Escrever à mão ajuda a aprender melhor

Foto: Márcio Costa/Arquivo Correio

Sabe aqueles ditados que são feitos em sala de aula para treinar a escrita e o uso do caderno de caligrafia que, até há algum tempo, eram uma das atividades escolares normais de crianças em idade escolar? Um artigo publicado no The Journal of Learning Disabilities (Jornal sobre deficiências de aprendizagem, em tradução livre) mostrou que a escrita e seu treino ajudam no desenvolvimento infantil, especialmente no que se refere ao aprimoramento da função executiva, como planejar, ter atenção, além do fato de que quem treina a escrita consegue escrever e ler melhor. Num mundo que em que as pessoas valorizam mais a escrita digital, o alerta pode ajudar pais e professores a estimularem o velho e bom hábito de escrever à mão. Vale salientar que a promoção de oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos é uma das metas da Organização das Nações Unidas para o desenvolvimento sustentável no mundo. 

De acordo com o coordenador do curso de Licenciatura em Pedagogia da UNIFACs, Antonio Gouveia, a despeito de no mundo atual a escrita digital ter se tornado uma necessidade, é preciso não esquecer que o processo de desenhar a letra (a escrita manual) estimula áreas específicas do cérebro. “Escrever não é um ato meramente mecânico, na verdade, a atividade estimula um processo neurocognitivo, especialmente nas crianças”, esclarece.Para ele, não se trata de abominar a escrita digital, mas de não se esquecer de estimular as duas formas de escrita, especialmente entre os pequenos, que precisam desse exercício para o desenvolvimento fisiológico. “A escrita manual termina auxiliando no desenvolvimento de outras habilidades e competências, como a coordenação motora fina, que possibilita o desenvolvimento de habilidades manuais, facilita a memorização, possibilitando experiências sensórias diversas”, completa.

Com uma postura parecida, a psicopedagoga Nadja Pinho, da Clínica Holiste, chama atenção que além da escrita, as crianças precisam desenhar, riscar, rabiscar. “A criança começa a escrever pensando no desenho. Então, o uso do tablet não elimina a necessidade do risco ou do rabisco, do desenho, por isso o problema estaria em a criança utilizar exclusivamente o tablet ou o celular”. 

Individualidades

A especialista salienta a importância de se compreender que as pessoas são diferentes e cada uma possui formas variadas de memorização e aprendizagem. “Fotografar e não copiar, não é um problema tão grande, mas a criança precisa compreender o que está aprendendo em sala de aula, e se essa compreensão ocorrer pela fotografia, não tem problema”, afirma. 

Nadja ressalta que existem crianças que aprendem de forma visual, outras auditivas e outras sinestésicas, sempre vivendo a experiência. “A depender da forma que essa criança aprenda, isso não tem danos. A questão é se isso se exacerba. Uma forma de aprendizado não deve simplesmente substituir a outra”, diz.

Antonio Gouveia pontua ainda que muitas vezes a fotografia feita, via celular, da lousa termina não sendo usada para nada. “Os estudantes pré vestibulandos ou aqueles que se dedicam aos concursos bem reconhecem a importância das anotações para compreensão e memorização”, diz o educador.

A psicopedagoga pontua, ainda, que para valorizar o aprendizado, o primeiro aspecto a ser investido é em ma rotina adequada, com tempo estipulado para uso do celular ou tablet e eletrônicos de uma forma geral, e que contemple momento de descanso, de estudo, de lazer, de atividades físicas, domésticas, com todas as formas de estímulo: motor, intelectual, de descanso. Tudo para que a criança possa realmente estar sendo inserida em um processo de desenvolvimento.

“Esses estímulos devem ser feitos conforme cada faixa etária, mas pensando que estamos trabalhando com desenvolvimento humano. Então, é necessário estimular de acordo com as demandas e necessidades da criança”, afirma. 

Estímulos

Antonio Gouveia ressalta que a tecnologia não deve ser vista como uma vilã, nem na escola e nem em casa. “A tecnologia está em nossa cultura e deve ser vista como um estimulante. É preciso incorporar a tecnologia ao cotidiano de maneira lúdica e divertida. Então, porque não estimular que a criança veja e aprenda por meio de blogs responsáveis, que façam transcrições e escrevam experiências vividas”, sugere. “Por que não brincar de mandar bilhetes, de escrever cartas. As crianças podem ser estimuladas a escrever à partir de um conteúdo digital”, sugere.

Com uma postura bem próxima, Nadja salienta que o estímulo à leitura e à escrita pode ser alcançado pelo exemplo. “Eu penso que precisamos ver a leitura de uma forma mais criativa, construtiva, que realmente empolgue e traga uma clareza para aquela leitura”, reflete, pontuando que, muitas vezes, a leitura e a escrita são solicitadas da criança, mas ela não tem o exemplo em casa ou na escola.  “Ás vezes a criança tem um ou dois livros por ano para ler e isso pode ocorrer de uma forma muito mecânica, pedindo apenas que a criança leia e diga o que entendeu do texto, faça uma avaliação, sem se vivenciar esse conteúdo e isso não é estimulante”, finaliza a psicopedagoga. (Correio)

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