O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, afirmou que a Ucrânia não se tornará um pais-membo da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Esta foi a admissão mais explícita do presidente ucraniano de que cederá à principal exigência de Moscou:
— Entendemos que a Ucrânia não se tornará membro da Otan. Entendemos isso, somos pessoas razoáveis. É uma verdade e precisa ser reconhecida — disse Zelensky em imagens transmitidas pela televisão. — Kiev precisa de novos formatos para interagir com o Ocidente e garantias de segurança separadas.
A Ucrânia já demonstrara estar disposta a aceitar alguma forma de neutralidade, o que significaria não fazer parte de alianças militares. Isto contraria um objetivo explícito da Constituição ucraniana, que estabelece a adesão à Otan como meta. Um país neutro pode ou não ser militarizado.
Além da não integração à Otan, a Rússia exige a desmilitarização da Ucrânia, ponto em que Kiev nunca demonstrou estar disposta a ceder. Pede também o reconhecimento da independência das repúblicas separatistas de Luhansk e Donetsk, no Leste da Ucrânia, além da admissão que a Península da Crimeia, que foi cedida à Ucrânia no período soviético e anexada por Moscou em 2014, é parte do território russo.
— Estou contente que nosso povo comece a compreender isso e possa contar só com suas próprias forças.
Perspectiva da guerra
Mais cedo, declarações de autoridades russas e ucranianas permitiram ver de relance como os dois lados antecipam a continuação do conflito, e até onde acreditam que ele irá se prolongar. Ambas as declarações jogam água fria na chance de um desfecho próximo, apesar de sinais de otimismo expressos por autoridades dos dois países no fim de semana e de haver uma nova rodada de conversas nesta terça-feira.
O Kremlin disse que é muito cedo para fazer previsões sobre os possíveis resultados das negociações entre a Rússia e a Ucrânia.
— O trabalho é árduo, e, na situação atual, o próprio fato de eles continuarem [as conversa] é provavelmente positivo — disse o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, a repórteres nesta terça-feira. — Não queremos dar previsões. Aguardamos resultados.
Já o conselheiro do chefe de gabinete do presidente ucraniano, Oleksiy Arestovich, foi mais minucioso em sua análise do conflito. Em seu entendimento, a guerra provavelmente não passará do início de maio, quando, ele acredita, a Rússia ficará sem recursos para manter seus ataques.
Em um vídeo publicado por vários meios de comunicação ucranianos, Arestovich disse que o momento exato depende da quantidade de recursos que o Kremlin se dispõe a investir na campanha.
— Acho que no mais tardar em maio, início de maio, devemos ter um acordo de paz. Talvez muito antes, veremos, estou falando das últimas datas possíveis — disse Arestovich.
As delegações fizeram uma nova reunião na segunda-feira, e há mais uma conversa nesta terça-feira, que começou por volta das 10h20 de Brasília. O negociador-chefe da Ucrânia, Mikhailo Podolyak, afirmou que “as negociações estão em andamento. Consultas na principal plataforma de negociação renovadas. Assuntos de regulamentação geral, cessar-fogo, retirada de tropas do território do país [estão na pauta]…”
Já Arestovich — que não é um dos negociadores — afirmou que “estamos em uma bifurcação na estrada agora”:
— Ou haverá um acordo de paz muito rapidamente, dentro de uma ou duas semanas, com retirada de tropas e tudo mais, ou haverá uma tentativa de juntar alguns, digamos, sírios para um segunda rodada. E, quando os triturarmos também, [haverá] um acordo em meados de abril ou final de abril.
Arestovich também citou “um cenário completamente louco” que envolveria a Rússia enviando novos recrutas após um mês de treinamento. A Rússia enfrenta escassez de soldados, após uma tática de invasões fulminantes não obter sucesso. O país anunciou que contratará mercenários com experiência na guerra da Síria para compor as suas fileiras.
Segundo ele, mesmo após um acordo de paz, pequenos confrontos táticos podem contnuar a acontecer por até um ano. A Ucrânia insiste na remoção completa das tropas russas de seu território, mas, durante as negociações, o Kremlin provavelmente reivindicará alguma espécie de controle ou de autonomia para os territórios de língua russa que ocupar durante a guerra.
As conversações entre Kiev e Moscou — nas quais Arestovich não está pessoalmente envolvido — produziram muito poucos resultados até agora, além de vários corredores humanitários saindo de cidades ucranianas sitiadas.
No final da semana passada, autoridades russas e ucranianas emitiram sinais de otimismo. A rodada de conversas da segunda-feira, que foi encerrada sem um grande anúncio, foi o quarto encontro oficial. As partes provavelmente mantêm também conversas de bastidores. O presidente da Ucrânia afirmou no fim de semana que a Rússia “parou de só emitir ultimatos e começou a ouvir” a sua posição. (Politica Livre)