Elas contam: Transavam sem vontade por violência psicológica dos parceiros

Violência psicológica é um dos motivos que fazem mulheres transar sem vontade / Imagem: iStock

O primeiro namoro da pedagoga Marcela Nunes, de 22 anos, acabou depois de muita pressão e violência psicológica. Ela tinha 17 anos e o namorado a pressionava muito para que rolasse. Quando ela se negava, ele dizia que Marcela “deveria se tratar, já que todo mundo gosta de transar”. “Eu sentia que tinha algo de errado comigo e, por isso, me forçava a fazer algo que não queria. Tinha medo de que ele terminasse o namoro, já que dizia o tempo todo que ninguém ia me querer e que a ex dele era muito melhor do que eu”.

“Eu cedia. Quando ele me penetrou pela primeira vez, doeu e sangrou muito. Ele não pensava no meu prazer, só no dele e nem se preocupava se eu estava com dor. Eu não me impunha, não pedia que ele parasse. Ficamos juntos por um ano e, em nenhum momento, transei com ele por vontade. Acreditava no que ele dizia, que eu era problemática. Um dia, estávamos transando, eu estava me sentindo triste, e ele parou no meio e disse: ‘Você não sabe fazer, você é um lixo, não quero mais esse relacionamento’. E terminou comigo”, conta Marcela. O psicólogo e especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, Alexandre Bez, explica que a forçação de barra, nos casos em que a mulher se sentindo triste, e ele parou no meio e disse: ‘Você não sabe fazer, você é um lixo, não quero mais esse relacionamento’. E terminou comigo”, conta Marcela.

O psicólogo e especialista em relacionamentos pela Universidade de Miami, Alexandre Bez, explica que a forçação de barra, nos casos em que a mulher se sente violentada, normalmente vem acompanhada de agressões psicológicas que, ao fim, reduzem a mulher. “Ela ouve tanto que não é merecedora de algo maior, que não é capaz de ter alguém que a respeite. Acaba achando que é normal ceder”, diz Bez.

Foi o que aconteceu com a advogada Maria Laura, de 30 anos. Ela passou dois anos em um relacionamento abusivo com uma mulher, em que o sexo muitas vezes acontecia sem que ela consentisse. “Quando eu dizia que não queria, ela falava que se eu não fizesse, faria com outra mulher. Virou uma ameaça. Cheguei a acordar durante a noite com ela transando comigo enquanto eu dormia. Ela já usou tanta força, que eu acordei sangrando”, conta.

Maria Laura diz que, às vezes, descobria que havia sido estuprada pela namorada no dia seguinte, quando acordava com dores na vagina. Apesar de se sentir violentada, ela continuou com o namoro. “Às vezes, eu cedia. Tinha medo que ela achasse que eu estava com outra, mas eu só não queria mais ficar com ela. Ainda assim, me sentia presa, achava que eu não era digna de alguém que me amasse e respeitasse”.

“Esse tipo de violência acaba com a autoestima de uma mulher e isso vira um círculo vicioso. Ela se sente tão descartável que acha que não pode abrir mão daquela pessoa”, explica Alexandre Bez. Ele diz, ainda, que não se importar com a vontade da mulher vem de uma estrutura machista que coloca o homem como a prioridade no sexo. “Então, muitos não se importam se a parceira está sentindo prazer. O que importa é o prazer deles”.

Com a secretária Lívia, de 25, a insistência pelo sexo vinha acompanhada de agressões físicas e psicológicas. Ao telefone, ela chora enquanto relembra os três meses de namoro, ao qual ela deu fim há mais de um ano. “Eu me sentia muito mal do lado dele, mas sempre ouvi que eu não era suficiente, que ninguém se interessaria por mim. Ele dizia isso. E eu tinha medo da rejeição, então fazia tudo o que ele queria, inclusive sexo”, diz.

Lívia conta que o namorado a ameaçava dizendo que se ela não fosse boa de cama, se não quisesse transar todos os dias, ele abriria mão dela. “Ele dizia que estava fazendo um favor ao namorar comigo. Eu era virgem. Ele forçava para me penetrar, eu sentia dor, chorava, mas me calava. Falava para mim mesma que eu tinha que aguentar aquilo e valorizar aquele homem”.

Foi durante uma conversa com uma amiga que Lívia descobriu que estava em um relacionamento em que não era respeitada. Ela, então, decidiu dar um fim. “Depois, descobri o feminismo e entendi que, mesmo sendo meu namorado, eu posso e devo dizer ‘não’ quando eu quiser. Na época, eu achava que tinha que fazer tudo o que ele queria, que isso era namoro”.

A sexóloga e terapeuta de casais Margareth Signorelli explica o limite da insistência na hora do sexo. Ela afirma que muitas mulheres, mesmo estando cansadas ou pensando em outra coisa, deixam o parceiro beijar, começar a pegação, e que, depois, começam a curtir.

“Ainda assim, se não tiver vontade, tem que parar imediatamente. E se o homem não reagir bem à informação de que ela não quer transar, significa que é hora de repensar o relacionamento. O sexo é uma troca”, afirma a terapeuta.

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