Fadados ao descaso sob a incerteza de dias melhores, abandonados propositalmente ou perdidos, animais que que vivem nos arredores da Universidade Federal da Bahia encontram na instituição o que pode ser o pior dos tratamentos.
A instituição, que tem cursos voltados à fauna e à flora, é acusada por um grupo de voluntárias de, não somente prestar atendimento deficiente aos animais, como abandonar e até exterminar cães, gatos e outros bichos.
Vale frisar que animais comunitários são aqueles que vivem na comunidade que corresponde às áreas da UFBa, quer seja no espaço interno ou externo, onde vários podem ser encontrados.
As próprias voluntárias produziram um dossiê com animais vítimas de maus tratos dentro e fora da universidade. Há inclusive casos de cães e gatos envenenados por chumbinho e outros estuprados dentro da própria instituição. O VN teve acesso a todas as imagens, que não serão exibidas para preservar o leitor. Os casos nunca foram elucidados.
“Os animais têm sido expulsos, abandonados a própria sorte e exterminados dentro dos campi UFBA. Muitos são constantemente envenenados, e o órgão competente, que mesmo com laudo da necropsia de causa mortis expedido pelo próprio Hospital Veterinário da UFBA, pelo setor da Patologia, por envenenamento com substancia altamente toxica como chumbinho, nunca deu uma justificativa a sociedade dessas mortes, e mesmo com a Pandemia continuam a matança”.
No documento, os profissionais e voluntários mostram ainda uma gata, a Batata, que teve a perna fraturada por chutes dentro da UFBA. Ela já passou por três cirurgias e por um ano de tratamento e fisioterapia custeados por voluntários.
Segundo o grupo, a situação já era crítica antes da pandemia, mas piorou após a crise sanitária. Uma das voluntárias, que preferiu não se identificar, pontua que o discurso do reitor da universidade é incompatível com as ações da instituição. Segundo ela, funcionários e seguranças são proibidos de prestar qualquer simples ajuda, inclusive uma troca de água.
“Tudo se agravou, logicamente, com a pandemia. O órgão responsável deu continuidade a seus compromissos, mas sempre deixando separado a fauna local e sempre exaltando a flora com debates, lives com até mesmo a presença do reitor Salles”.CONTINUA APÓS A PUBLICIDADE
Além do reitor, o grupo critica a própria Coordenação de Meio Ambiente (CMA) da UFBA, listando eventos realizados, promessas feitas, mas não praticadas. “A CMA tem estagiários que nunca saem a campo em busca de animais doentes. Dinheiro pago pela sociedade a um orgão não atuante”.
Muitos animais estão há anos nos campi da UFBA pois foram abandonados, envelheceram e assistiram as chances de adoção chegarem a perto de zero. A falta de vacinação contra hepatite levou à morte um cão, que teve o corpo estirado em um papelão.
Durante a produção da matéria, o VN conversou com uma professora de medicina veterinária da UFBA. Ela relatou que faz trabalho voluntário por conta própria fora da universidade e afirma que, mesmo lá lecionando há dez anos, nunca viu o trabalho com os animais.
Ela relatou que tudo que faz é por conta própria, retirando verba do próprio bolso, para não deixar ao léu os animais -e plantas- que não podem esperar por procedimentos burocráticos.
Em anos anteriores, a questão dos animais comunitários da UFBA esteve em pauta em debates públicos realizados pela própria UFBA.
Desde o final de dezembro de 2020 o VN tenta encontrar quem responda pelas denúncias. O Ministério da Educação afirmou que o caso refere-se à questão de Crime Ambiental e não seria responsabilidade do ógrão.
Além da Universidade Federal da Bahia, foram acionados a Coordenação de Meio Ambiente, a Superintendência de Meio Ambiente e Infraestrutura (SUMAI). Além das assessorias, houve diversas tentativas com os contatos particulares de representantes dos citados. Entretanto, ninguém enviou uma nota sequer. (Varela)