A irmã do cabeleireiro Rauan Moreira, de 29 anos, que foi agredido dentro de casa com pedradas e facadas, em Salvador, disse que foi avisada do crime, por telefone, por um amigo do rapaz.
“O celular tocou e, quando eu vi que era o amigo do meu irmão, eu resolvi atender e ele já me disse logo que meu irmão estava no HGE [Hospital Geral do Estado] e que tinha sofrido um assalto. Ele também não sabia praticamente o que havia acontecido”, lembrou Naiara.
Ela disse que acredita que o irmão foi vítima do crime de homofobia.
“Foi alguém que já foi com ódio no coração por ele ser homossexual e pra poder tentar acabar com a vida do meu irmão ‘, disse Naiara.
Por enquanto, a Polícia Civil investiga o caso como assalto, e informou que, até agora, não vê indícios de motivação homofóbica para o caso.
Naiara contou que esteve na cena do crime, um apartamento revirado e que tinha muitas manchas de sangue na parede, uma faca e e até pedras que podem ter sido usadas nas agressões contra Rauan. O celular e a moto do rapaz foram levados, mas um mistério sobre uma mochila que ele usava para guardar coisas importantes intriga a irmã do cabeleireiro.
“Tivemos na cena do crime, na terça, dia em que houve o acontecimento com meu irmão. A mochila aonde ele guardava tudo, a mochila que estava sempre com ele, não se encontrava no local. Na quarta-feira, quando eu fui com a perícia, à noite, essa mochila já se encontrava no local. Quer dizer, alguém tinha levado e voltou com essa mochila novamente para a cena do crime”, relatou Naiara.
Rauan foi atingida por duas facadas nas costas e levou várias pancadas na cabeça. A família disse que ele teve todos os ossos do rosto quebrados e o boletim médico apontou sequelas em uma parte importante do cérebro.
Agora, tudo que a família quer é que ele se recupere e que o crime seja desvendado, e os autores sejam responsabilizados.
“Não vou dizer nem pelo bem material porque o bem material a gente conquista, mas, sim, pela pela vida do meu irmão. Eu quero que justiça seja feita pela vida dele”, disse a irmã de Rauan.
A Secretaria de Justiça, Direitos Humanos e Desenvolvimento Social da Bahia (SJDHDS) divulgou uma nota de repúdio sobre o caso. Nela, o órgão conta que a coordenação LGBT da Superintendência de Direitos Humanos está em contato com a família por meia da irmã da vítima.
A secretaria informou que acompanha a família e colocou a equipe à disposição para dar auxílio neste momento. A SJDHDS também está em contato com a Superintendência de Prevenção à Violência da Secretaria de Segurança Pública da Bahia (SSP-BA) e com o gabinete do delegado geral para acompanhar o caso, além de ter mantido contato com a 3ª Delegacia do Bonfim.
A SJDHDS ressaltou que desde junho de 2019, por decisão do Supremo Tribunal Federal, homofobia e transfobia são considerados crimes. Os ministros do Supremo determinaram que a conduta passe a ser punida pela Lei de Racismo (7716/89), que hoje prevê crimes de discriminação ou preconceito.
Polícia investiga crime
O crime aconteceu na madrugada de terça-feira (20), na casa onde Rauan mora sozinho, no bairro Vila Ruy Barbosa, em Salvador.
Conforme informações da polícia, dois suspeitos de cometerem o crime, que ainda não foram identificados, roubaram um celular, uma quantia em dinheiro e a moto da vítima. O caso é investigado pela 3ª Delegacia de Bonfim.
Os vizinhos dele ouviram muitos gritos durante o ocorrido. Segundo a vizinhança, não foi a primeira vez que os dois suspeitos estiveram no local.
Rauan já foi modelo fotográfico, pousou em revistas e participou de comerciais. A família disse que ele sempre teve talento pra cuidar de cabelo, maquiagem, trabalhou em salão de beleza, mas ficou desempregado durante a pandemia da Covid-19 e estava decidido a ir morar em Portugal.
Os planos e preparativos para a viagem, que envolviam uma estadia em São Paulo, foram interrompidos pelo crime brutal. (G1/Ba)