Há apenas 11 dias no cargo, o CEO da Americanas, uma das maiores varejistas do Brasil, renunciou ao cargo nesta quarta-feira (11) à noite, depois de ter descoberto uma “inconsistência” registrada no balanço da companhia da ordem de R$ 20 bilhões , conforme informado a coluna Capital, do GLOBO.
Mas o que aconteceu com esses R$ 20 bilhões? Qual é essa “inconsistência”? Afinal, a cifra é independente. Para ter essa ideia, no último balanço financeiro da Americanas, de setembro, a empresa informou ter R$ 47 bilhões em ativos e patrimônio líquido de R$ 14 bilhões.
O comunicado enviado pela empresa ao mercado não deixa claro o que aconteceu. Mas fontes ouvidas pela agência de notícias Bloomberg afirmam que muito provavelmente os R$ 20 bilhões são originários de uma operação conhecida no jargão financeiro como forfait, muito comum em empresas de varejo, e que deveriam ter sido registrados como dívida no balanço contábil.
O forfait funciona da seguinte maneira: a companhia tem uma dívida a pagar, por exemplo, com a compra de mercadorias. E faz um acordo com o banco que a financiou para que este libere o dinheiro primeiro para o fornecedor. Então, na sequência, um varejista quita a dívida com o banco pagando juros pelo prazo do empréstimo.
É uma maneira de o banco financiar a cadeia de suprimentos da empresa, com um varejista na prática injetando recursos em dinheiro na caixa de seus fornecedores.
“O problema é que tudo indica que esse valor (em forfait) foi subestimado por anos, o não foi lançado de maneira correta no balanço contábil. E ainda há dúvidas sobre o tamanho real desse problema”, disse um gestor que prefere não se identificar.
Ter lançado os R$ 20 bilhões de maneira intermitente no balanço financeiro pode não representar um impacto direto na reserva de caixa da empresa. Significa dizer que o valor da dívida apenas “migraria” de uma linha contábil para outra.
Mas efeitos em cascata podem acontecer. Deixar claro o valor em forfait pode mudar os parâmetros de endividamento da empresa e, consequentemente, as informações que um varejista apresentou ao obter crédito no mercado, como chamadas convênios, ou garantias. Isso pode ser o gatilho para que os credores demandem uma antecipação no pagamento de dívidas.
Logo após assumir a carga, no último dia 3 de janeiro, Rial fez uma live com 40 mil funcionários da empresa e reforçou seu ânimo com o novo emprego e suas expectativas positivas para a companhia.
Para além dos R$ 20 bilhões a esclarecer, a saída de Rial e do diretor-financeiro da empresa, André Covre, que chegou ao cargo também este ano, será um duro golpe para a Americanas. Só este ano, as ações da companhia subiram 32% na expectativa de que a nova gestão daria uma guinada na empresa. Investidores de peso, como Blackrock, compraram ações da Americanas nessa onda de otimismo.
Por isso, a renúncia de Rial e o problema de R$ 20 bilhões que vieram à tona agora devem cair como uma bomba no mercado. (BNews)