O futebol europeu vem sofrendo com casos recorrentes de injúria racial. Os incidentes mais recentes envolvem atletas que atuam na Itália. Na última quarta-feira, o atacante Romelu Lukaku, da Inter de Milão, foi alvo de cânticos racistas de torcedores do Slavia Praga, na República Checa, em jogo da Liga dos Campeões. No início do mês, o atacante Mario Balotelli havia sofrido fato semelhante em partida do torneio nacional. Lukaku pediu providências. “Espero que a Uefa faça alguma coisa porque o estádio inteiro se comportou daquela forma”, declarou o belga.
Nesse contexto, os 20 clubes da primeira divisão italiana do país divulgaram carta aberta na sexta-feira, reconhecendo o problema. “Não temos tempo a perder”, diz trecho do documento.
O Observatório da Discriminação Racial registrou 13 casos envolvendo atletas brasileiros na Europa. Em um deles, os brasileiros Taison e Dentinho foram alvo de ofensas racistas no Campeonato Ucraniano entre Shakhtar Donetsk e Dínamo de Kiev, em 10 de novembro. Taison reagiu aos cânticos racistas gesticulando e chutando a bola em direção aos torcedores rivais. Acabou expulso do jogo, que chegou a ser paralisado pelo árbitro por cerca de cinco minutos. O jogador foi suspenso por uma partida.
Para o sociólogo Rogério Baptistini, da Universidade Mackenzie, a Europa apresenta um contexto diferente em relação ao racismo. “A questão gira em torno do nacionalismo mais primitivo do século XIX que se manifesta pela cor da pele, mas não só por essa questão”, explica o professor. “Nos países do Leste Europeu, o futebol é um sinal de identidade nacional.
Com a queda do Muro de Berlim, o fim da União Soviética, nos anos 1989-1990, nós temos uma precarização da vida. Diante disso, existe uma afirmação de identidade como se fosse uma defesa em relação aos outros, vistos como inimigos. Os outros são imigrantes, aqueles que se dão bem em alguma esfera da vida, como o futebol. O futebol passa a marcar uma identidade que está ameaçada. São situações ligadas ao nacionalismo”, completa. (Isto é)