dos países emergentes, essa recuperação não está no horizonte da entidade.

Atualmente, o PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil está no mesmo nível do final de 2019, mas se encontra cerca de 2% abaixo dessa tendência pré-crise. A diferença ainda vai se ampliar até o final de 2022, devido ao baixo crescimento esperado para o próximo ano, para só então começar a recuar.

“A gente fica comemorando voltar para o patamar pré-pandemia, mas não é só retornar ao que você estava em 2019. Tem de ser o ‘V’ que volta para a tendência”, afirma a economista. “Voltar à nossa mediocridade anterior, não dá para comemorar”.

O trabalho considera como tendência a continuidade de um crescimento médio trimestral de 0,45% (cerca de 1,8% anuais), o mesmo verificado no período de baixo crescimento após a recessão de 2014-2016.

Devido à pandemia, o país teve um crescimento médio de 0,1% desde o início de 2020, média que deve chegar a 0,2% até o final deste ano. Em 2022, a economia cresceria 0,4% por trimestre, ainda abaixo da tendência anterior, segundo a projeção do Ibre.

A partir de 2023, teria de acelerar para 0,7% em média (quase 3% anuais), para assim fechar a recuperação até 2025. A série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) mostra um desempenho médio de 0,6% de 1996 a 2019.

Silvia Matos afirma que essa é uma projeção otimista, mas não impossível de se concretizar. “A gente precisaria ter um cenário de novo governo, vida nova, página virada. Ou seja, com aquele entusiasmo: o câmbio se valoriza, entra recurso, tem agenda de reformas”, afirma.

“É um cenário otimista, que seria crescer 1,5% no ano que vem, fugir de um racionamento e conseguir um governo que promova uma aceleração do crescimento.”

A economista lembra que a média de crescimento de 2017 a 2019 já representava um desempenho econômico fraco e que não foi capaz de resolver o problema do alto desemprego gerado pela recessão anterior.

Ela também calculou qual a distância que o PIB brasileiro está da tendência de crescimento anterior à crise de 2014-2016. A diferença era de 18% no final de 2019 e atualmente está em 22%, patamar que deve se manter sem grandes alterações até 2025.

Isso representa uma diferença de cerca de R$ 1,5 trilhão no PIB do ano, considerando o total de R$ 7,4 trilhões apurados pelo IBGE em 2020.

TAXA DE DESEMPREGO DEVE CONTINUAR ALTA ATÉ 2026, DIZ FGV

Outro ponto destacado pela pesquisadora é que, ao contrário da maioria das grandes economias mundiais, o Brasil acumulou em quase uma década dois choques nos quais o retorno do PIB não foi acompanhado por uma volta do emprego aos patamares anteriores a essas crises.

O FGV Ibre estima que o desemprego estará em 12,7% no final de 2022, ainda acima do patamar do final de 2019 (11,6%).

“A gente olha a tendência do PIB, mas qual a cicatriz causada por isso? A maior cicatriz da pandemia está no mercado de trabalho. Estamos muito distantes de qualquer patamar razoável, abaixo de 10%, o que ainda não está no horizonte”.

No relatório da OCDE, a entidade traçou os maiores desafios econômicos para cada país. No caso brasileiro, a questão da recuperação do emprego foi apontada como mais importante do que a retomada do PIB. Segundo a entidade, o nível de ocupação está 5,8% abaixo do verificado no final de 2019, segundo pior percentual entre 13 economias selecionadas, atrás apenas dos 8,2% da África do Sul.

Na última carta do Ibre, o diretor da instituição, Luiz Guilherme Schymura, afirma que o desemprego alto pode persistir até 2026.

“A queda da taxa de desemprego para níveis próximos da média entre 1995 e 2019, de 9,7%, depende de uma aceleração muito forte da economia brasileira em relação ao padrão de crescimento recente”, afirma Schymura.

De acordo com os cálculos da instituição, para que a taxa de desemprego caia para 9,8% seria necessário um crescimento anual de 3,5% de 2023 a 2026.

Ele também lembra que a recuperação do mercado de trabalho atualmente tem sido liderada pelo setor informal e pelos empregos de pior qualidade.

São ocupações que geram uma renda menor, o que se reflete na massa salarial e, por sua vez, contribui para reduzir o consumo das famílias, também impactado pelo aumento da inflação.

Em 2020, com o auxílio emergencial, a massa ampliada, com rendimentos do trabalho e outros benefícios, alcançou o patamar de R$ 4,1 trilhões. Com a redução das medidas de estímulo, esse valor deve recuar 4,7% neste ano, uma perda de quase R$ 200 bilhões em relação ao ano anterior. Estará também 2% (cerca de R$ 80 bilhões) abaixo do patamar do fim de 2019.

Para 2022, a instituição projeta crescimento de 3,4%, zerando as perdas da pandemia, mas ainda cerca de R$ 60 bilhões distante do ano em que foi pago o auxílio emergencial com valor de até R$ 600.

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