A China anunciou neste domingo, 25, que vai parar de publicar seus polêmicos dados sobre a Covid-19, muito criticadas pela defasagem a respeito da atual onda da epidemia que afeta o país. A Comissão Nacional de Saúde da China, que tem status de ministério, não publicará mais os números diários de casos e mortes pela doença como acontecia desde o início de 2020. A instituição não divulgou nenhuma explicação para a medida, mas os dados já não refletiam a onda de contágios sem precedentes que afeta a China desde 7 de dezembro, data em que o governo flexibilizou as severas medidas de saúde da política de “covid zero”. Antes, os exames PCR, que eram quase obrigatórios, permitiam monitorar com segurança a tendência da epidemia. Atualmente, as pessoas infectadas fazem testes em casa e normalmente não comunicam os resultados às autoridades, o que impossibilita a compilação de números confiáveis. “A partir de hoje, não publicaremos mais os dados diários sobre a epidemia”, afirmou a Comissão Nacional de Saúde.
A comissão acrescentou que o Centro Chinês para o Controle e a Prevenção de Doenças (CDC) publicará informações sobre a epidemia, para possibilitar referências e pesquisas, mas sem especificar quais dados serão divulgados ou a frequência dos balanços. Os chineses, que constataram a discrepância entre o nível de contágios e as estatísticas, receberam o anúncio com sarcasmo. “Finalmente acordaram e perceberam que não podem enganar as pessoas com números subestimados”, escreveu um cidadão na rede social Weibo. Outra pessoa comemorou a notícia ao afirmar que a comissão “era o maior escritório de fabricação de estatísticas falsas do país”. Outra controvérsia que desacreditou as estatísticas oficiais foi a nova metodologia imposta pelo governo: apenas as pessoas que morrem como vítimas diretas de insuficiência respiratória vinculada ao vírus são contabilizadas como óbitos por Covid-19.
Desde que as restrições foram suspensas no país, as autoridades chinesas notificaram apenas seis mortes em decorrência da infecção. Muitos funcionários de crematórios entrevistados nos últimos dias pela AFP relataram um aumento expressivo do número de cadáveres, uma situação que foi ignorada em grande medida pela imprensa chinesa. A metrópole de Guangzhou, com 19 milhões de habitantes, anunciou o adiamento das cerimônias fúnebres para “após 10 de janeiro”. “Se for decidido (pelas famílias) não organizar uma cerimônia de despedida, então o corpo pode ser cremado diretamente, como em tempos normais”, anunciou o governo da cidade em um comunicado. Uma versão anterior do comunicado citava “um volume significativo de atividade recente” para justificar a medida. A menção, no entanto, foi posteriormente retirada, porque as autoridades desejam passar a imagem de uma situação sob controle.
Muitos hospitais estão sob pressão devido ao aumento de pacientes com Covid-19 e a escassez de remédios contra febre. Alguns governos locais começaram a divulgar estimativas sobre a dimensão da epidemia. As autoridades de saúde de Zhejiang, ao sul de Xangai, indicaram que o número de contágios diários supera atualmente a barreira do milhão nesta província, que tem quase 65 milhões de habitantes. Em Qingdao, uma cidade de 10 milhões de habitantes no leste do país, meio milhão de pessoas são infectadas diariamente com a Covid-19, segundo uma autoridade local de saúde. Pequim notificou “um grande número de pessoas infectadas” no sábado, com um apelo para “fazer todo o possível” para melhorar a situação e reduzir a taxa de mortalidade. (JP)